Sonic sempre foi sinônimo de velocidade, mas, curiosamente, os jogos de corrida estrelados pelo ouriço azul nunca tiveram uma trajetória estável. Em 2012, Sonic & All-Stars Racing Transformed conseguiu se destacar como uma das melhores experiências arcade da época, combinando criatividade nas pistas e um sistema de transformação memorável. Mas, quando a Sega tentou repetir o sucesso com Team Sonic Racing em 2019, o resultado ficou abaixo do esperado: o jogo foi rapidamente esquecido, incapaz de capturar a mesma energia.
Agora, com Sonic Racing: CrossWorlds, a Sega tenta novamente provar que a franquia pode disputar espaço em um gênero dominado principalmente por Mario Kart. A questão é: será que dessa vez nosso herói azulão realmente tem chances de cruzar a linha de chegada em primeiro? Confira a seguir aqui no Game On!
Um retorno mais ambicioso
Logo ao entrar em CrossWorlds, fica claro que a Sega buscou aprender com os erros do passado. A primeira grande novidade é o sistema de customização de veículos, que é muito mais robusto do que se poderia esperar de um jogo arcade.
É possível modificar praticamente todos os aspectos do carro: cores, rodas, traseira, capôs e até decalques. Isso permite criar desde máquinas personalizadas com identidade própria ou até recriar outros veículos clássicos da cultura pop que você desejar.
E o mais importante: essa personalização não é apenas estética. Os jogadores podem adicionar gadgets, que influenciam diretamente no desempenho do carro. Alguns aumentam o dano de ataques, outros facilitam a coleta de moedas ou ampliam a defesa.
Essa mecânica abre espaço para que cada jogador desenvolva estratégias próprias, criando “classes” de veículos para diferentes situações. A variedade e a liberdade de experimentação lembram até sistemas de RPG leves, mas sem perder o ritmo rápido de um arcade.
Diversidade de personagens e estilos de jogo
Se a personalização não for sua praia, o jogo ainda oferece carros exclusivos de cada personagem, cada um com os seus prós e contras já pré-definidos. No entanto, carros customizados tendem a ser melhores, o que pode ser um problema para quem for se aventurar em corridas online, já que a customização se torna uma obrigação para competir em alto nível, em vez de uma opção.
Com o maior elenco de qualquer jogo de corrida do Sonic, os jogadores poderão escolher entre mais de 30 personagens que incluem nomes do universo do ouriço, mas também convidados de outros jogos da Sega, além de alguns rostos familiares de outras franquias famosas.
Entre os corredores, surgem convidados de peso como Ichiban Kasuga, protagonista da série Like a Dragon, a idol virtual Hatsune Miku, o carismático Joker de Persona 5 e até mesmo Steve, diretamente de Minecraft.
Nem todos estão disponíveis de imediato, mas o jogo já deixa claro que novos nomes irão se juntar ao grid no futuro, reforçando a ideia de que esse universo está em constante expansão.
O sistema de Rivais: corridas mais intensas
Entre os elementos que mais chamam atenção no modo Grand Prix, o principal do jogo, está o sistema de Rivais. Logo no início do torneio, o jogo oferece a opção de escolher um adversário específico que ficará no seu encalço durante as corridas. Esse competidor passa a agir de forma mais agressiva, buscando te atrapalhar em momentos-chave e tornando cada ultrapassagem uma pequena disputa pessoal.
Essa mecânica adiciona uma camada extra de tensão e imprevisibilidade, transformando corridas comuns em confrontos carregados de rivalidade. É um recurso simples, mas eficaz, que diferencia CrossWorlds de outros jogos do gênero ao dar mais vida às competições.
Outro grande destaque está nas pistas. Visualmente são uma explosão caótica de cores na tela, ricas em detalhes e com cenários que misturam referências clássicas de Sonic a novas ideias.
Mas o que realmente chama a atenção são os Rings de travessia, que funcionam como portais dentro da corrida. Esses anéis levam o jogador para novas rotas durante a prova. Em um instante você está em um circuito tradicional, e no seguinte é jogado para um trecho aéreo ou até mesmo submerso, obrigando a se adaptar rapidamente a novas mecânicas, criando reviravoltas inesperadas.
Essa mecânica cria corridas dinâmicas, imprevisíveis e sempre diferentes. No modo online, a novidade tem ainda mais potencial: basta imaginar aquela partida acirrada entre amigos, onde todos decoraram cada curva, até que um Ring muda tudo e transforma a reta final em um desafio totalmente inesperado. É esse elemento surpresa que garante variedade e impede que as corridas caiam na repetição.
As corridas dificilmente seguem um roteiro previsível. Em vários momentos, me vi saltando do primeiro lugar direto para as últimas posições — e depois recuperando tudo de forma inesperada. Essa montanha-russa de emoções ganha ainda mais força quando jogada com amigos, já que cada disputa se torna imprevisível e muito mais divertida.
E falando no quesito multiplayer, o jogo mostra bastante ambição: suporta de 1 a 4 jogadores em tela dividida, até 12 competidores no online, além de trazer crossplay completo entre todas as plataformas. Esse detalhe é um grande diferencial, já que amplia a comunidade ativa e evita a fragmentação de jogadores — algo que coloca o título em vantagem em relação a concorrentes de peso, como Mario Kart World.
No que diz respeito à jogabilidade, Sonic Racing: CrossWorlds aposta no estilo arcade clássico: simples de aprender, mas cheio de momentos caóticos e divertidos. Os itens estão espalhados pelas pistas e garantem aquele tempero extra às disputas.
Entre eles, há opções tradicionais, como projéteis que reduzem a velocidade dos oponentes, e também ideias mais inusitadas, como a habilidade de transformar o carro em um monster truck que passa por cima de tudo. Essa mistura de recursos familiares com novidades criativas mantém cada corrida imprevisível e dá ao jogo uma identidade própria dentro do gênero.
Considerações
O maior desafio de Sonic Racing: CrossWorlds não está exatamente em suas mecânicas ou no conteúdo que apresenta, mas no momento e no mercado em que chega. O gênero de corrida arcade já possui um rei absoluto: Mario Kart, que retornou com força total em sua novíssima edição para o Switch 2. Além disso, outros competidores de respeito, como Crash Team Racing Nitro-Fueled e Forza Horizon, também conquistaram espaço e ainda são lembrados pelo público.
CrossWorlds funciona mais como um grande mosaico de boas ideias e conceitos interessantes do que como uma revolução no gênero. As customizações são profundas, os Rivais adicionam personalidade, e os Rings de travessia dão variedade às corridas, mas nenhum desses elementos, isoladamente, soa capaz de mudar o jogo de forma estrutural. No fim, o título passa a impressão de ser mais uma tentativa de modernizar a fórmula já conhecida, em vez de oferecer algo realmente revolucionário.
Isso não significa, porém, que o game não cumpra o que promete. CrossWorlds é divertido, acessível e cheio de personalidade, um título que certamente vale a atenção de quem procura uma alternativa ao tradicional. O verdadeiro desafio será provar que suas novidades têm fôlego para manter a comunidade engajada a longo prazo - e tudo indica que sim. Caso contrário, corre o risco de repetir a trajetória de Team Sonic Racing: um lançamento empolgante no início, mas rapidamente esquecido à sombra de concorrentes mais fortes.
Sonic Racing: CrossWorlds chega em 25 de setembro para PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Switch, Xbox One e Xbox Series. A versão para Switch 2 será lançada posteriormente, ainda este ano.
Esta análise foi feita no PlayStation 5, com uma cópia gentilmente cedida pela Sega.