Como Super Mario quase acabou com os games em Hollywood

Lançado em 1993, filme de Super Mario Bros. é lembrado como uma das piores adaptações de games de todos os tempos

5 ago 2022 - 09h15
Foto: Divulgação

Sonic: O Filme é a prova mais recente que sim, é possível fazer bons filmes blockbusters (produções de grandes orçamentos que alcançam enorme popularidade e lucro financeiro) baseados em games.

Desde que a indústria cinematográfica decidiu investir em adaptações baseadas em games lá na longinqua década de 1990, os fãs acompanharam uma longa jornada de decepções, e algumas poucas alegrias é verdade.

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Foram muitas décadas de sofrência, e tudo começou com um filme: a infame adaptação live-action de Super Mario Bros., que chegou aos cinemas em 1993.

Confira aqui com Game On mais detalhes sobre o filme de Super Mario Bros., conhecido como uma das piores adaptações de games de todos os tempos.

Surge a Ideia do Filme

O cineasta Roland Joffé foi quem surgiu com a ideia de um filme de Super Mario Bros.
Foto: Divulgação

A franquia Super Mario Bros. já era uma máquina de fazer dinheiro nas décadas de 1980/1990 e não demorou muito para chamar a atenção de Hollywood, que viu ali uma oportunidade de aproveitar um nicho emergente (os videogames) e garantir os próximos sucessos nas telonas e claro, encher os bolsos com mais grana.

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A sugestão para um filme baseado no bigodudo e sua turma foi apresentada pela primeira vez por Roland Joffé, um cineasta britânico, até então conhecido pelos filmes Os Gritos do Silêncio (1984) e A Missão (1986), durante uma reunião de roteiro em sua produtora Lightmotive.

Joffé apresentou um rascunho inicial do roteiro para o presidente da Nintendo of America, Minoru Arakawa, e posteriormente para o próprio presidente da Nintendo japonesa, Hiroshi Yamauchi, que mostrou interesse no projeto, o que rendeu um contrato e a utilização temporária de Mario para Joffé.

Um Rodízio de Roteiros

Bob Huskins e John Leguizamo como Mario e Luigi
Foto: Reprodução

A Nintendo não tinha interesse no controle criativo sobre o filme e acreditava que a marca Mario era forte o suficiente para permitir um experimento em Hollywood. Assim, o primeiro desafio de Joffé, que virou produtor do projeto, foi o de como transportar todo aquele mundo estranho e maravilhoso dos videogames para as telas dos cinemas.

O primeiro roteiro foi feito por Barry Morrow, roteirista do consagrado e premiado filme Rain Man (1988), com Dustin Hoffman e Tom Cruise. Segundo relatos, Morrow escreveu uma história que mostrava os irmãos Mario e Luigi em uma viagem existencial bem semelhante ao de Rain Man, que teria "uma odisseia e uma busca" como o próprio jogo.

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O coprodutor Fred Caruso disse mais tarde que a história de Morrow era "mais uma peça dramática séria do que uma comédia divertida".

Cena do filme Super Mario Bros.
Foto: Reprodução

Joffé descartou o roteiro de Morrow e chamou os roteiristas Jim Jennewein e Tom S. Parker (de comédias como Os Flintstones: O Filme e Riquinho), que escreveram uma adaptação mais cômica e tradicional, tendo como inspiração o clássico O Mágico de Oz (1939), que lidava com uma jornada para outro mundo fantástico.

Nessa altura do campeonato Greg Beeman, diretor do clássico da Sessão da Tarde, Sem Licensa para Dirigir (1988), foi contratado para a direção  do projeto, que se movia para a pré-produção. No entanto, ele não durou muito tempo no cargo e acabou sendo demitido após o fracasso da sua comédia Quando Meus Pais Salvaram a Terra (1992) nos cinemas, deixando as coisas sem rumo.

"Tentamos vários caminhos que não funcionaram, que pareciam muito medievais ou de alguma forma não eram a coisa certa", disse Joffé sobre o projeto em entrevistas. "Senti que o projeto estava tomando um rumo errado. E foi aí que comecei a pensar em Max Headroom [um DJ virtual dos anos 80 que virou um fenômeno cyberpunk na época]".

Entram Rocky Morton e Annabel Jankel

O casal Annabel e Rocky foram os responsáveis pela turbulenta direção do filme
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Esse pensamento levou Joffé a procurar pelo casal Rocky Morton e Annabel Jankel, criadores da série scifi de Max Headroom, que vinham de uma escola de cinema de Tim Burton, e segundo os próprios, com uma "formação em animação e histórias em quadrinhos".

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Joffé, Morton e Jankel concordaram que sua abordagem para adaptar Mario deveria seguir um tom mais sombrio popularizado por Batman de 1989 e Tartarugas Ninja de 1990. Segundo Morton, o filme seria como um prequel para os jogos, contando a "história verdadeira" por trás da inspiração da Nintendo.

Os roteiristas Parker Bennett e Terry Runté foram encarregados de equilibrar a comédia com um tom mais sombrio, que se passaria em um mundo paralelo habitado por dinossauros, inspirado no recém-lançado Super Mario World do Super Nintendo. Para isso buscaram inspiração em Os Caça-Fantasmas (1984), com "o objetivo de ser engraçado, mas meio estranho e sombrio".

Apesar de trabalharem bem com os diretores, Bennett e Runté foram demitidos pelos produtores e os escritores de comédia britânicos Dick Clement e Ian La Frenais foram contratados para entregar um tom mais adulto e feminista.

