O veterano ucraniano que levou saltador brasileiro a ouro inédito - e a 'climão' com francês

16 ago 2016 - 21h59
(atualizado às 22h07)
"Climão" marcou parceria de mito Petrov com Thiago Braz, campeão no salto com vara
"Climão" marcou parceria de mito Petrov com Thiago Braz, campeão no salto com vara
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Não foram apenas a rivalidade, o barulho da torcida e a perda de um ouro para o qual era favorito que fizeram com que o francês Renaud Lavillenie, até a segunda o grande nome do salto com vara, exibisse uma atitude pouco diplomática com o brasileiro Thiago Braz em meio ao clima geral de cordialidade expressado pela comemoração efusiva da vitória do brasileiro pelo americano e concorrente Sam Kendricks.

Lavillenie parou de falar com o agora campeão olímpico ao "comprar" uma briga que nada tinha que ver com a rivalidade esportiva: o francês e seu técnico são amigos de Élson Miranda, que até o final de 2014 era o treinador de Braz.

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Um mentor que o paulista deixou para trás por causa da chance de trabalhar com Vitaly Petrov, um mito no esporte pela habilidade de "lapidar" campeões. E que apostou em Thiago não apenas por uma questão de altruísmo, mas também para driblar o desemprego.

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Treinador do lendário Sergei Bubka, campeão olímpico do salto com vara em 1988 e que dominou a modalidade em seis campeonatos mundiais, Petrov também arquitetou a carreira da russa Yelena Isinbayeva, outra colecionadora de medalhas na modalidade, mas os dois romperam relações em 2011.

Isso o aproximou do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e de sua política de buscar a expertise de treinadores estrangeiros para aumentar as chances de medalhas na Rio 2016 - um dos profissionais que comemorou sua chegada foi justamente Miranda.

Quando o saltador decidiu de mudar de mala e cuia para a Itália e treinar exclusivamente com o ucraniano, o ambiente azedou, com críticas públicas de Miranda ao ex-pupilo e a Petrov.

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E afetou isso também o relacionamento com Lavillenie, o que deve ter tornado a derrota para o brasileiro no Rio ainda mais dolorida - a julgar pelas reclamações feitas nas redes sociais, em que chegou a comparar as vaias da torcida brasileira ao comportamento do público alemão diante do velocista negro americano Jesse Owens nos Jogos de Berlim, em 1936.

Petrov também arquitetou a carreira da russa Yelena Isinbayeva

Petrov também arquitetou a carreira da russa Yelena Isinbayeva, outra colecionadora de medalhas na modalidade
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Mas como culpar Braz? "De todos os treinadores com quem trabalhei, o Vitaly foi o mais refinado. Arrisquei todas as minhas fichas e não poderia estar no atletismo mais caso não tivesse resultado com ele", disse o saltador nesta terça-feira, durante uma entrevista coletiva organizada pelo COB na Barra.

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"Se Thiago tivesse ficado no Brasil, poderia não ter sido campeão olímpico. E desde o momento que o vi saltar pela primeira vez, vi que ele poderia fazer como Sergei e saltar mais de 6 metros", explicou o ucraniano, também à mesa na entrevista.

"Era necessário que tivéssemos um relacionamento bom e estreito e que passássemos a maior parte do tempo possível um com o outro. Mas Sergei tinha 11 anos quando veio trabalhar comigo, a adaptação foi mais fácil", acrescentou.

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'Concentração'

Braz teve que se submeter aos métodos draconianos de Petrov, em especial uma "concentração" de dois meses antes do Jogos, período em que o saltador teve pouco ou nenhum contato com a mulher, Ana Paula Oliveira.

"O Vitaly diz que o corpo não deve ter limites. E eu acredito", contou o paulista.

Com um ouro e um recorde olímpico na bagagem, Braz agora volta suas atenções para o recorde mundial do salto com vara. Outra marca que ele poderá roubar de Lavillenie, que ficara com o ouro na Olimpíada de Londres, em 2012.

A menção do recorde, por sinal, proporcionou um momento curioso para Petrov. Na segunda-feira, tomado pela emoção, o ucraniano de 78 anos anunciou uma emocionada aposentadoria ao ser abordado pelos repórteres. Mas menos de 24 horas mais tarde já traçava planos de treinamento para o brasileiro.

"Nosso plano era superar o francês em um ou dois anos. Agora, a partir do primeiro dia de treinos, o Thiago vai ter que esquecer que é um campeão olímpico. Os treinos vão ficar cada vez mais duros", afirmou Petrov, já de volta ao estilo mais durão.

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