Fofão: "a gente precisa estar com nossa carinha preta ali"

Ex-levantadora ressalta luta contra o racismo e impacto da geração de 90 para as conquistas no vôlei feminino brasileiro

23 jun 2022 - 16h00

Hélia Rogério de Souza Pinto é uma das atletas olímpicas mais importantes do Brasil, dona de três medalhas em Jogos. Mas por esse nome é bastante provável que você não saiba de quem estamos falando. Hélia é mais conhecida como Fofão, a jogadora mais vitoriosa do vôlei brasileiro e levantadora de referência para muitas gerações, e foi a entrevistada do Papo de Mina em live especial do Dia da Atleta Olímpica, comemorado neste 23 de junho.

Fofão é a atleta mais vitoriosa do vôlei brasileiro, com três medalhas olímpicas
Fofão é a atleta mais vitoriosa do vôlei brasileiro, com três medalhas olímpicas
Foto: Divulgação/CBV

A relação de Fofão com as Olimpíadas começou em Barcelona-1992, coincidindo com a primeira vez que o Brasil se classificou para a competição, um marco para a modalidade. Anteriormente, a equipe feminina de vôlei era convidada a participar dos Jogos.

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Quatro anos mais tarde, em Atlanta-1996, já veio a primeira medalha, de bronze, que também foi repetida na edição seguinte, em Sydney-2000. Fofão ainda marcou presença em Atenas-2004 e em Pequim-2008, chegando ao recorde de cinco Olimpíadas consecutivas. Para coroar a despedida, o inédito ouro veio na China. 

Além de todas as conquistas, Fofão tem papel fundamental em uma geração que alavancou o vôlei feminino no mundo. "Elas (as jogadoras) entravam dentro de quadra e se transformavam, faziam aquilo com muita paixão, talvez não era uma geração que tenha tido os melhores salários, a melhor estrutura, mas a gente sabia que dependia muito do que a gente fizesse dentro de quadra. Então a gente sempre lutou para ter condições boas e isso foi um diferencial daquela geração, porque eu vejo que as atletas colhem muito o que foi plantado com essa geração", reforçou a ex-levantadora.

E um dos grandes responsáveis pela carreira vitoriosa de Fofão é o atual técnico da Seleção Brasileira Feminina, José Roberto Guimarães. Colegas de função, Fofão afirmou que o treinador foi primordial para seu crescimento e ascensão na modalidade, ajudando-a a se tornar uma das melhores levantadoras do mundo.

Fofão e José Roberto Guimarães foram alguns dos melhores levantadores do mundo
Foto: Divulgação

Adepta do clichê “panela velha é que faz comida boa”, a ex-jogadora garante que os anos mais fáceis em quadra foram os últimos, a medida em que foi envelhecendo. Para ela, a maturidade, o conhecimento do corpo e a experiência foram muito importantes para que em seu último ano na Olimpíada chegasse à "perfeição".

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Depois de 30 anos dedicados ao vôlei, a aposentadoria não seria suficiente para separar essa dupla. Fofão foi convidada para trabalhar na coordenação técnica da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), e usa as próprias redes sociais para levar dicas e informações sobre o voleibol.

Um arrependimento, porém, faz parte da carreira: não ter se preparado para a vida após deixar as quadras. "O atleta precisa ter um pós-carreira, ele precisa pensar, precisa economizar, guardar seu dinheirinho, para que essa realidade não seja tão assustadora quando chega o momento”, pontuou.

ORGULHO DA COR

Além de ser referência nas quadras, Fofão também foi uma das precursoras na luta contra o racismo, e quer inspirar mais pessoas a acreditarem em seu potencial trazendo sua história como exemplo.

"A gente precisa realmente estar com nosso rostinho, nossa carinha preta ali, para as pessoas verem 'caramba, olha onde ela chegou. Foi capitã de uma Seleção Brasileira vitoriosa'. Então é quebrar essas barreiras e se eu puder modificar esse pensamento desses jovens que estão tentando, eu já ganho o dia, já ganho uma medalha de ouro porque o objetivo é esse”, diz.

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Fofão sempre foi reconhecida pelas outras companheiras como referência no esporte
Foto: Divulgação/COB

Sem esquecer das origens, Fofão tem planos de continuar as aulas online, se dedicar a novos estudos e ações sociais que vai realizar na zona sul de São Paulo e no bairro em que nasceu, o Lauzane. 

"Eu acho que a gente conquista nosso espaço através do respeito, pela educação. Então isso pra mim que era uma motivação muito grande, saber que eu não estava ali só pela Fofão, só pela Hélia, mas pelas criancinhas lá da zona norte do Lauzane, que às vezes nem sabe que eu vim de lá. Isso motiva e dá mais energia  pra você chegar lá como capitã e levantar aquela taça, mostrando a força da nossa raça”, finalizou.

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