Lamine Yamal, jogador do Barcelona, foi cortado da seleção espanhola devido a uma pubalgia crônica, uma síndrome que exige tratamento contínuo e acompanhamento multidisciplinar para evitar limitações e recidivas ao longo de sua carreira.
O astro do Barcelona Lamine Yamal foi cortado, nesta terça-feira, 11, dos próximos jogos da seleção da Espanha pelas Eliminatórias europeias para a Copa do Mundo de 2026. A dispensa do camisa 10 do Barcelona voltou a colocar luz sobre sua condição clínica: ele foi diagnosticado com uma pubalgia que, segundo a imprensa espanhola, é crônica. Ou seja, os cuidados deverão acompanhar o atleta de 18 anos ao longo da carreira.
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Em nota, a Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) expressou “surpresa e desconforto” ao ser informada de que Yamal teria sido submetido a um "procedimento invasivo de radiofrequência" para tratar as dores, sem notificação prévia do Barcelona. Com isso, o atleta foi cortado dos jogos contra Geórgia e Turquia, nos dias 15 e 18 de novembro.
A pubalgia é uma síndrome que pode afetar qualquer pessoa, mas incide principalmente em atletas de alto rendimento, como jogadores de futebol, explicaram especialistas ao Terra. Os sintomas mais comuns são dores na região inferior do abdômen, púbis ou virilha — como relatado no caso de Yamal.
O ortopedista do Botafogo e pós-graduado em medicina desportiva, Gustavo Dutra explica que as causas da pubalgia são multifatoriais, podendo ser provocadas por desequilibrios, lesões prévias ou 'sobrecargas biomecânicas'.
"É mais comum no esporte de alta performance, para quem faz aceleração, desaceleração, mudança de direção brusca, chutes mais potentes, com mais força. Tudo isso são movimentos complexos e dinâmicos que o atleta de futebol faz o tempo inteiro", explica.
As causas, segundo o ortopedista, podem estar associadas a funções mecânicas do músculo, como alterações no formato do quadril, ou sistêmicas. Ele também cita outras origens, como hérnias musculares inguinais ou cruciais e enfraquecimento da estrutura.
Apesar de um possível caráter crônico, como especulado pela imprensa espanhola, no quadro de Yamal, Dutra destaca que a síndrome não é 'incurável': "Hoje, com a medicina regenerativa, a gente pode aplicar substâncias regeneradoras na sínfese púbica, nos tendões e até na parte óssea. Além disso, a gente tem um arsenal de controle de treinos indoor, na academia, de menos impacto".
"Com o trabalho associado da fisioterapia, isso ajuda a prevenir o problema depois que você trata e deixa o atleta bem. Mas é, sem dúvida nenhuma, uma lesão que cronifica e que pode 'voltar', popularmente falando", alerta o ortopedista.
Limitações e recuperação
Antes do diagnóstico efetivo da síndrome, as queixas de um paciente costumam ser:
- Dor crônica na região pubiana, podendo ser localizada nos músculos adutores, reto-abdominais e nos quadris, ou perineal, na região testicular ou anal;
- Piora no apoio com apenas um dos pés no chão;
- Piora em exercícios abdominais ou na flexão do tronco;
- Dor ao toque na região das coxas e púbis;
Com passagem pelo departamento médico do Bahia e em outras modalidades de alto rendimento, a fisioterapeuta esportiva Lia Messias explica que o trabalho de recuperação visa não permitir que a síndrome cause limitações de funcionalidade do paciente.
"A gente precisa não permitir que o atleta chegue ao ponto de se limitar e que atrapalhe a perfomance em campo. O ponto mais importante o diagnóstico médico e a avaliação do fisioterapeuta. Nisso, a gente entende o nível de recuperação, o tempo de exposição à carga e aspectos biomecânicos, como a movimentação, o nível de força, mobilidade e estabilidade", afirma.
Nesse quadro, a indicação é por um tratamento conservador, com medicação analgésica e anti-inflamatória, aliado a fisioterapia e reabilitação.
Já as cirurgias são indicadas para casos em que o paciente não responde mais ao tratamento conservador: "Há vezes que por mais que se afaste, faça controle de carga e coloque o atleta para um tratamento adequado, ele não responde bem, aí sim se pensa no processo cirúrgico".
"Pensando ao longo da carreira do Yamal, a equipe já deve pensar na possibilidade cirúrgica, mas ainda assim é uma opção muito difícil, por conta do tempo de afastamento", pondera.
A fisioterapeuta destaca que, no caso de uma condição como a pubalgia, o tratamento pode levar até seis meses. No entanto, dada a alta demanda esportiva -- especialmente no caso de Yamal, camisa 10 do Barcelona --, há dificuldades para um afastamento completo por tempo prolongado.
"O mais importante nesses casos é o trabalho multidisciplinar, em conjunto entre o médico, o fisioterapeuta, nutricionais e preparador físico. Depois de uma avaliação bem feita, de um tratamento bem realizado, a chance de recidiva é muito menor", afirma Lia.
Ela ressalta que, em casos crônicos, o atleta precisa de um acompanhamento detalhado em prol de uma boa recuperação a longo prazo: "Ele vai tratar para sempre, precisar de exercícios específicos para o resto da carreira".