Promotor sugere intervenção judicial no Corinthians ao Ministério Público

Cassio Roberto Conserino lista 25 motivos, com base em investigação sobre gastos indevidos, para justificar aplicação da medida; clube não vai se manifestar sobre o assunto

18 nov 2025 - 23h26
(atualizado às 23h36)

O promotor Cássio Roberto Conserino, responsável pela investigação sobre gastos indevidos de dirigentes no Corinthians, sugeriu ao Ministério Público que o clube alvinegro seja colocado sob intervenção judicial, conforme informado pelo GE e confirmado pelo Estadão. O Corinthians não vai se pronunciar sobre o caso.

A sugestão foi feita por Conserino em representação encaminhada à Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social, que vai analisar a possibilidade. Embora trabalhe para o MP, ele atua na área criminal e não está em sua alçada propor a medida.

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Parque São Jorge, sede social do Corinthians.
Parque São Jorge, sede social do Corinthians.
Foto: Fábio Vieira/Estadão / Estadão

No documento, o promotor lista 25 motivos, extraídos da investigação em curso, para justificar a necessidade de que o clube do Parque São Jorge passe por uma intervenção judicial. Veja abaixo:

  • Laudos de auditores externos com apontamentos de irregularidades
  • ?O Corinthians é patrimônio cultural, cuja proteção é competência do Ministério Público
  • ?Denúncia oferecida e recebida em face do ex-presidente Augusto Melo, dentre outros, por associação criminosa e lavagem de capitais
  • ?Denúncia oferecida em face do ex-presidente Andres Sanches e então gerente financeiro da atual gestão, Roberto Gavioli, por apropriação indevida e lavagem de capitais
  • ?Investigações em face de outros ex-presidentes em tramitação
  • ?Investigação na Delegacia de Polícia de Repressão aos Direitos de Intolerância Esportiva de volumoso desvio de material esportivo por dirigentes da atual gestão
  • Sistema de compliance inoperante
  • ?A assinatura por ex-presidente e por gerente financeiro, que também atua na gestão atual, de confissões de dívidas então extintas por prescrição
  • ?Regime Centralizado de Execuções não cumprido e não homologado, contendo inclusive contratos lesivos ao clube
  • ?Pedido de intervenção judicial formulado por credor nos autos do Regime Centralizado de Execuções
  • Gestão temerária ao assumir a terceira maior folha de pagamento do país;
  • ?Notas supostamente frias emitidas pelo Oliveira Minimercado, citada como empresa de fachada, tendo como único cliente o Corinthians, cujos valores saíram dos cofres do clube
  • ?Boletins de ocorrência informando supressão de documentos de dentro do clube;
  • ?Indícios da presença de crime organizado consubstanciado no pagamento de comissões da VAIDEBET a empresa supostamente ligada ao crime organizado;
  • ?Atletas profissionais instalados em apartamento de propriedade do "Alemão" (José Carlos Gonçalves), suposto integrante de organização criminosa
  • ?Postos de gasolina supostamente ligados ao crime organizado licenciados com a marca Corinthians
  • ?Recibo de pagamento pelo Corinthians a ex-assessor parlamentar do ex-presidente André Sanchez, alvo de investigação ministerial, ligado a facção criminosa envolvendo uso de cooperativas de transporte urbano em São Paulo
  • Inobservância do estatuto para o impeachment de Augusto Melo, cuja entrega das atas do atual Conselho Deliberativo foi sonegada, a despeito de ordem judicial
  • ?Uso de cartão corporativo por ex-dirigentes, mesmo após final dos seus mandatos
  • ?Endividamento impagável, segundo laudos de profissionais externos independentes
  • ?Ameaça a testemunha perpetrada por investigado no caso do desvio de materiais esportivos, então integrante da atual gestão
  • Transferban da Fifa em valores milionários por falta de pagamento de atletas;
  • ?Práticas de atos que podem caracterizar gestão temerária dentro da entidade desportiva
  • ?Desorganização institucional da gestão financeira, com omissão dos órgãos deliberativos e de controle
  • ?Outras dezenas de outras possíveis irregularidades envolvendo contratos duvidosos, TV Corinthians, contratação de jogadores de base, licenciamento de marcas com pagamento de royalties insignificantes ao clube, contratos com cláusulas leoninas, relação com empresas de fachada ou fantasmas sob investigação do Ministério Público

A investigação do MP-SP sobre gastos indevidos no Corinthians teve início em agosto deste ano após reportagem doGEindicar movimentações suspeitas na gestão de Duílio Monteiro Alves. Apenas na última semana de outubro de 2023, o Corinthians gastou R$ 32,5 mil no Oliveira Minimercado, cujo endereço, segundo apurou a promotoria, não consta "qualquer comércio ou resquício de comércio".

Outras despesas constatadas foram com cerveja, picanha, sorvete, frutas, legumes, água sanitária, amaciante de roupas, detergentes, pizzas, peixes, doces, isqueiros, flores, ração animal, bijuteria feminina e cachorro de pelúcia. À época, o presidente se defendeu. "Supostas planilhas e faturas da minha gestão, divulgadas em perfis anônimos com objetivo político de assassinar reputações nas redes sociais, requeri ao clube acesso a tais documentos, a fim de que pudesse checar sua veracidade."

A polêmica sobre uso indevido dos cartões corporativos veio à tona semanas antes, em junho, com faturas do cartão corporativo do clube vazadas nas redes sociais. O ex-presidente Andrés Sanchez admitiu ter feito uso, mas por engano, ao confundir seu cartão pessoal com o do clube durante uma viagem de Réveillon entre o final de 2020 e o início de 2021. O gasto foi de R$ 9.416 e, em contato com o Estadão, ele afirmou ter ressarcido o clube em R$ 15 mil.

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Em outubro, Andrés Sanchez e Roberto Gavioli, diretor financeiro do clube, foram denunciados pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) por crimes de apropriação indébita e lavagem de dinheiro. Andrés ainda está sob suspeita falsidade de documento tributário.

Há também pedido de constituição do crédito tributário em relação ao ex-mandatário por causa de acréscimos patrimoniais ilícitos. Gavioli foi afastado pelo clube e Andrés pediu afastamento do Conselho Deliberativo (CD), onde tem a posição vitalícia, e do Conselho de Orientação (Cori), no qual é membro nato.

A defesa de Andres argumenta que o caso está sendo tratado de forma "espetacularizada" por Conserino e pediu anulação da denúncia à Justiça. Gavioli se manifestou apenas uma vez. Afirmou que está tratando do assunto com o seu advogado e vai se manifestar no momento oportuno.

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