Uma auditoria interna realizada pelo Corinthians, realizada por determinação do presidente Osmar Stábile, apontou desvios de camisas e venda ilegal de materiais da Nike dentro do próprio clube. Um relatório de 94 páginas demonstrou que os times das categorias de base ficaram sem receber uniformes ou estavam utilizando roupas em mau estado de conservação apesar de o clube ter excedido em quase 300% a cota anual de itens solicitados à Nike.
Segundo documento obtido pelo Estadão, a auditoria apontou a retirada irregular de 131 itens registrados em nome do vice-presidente Armando Mendonça e a comercialização ilegal de camisas oficiais do clube por um funcionário, que recebeu pagamento via Pix de R$ 300,00 em sua conta pessoal pela venda de três peças originais do estoque. O caso foi confirmado após denúncia anônima e compra controlada realizada pelos auditores em 11 e 13 de outubro de 2025, resultando na confissão do funcionário envolvido.
O relatório foi realizado teve como objetivo avaliar o sistema de controle de estoque implantado em maio de 2025 e identificar fragilidades na gestão de materiais. A investigação revelou 33 apontamentos, incluindo falhas consideradas críticas nos almoxarifados do Parque São Jorge e do CT Joaquim Grava.
O documento mostra que não há inventário formal desde setembro de 2021, há mais de quatro anos, permitindo o acúmulo de materiais desde 2014 sem conferência. Mesmo com o recebimento de 41.963 itens da Nike em 2025, número aproximadamente 24% a mais que no ano anterior, atletas da base permaneceram com uniformes deteriorados, antigos ou de marcas concorrentes.
Algumas categorias tinham peças oficiais em estoque, mas não recebiam distribuição adequada, e um supervisor do futsal chegou a comprar meias e meiões com recursos próprios.
Segundo o documento, durante a inspeção física realizada na rouparia do Futsal, observou-se que os uniformes em uso se encontram em condições precárias, apresentando desgaste acentuado pelo tempo e utilização prolongada, além de costuras, remendos, rasgos e desbotamento da malha.
Foi apuroudo que, dos 8.396 itens recebidos da Nike em para o futsal 2025, apenas 5.882 foram efetivamente entregues pelo almoxarifado ao departamento, restando 2.514 itens que o Almoxarifado não entregou ao departamento.
Além do desvio de materiais, o relatório aponta riscos fiscais e contábeis. Entre 2024 e 2025, R$ 6,4 milhões em notas fiscais não foram lançados no sistema do Corinthians, incluindo R$ 5,1 milhões destinados ao CT apenas em 2024.
A auditoria também identificou que o valor acumulado de materiais recebidos da Nike em 2024 e 2025 (R$ 23,7 milhões) ultrapassou o limite contratual em R$ 15,7 milhões, um excedente de 297%. Em paralelo, o clube gastou R$ 776 mil na compra de 13.503 itens licenciados, mesmo tendo direito a fornecimento sem custo adicional por contrato.
O documento cita que em janeiro 17.529 foram solicitadas à Nike. Em contrapartida, o clube não dispunha da camisa principal para a partida contra o Fluminense, pelo Brasileirão, no Maracanã.
A auditoria classificou Mendonça como responsável pela administração dos materiais Nike e apontou o vice como principal suspeito por desvios processuais e retiradas indevidas de camisas. A reportagem entrou em contato com o vice, que afirmou ser "falsa" a informação de que é o responsável pelas diretrizes de distribuição dos materiais da Nike no Corinthians e administração dos almoxarifados.
Ele diz que a gestão do impichado Augusto Melo não fazia o controle necessário e resolveu ajudar pessoalmente no sistema de cadeia de aprovações de retirada de material para dar maior transparência e controle à destinação do patrimônio do clube e evitar prejuízos e malfeitos.
"É preciso salientar que não é nem nunca foi de minha responsabilidade a definição de política de distribuição interna por departamento, o que normalmente é feito a cada ano. Minha função é a de analisar os pedidos extras e autorizá-los de acordo com as necessidades, juntamente com o departamento administrativo. Lamento profundamente informações desconectadas da verdade e desamparada de qualquer material probatório", respondeu o vice, em nota enviada à reportagem.
O documento aponta ainda a prática de intimidação contra o auditor, o diretor de tecnologia Marcelo Munhoes, durante o processo de investigação. O documento cita que o vice "demonstrou tom de preocupação em relação ao andamento dos trabalhos de auditoria" e usou "expressões de natureza agressiva e alusões interpretadas como ameaças".
Mendonça afirma que nunca faltou com o respeito com Munhoes e, por isso, entrou com uma notificação extrajudicial contra o diretor de tecnologia.
O documento também o gerente administrativo Rafael Salomão é citado por alegar falsamente falta de materiais que estavam em estoque e por orientar que uma nota fiscal de transferência de R$ 141 mil não fosse registrada. Ricardo Okabe, superintendente administrativo, foi mencionado por retaliação e assédio moral contra a equipe de auditoria.
A reportagem busca contato com Salomão e Okabe. A matéria será atualizada em caso de manifestação.