O mundo distópico de Super Mario Bros.
Foto: Reprodução

Foi com esse roteiro que o elenco principal do filme começou a ser contratado, com Bob Hoskins como Mario, John Leguizamo como Luigi, Dennis Hopper como Rei Bowser (ou Koopa, como é chamado no filme) e Samantha Mathis como Princesa Daisy (sim, nada de Peach por aqui).

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Mas quem acha que os problemas acabaram, se engana. Impulsionados pela compra de distribuição do filme pela Disney, e temendo que o projeto tivesse se desviado demais do público jovem/família pretendido, os produtores decidiram chamar novos roteiristas, Ed Solomon e Ryan Rowe, para dar uma reformulada no roteiro e deixá-lo mais familiar - isso sem informar os diretores Morton e Jankel ou o elenco contratado.

Quando os diretores descobriram a manipulação, consideraram abandonar o projeto, porém decidiram ficar após perceberem que nenhum outro diretor conseguiria entender o material, e que deviam isso ao elenco e equipe. Durante a pré-produção e produção do filme, o roteiro ainda passou por diversas revisões, o que deixou alguns dos atores bem chateados, pois se distanciava do roteiro que tinha aceito por eles.

Escolha do Elenco Complicada

Mario, Daisy e Luigi
Foto: Reprodução

A contratação do elenco também foi enrolada, com Dustin Hoffman demonstrando interesse pelo papel de Mario (incentivado pelos seus filhos que eram fãs do personagem), mas os produtores acharam que ele não era o cara certo para o papel. Danny DeVitto e Bruno Kirby também foram outras opções para o papel de Mario que acabaram não dando certo.

O papel ficou com Bob Hoskins, que inicialmente não se empolgou muito com o roteiro e não queria fazer outro filme infantil, já que ele vinha de sucessos como Uma Cilada Para Roger Rabbit (1988) e Hook: A Volta do Capitão Gancho (1991), mas acabou sendo convencido com as mudanças no roteiro.

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Outros atores que quase entraram para o elenco foram Tom Hanks como Luigi, e Michael Keaton, Arnold Schwarzenegger e Kevin Costner como o vilão Rei Bowser.

Fracasso de Crítica e Bilheteria

Daisy e Yoshi
Foto: Reprodução

O filme estreou em 28 de maio de 1993 e foi um fracasso de crítica e bilheteria, arrecadando apenas US$ 20 milhões de um orçamento inchado de US$ 48 milhões, o que para a época era um valor exorbitante para uma produção cinematográfica - Jurassic Park (1993) e Forrest Gump (1994), que foram dois enormes sucessos da época, tiveram orçamentos de US$ 63 e US$ 55 milhões, respectivamente.

O filme não agradou aos fãs e muito menos quem não conhecia videogames, apresentando uma história totalmente longe dos cultuados games e uma atmosfera sombria, deprimente e apocalíptica demais, que nada lembrava o mundo alegre e colorido dos encanadores coloridos.

No site Rotten Tomatoes, o filme possui uma aprovação de apenas 28% da crítica especializada, acompanhado de perto por 29% da avaliação do público (com mais de 100 mil avaliações).

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Dennis Hopper (Rei Koopa) odiou o filme. Atrás dele estão os Goombas.
Foto: Divulgação

E até hoje em dia não é difícil ver o elenco principal, Bob Hoskins, John Leguizamo e Dennis Hopper, detonando o filme em entrevistas, afirmando ser a pior experiência que eles já tiveram no cinema, o que inclui os bastidores de filmagens.

Segundo as histórias, as filmagens eram tão insuportáveis que Hoskins e Leguizamo ficavam bêbados todos os dias no set antes e entre as tomadas, para poder passar o dia.

"Honestamente, aquele filme foi um pesadelo", contou Hopper em 2008. "Era uma direção de marido e mulher que eram maníacos por controle e não falavam nada antes de tomarem as decisões. Eu devia filmar por cinco semanas, mas acabei ficando por 17".

Um legado de desastres

Luigi joga Super Mario World
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E por incrível que pareça, apesar de toda essa bagunça que foi a produção do filme, Super Mario Bros. estabeleceu uma fórmula de desastre que seria seguida por outras adaptações de games que viriam a ser lançadas vários anos depois, como foi o caso de Double Dragon (1994), Street Fighter (1994), Wing Commander (1999), entre outros.

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É claro que de vez em quando, um ou outro filme tinha uma boa recepção pela crítica e dos fãs (ou pelo menos boa parte deles), como foi o caso de Mortal Kombat (1995), Lara Croft: Tomb Raider (2001) e Silent Hill (2006).

Vale lembrar que os filmes da série Resident Evil com a Milla Jovovich são um caso à parte, já que sempre foram detonados por boa parte dos fãs, mas conseguiam alcançar uma bilheteria que gerava lucros, devido a baixos orçamentos de produção - Resident Evil 6: O Capítulo Final (2016) arrecadou mais de US$ 312 milhões globalmente, com um orçamento de US$ 40 milhões.

Felizmente, acompanhando o apogeu das adaptações dos filmes de super-heróis, parece que agora chegou a vez do universo dos videogames a dar certo nas telonas de Hollywood, como demonstram sucessos recentes como Detetive Pikachu (2019), Sonic: o Filme (2020), Sonic 2: O Filme (2022) e Uncharted (2022).

E você, já assistiu ao filme de Super Mario Bros.? Ou não teve coragem? Conte aí para nós na seção de comentários ou participe da discussão no Discord do Game On!

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Fonte: Game On
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