“Minha mãe vem chorando no carro”, diz irmã de quilombola desaparecida há 1 ano

A jovem foi vista pela última vez com o ex-marido, com quem manteve um relacionamento marcado por brigas e agressões

9 out 2025 - 04h59
Resumo
O ex-companheiro é o único suspeito preso preventivamente desde dezembro de 2024. Ele não revelou nenhuma informação sobre o paradeiro do corpo. O desaparecimento de Tainara dos Santos ocorreu na véspera do Dia Nacional de Luta contra a Violência à Mulher, lembrado em 10 de outubro.
Familiares, amigos e ativistas em frente à Câmara Municipal de Cachoeira (BA) para exigir respostas sobre o desaparecimento de Tainara dos Santos.
Familiares, amigos e ativistas em frente à Câmara Municipal de Cachoeira (BA) para exigir respostas sobre o desaparecimento de Tainara dos Santos.
Foto: Divulgação

No dia 9 de outubro de 2025, completa-se um ano do desaparecimento de Tainara dos Santos, jovem negra, quilombola, mãe de duas crianças e trancista da comunidade de Acutinga Montecho, em Cachoeira (BA). Para marcar a data, familiares, organizações de mulheres negras, coletivos quilombolas e integrantes da comunidade acadêmica farão uma aula pública na Câmara Municipal de Cachoeira.

Aos 27 anos, Tainara foi vista pela última vez em uma lan house, na companhia de homens desconhecidos, e depois em uma praça com o ex-marido, George Anderson Santos. O relacionamento, que durou seis anos, foi marcado por agressões e episódios de violência. Poucos meses antes do desaparecimento, ela havia procurado a polícia para denunciar o ex-companheiro.

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Itamara Santos, irmã da jovem, destaca que um ano após o caso a dor é presença constante na vida da família.  “Está sendo muito difícil chegar a um ano sem minha irmã, tem sido muito doloroso. Mesmo assim, estamos tentando criar forças, fazendo terapia, nos apoiando umas nas outras. A cada vez que minha mãe precisa refazer o percurso até nossa comunidade, ela vem chorando no carro porque se lembra de Tainara. O sofrimento é imenso, mas não podemos deixar esse caso ser esquecido.”

A família espera que a data do julgamento seja marcada e tem pressionado autoridades com ato públicos na Bahia.
Foto: Divulgação

No dia do desaparecimento, testemunhas relataram que George fez diferentes percursos com Tainara em seu carro. Ele afirmou à família que a deixou em um posto de gasolina na região de Cachoeira conhecida como “KM 25”. Depois dessa versão, o principal suspeito do feminicídio da jovem quilombola apresentou outras duas versões à polícia. Até hoje, Tainara não foi encontrada.

Vítima quilombola tinha medida protetiva

Em março deste ano, foi realizada a audiência de instrução e julgamento do caso, além de atos públicos que representaram mais um passo na luta por justiça por Tainara. Até o momento, não há definição sobre a data do júri, e a angústia da família permanece intensa, reforçando a urgência de respostas. George está preso desde o desaparecimento da jovem e segue sob custódia.

A advogada Laina Crisóstomo, da organização Tamo Juntas, que atua como assistente de acusação no caso junto ao Ministério Público, ressalta que o feminicídio de Tainara evidencia como a violência contra as mulheres é atravessada por fatores estruturais e pela omissão das instituições. Segundo ela, o caso expõe não apenas falhas na proteção — já que a vítima tinha uma medida protetiva de urgência desrespeitada —, mas também o padrão de violências reiteradas que culminaram no crime.

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Tainara era mãe, trancista e filha. A ausência do corpo impediu até mesmo o direito à despedida.
Foto: Divulgação

O caso de Tainara não é isolado, é parte de uma violência que tem atingido diversas mulheres, mas carrega um requinte de crueldade muito específico: o assassinato de uma mulher que era mãe, trancista, filha e cuja ausência do corpo impediu até mesmo o direito à despedida. Foi um crime com muitas qualificadoras, resultado de reiteradas violências, sendo o feminicídio o ápice delas”, afirma Laina.

Joyce Souza, coordenadora dos projetos de enfrentamento às violências de gênero e raça do Instituto Odara, destaca que a aula pública é “imprescindível para pressionar o Judiciário a dar uma resposta que minimize a angústia de suas filhas, familiares e comunidade, e também para fortalecer a formação e disseminação de conhecimento sobre as violências contra as mulheres e o papel de cada agente: sociedade civil, família, comunidade e Estado, na prevenção e no enfrentamento.”

Serviço:

Aula Pública Contra o Machismo e o Feminicídio: 1 ano sem Tainara dos Santos

Câmara Municipal de Cachoeira (BA)

09 de outubro de 2025, a partir das 9h

Inscrições AQUI

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Fonte: Visão do Corre
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