Vinicius Junior perde o prêmio de melhor jogador do mundo pela luta racial

Por não se calar diante da apatia das entidades europeias sobre o racismo, atleta brasileiro parece ter sido punido e perde o Ballon d'Or

28 out 2024 - 19h20
O clube tá em uma tentativa de fazer que a perseguição ao Vini Jr. seja camuflada e que isso se torne uma perseguição ao clube
O clube tá em uma tentativa de fazer que a perseguição ao Vini Jr. seja camuflada e que isso se torne uma perseguição ao clube
Foto: Getty Images

Eu gosto de futebol, tá? Quando Vinicius Junior apareceu, eu comprei muita briga por ele por conta de comentários maldosos a seu respeito. Na época, muitas pessoas da minha bolha futebolística atacavam ele, que tinha apenas 17 anos, por oscilar muito nos jogos pelo Flamengo. O que é normal quando jogadores com menos de 21 anos começam a jogar no profissional.

Quando Vini foi vendido para o Real Madrid por centenas de milhões de reais, os ataques a ele cresceram muito mais. Até jornalistas que eu gosto muito como o André Rizek falou asneira sobre ele. Foi nessa época, salvo engano, que colocaram o apelido dele de neguebinha. Negueba, para quem não sabe, ou não lembra, era um outro jogador preto do Flamengo que não atendeu a expectativa da galera da bola.

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Quando pontuo que já sentia o racismo aí, não quer dizer que as pessoas tinham o racismo escancarado como os dos espanhóis, mas as cobranças, o jeito de fazer chacota e as cobranças já batiam de maneira errada em mim. As comparações eram tão bobas que vários jogadores brancos foram alçados como melhores do que ele naquela época e nenhum chegou a metade do que ele é. Nomes como Felipe Vizeu, Lucas Paqueta e Reinier (esse demorei 20 minutos para lembrar o nome).

Eu to escrevendo isso antes de o vencedor ser anunciado, mas já vazou que o vencedor seria o Rodri, um espanhol (coincidência) que nem para a Eurocopa foi, para muitos jornalistas, o melhor da competição. Para muitos entendidos de futebol quem merecia ter ganhado era o Yamal, jogador espanhol, que é negro e a UEFA não deu o titulo de melhor jogador da Euro para ele. Já na champions league, que é o campeonato de clubes que mais conta para o prêmio de melhor do mundo, o clube do Rodri foi eliminado pelo Real Madrid. Rodri jogou bem, não há duvida, mas não a ponto de ganhar do Vini Jr., e há quem diga que ele ficou também atrás do Bellingham, outro jogador negro do Real.

Como disse o vencedor do prêmio vazou, e a certeza que é verdade é tão grande que o próprio Real Madrid boicotou o evento e cancelou a ida e de qualquer membro da equipe. Dizem que tinha um avião preparado para levar o time para França, mas cancelaram. Mas eu não me engano com isso. O Real, e muitos membros do time, sempre mitigaram as denúncias que Vini fazia sobre os ataques racistas, logo, ao meu ver, o clube tá em uma tentativa de fazer que a perseguição ao Vini Jr. seja camuflada e que isso se torne uma perseguição ao clube. Com isso, o clube sai de coitadinho enquanto minimiza a questão racial que coroa o futebol espanhol e que de uma forma ou de outra prejudica o campeonato nacional que o próprio real é o grande vencedor.

Vini Jr. é outro nível de cabeça. Desde quando estreou pelo Flamengo é perseguido, chegou na espanha e os próprios colegas do time desmereceram ele, vários casos de racismo escancarados, chacota sobre seu estilo de jogo, passagem de pano do Ancelotti, técnico do Real madrid, diante da indignação do Vini e nada disso abalou o cara a ponto dele passar por períodos com a cabeça ruim e jogando mal. Sem dúvidas, uma das melhores cabeças que já pisaram no campo de futebol.

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Perder esse prêmio pode não ter sido surpresa para o Vini. Ele sabia que esfregar o racismo espanhol na cara da mídia iria causar revolta dos racistas que comandam o futebol Europeu. Eles tentaram dizer que fazia parte do futebol a zoeira, diziam que Vini supervalorizava as ofensas, que ele queria mídia e coisas bem piores. A sensação que fica para mim, é que há uma atmosfera nessa bolha das grandes federações de futebol que visam apagar a questão racial. O medo que isso ganhe força e que jogadores comecem a abandonar o campo quando fossem vítimas de racismo, medo de ter que punir torcedores que deixam dinheiro nos estádios e medo de escancarar o racismo e a xenofobia dos europeus que fatalmente acabam refletindo no futebol.

O racismo tira da gente quando aceitamos calado e tira da gente quando o enfrentamos. A sensação que fica é que os organizadores do prêmio estavam com medo do melhor jogador do mundo subisse no palco e denunciasse o racismo Europeu. Uma forma de silenciar o atleta, enquanto combatente racial e desmerecer ele também enquanto jogador de futebol. Seria marcante termos um melhor jogador do mundo que combatesse o racismo. Ele seria exemplo. E esse é outro medo dessas confederações. Fica provado que o racismo sofrido por Vini não é apenas uma questão de torcida, é toda uma engrenagem que tem no pessoal de terno e caneta fortes aliados. Só espero que Vini Jr. consiga resistir a mais essa, porque muito provavelmente perder esse prêmio dará mais força aos racistas, e que faça mais e mais racistas passarem raiva dentro e fora de campo.

Fonte: Luã Andrade Luã Andrade é criador de conteúdo digital na página do Instagram @escurecendofatos. Formado em comunicação social e membro da APNB. Luã discute questões étnico raciais há dez anos e acredita que o racismo deva ser debatido em todas as esferas da sociedade.
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