Vandoorne conquista título mundial e crava estaca final no coração do fracasso na F1

Stoffel Vandoorne alcançou o objetivo da vida ao chegar à F1, mas encontrou a pior versão possível da McLaren e só conseguiu soltar o grito de campeão mundial na Fórmula E, quatro anos depois da traumática saída

14 ago 2022 - 05h42
(atualizado às 06h57)
O novo campeão mundial da Fórmula E tem nome e sobrenome: Stoffel Vandoorne
O novo campeão mundial da Fórmula E tem nome e sobrenome: Stoffel Vandoorne
Foto: Fórmula E / Grande Prêmio

CHEGOU A GRANDE FINAL: FÓRMULA E SE PREPARA PARA DECIDIR TÍTULO EM SEUL

Após 55 corridas disputadas desde 2018, enfim chegou o momento de glória: Stoffel Vandoorne é o campeão da Fórmula E 2021/2022. O piloto da Mercedes, disparado o mais regular em todo o grid da categoria, sobrou na reta final da temporada — em momento no qual seus concorrentes não conseguiram manter o fôlego — para assegurar o tão sonhado título, que já poderia ter vindo no ano passado e enfim consolida o nome do belga como um dos campeões mundiais do automobilismo.

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A trajetória promissora de Vandoorne em busca do estrelato na Fórmula 1 contou com títulos importantes conquistados pelo caminho, e de forma precoce: foi campeão da F4 Europeia em 2010, logo em sua primeira participação, e precisou de apenas duas edições de Fórmula Renault 2.0 para dar o passo seguinte e levantar mais um troféu.

Na GP2 — atualmente F2 —, momento de demonstrar que estava preparado de fato para a categoria principal, Vandoorne brilhou mais uma vez. Foi o segundo colocado do campeonato em sua temporada de estreia, com quatro vitórias conquistadas, ficando atrás apenas de Jolyon Palmer.

No ano seguinte, Vandoorne repetiu a fórmula e novamente subiu o nível: não deu chances aos concorrentes, varreu a temporada e foi campeão com sobras — e a diferença de pontos em relação ao segundo colocado Alexander Rossi [341,5 a 181,5] prova isso.

Incontestável, Vandoorne não deu brechas com regularidade absurda em 2022 para ficar com o título (Foto: Mercedes)

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E então, no momento de realizar o principal sonho da vida — pilotar na Fórmula 1 — veio a maior decepção da carreira de Stoffel. Com a unidade de potência da Honda, que entrou atrasada na Era Híbrida da categoria, a McLaren teve que lidar com um "motor de GP2", como disse Fernando Alonso na época, e Vandoorne não conseguiu levar seu talento à categoria de cima para demonstrar na pista o que poderia fazer.

Com um carro que afastou até mesmo um bicampeão mundial da Fórmula 1 — Alonso deixou a categoria no fim de 2018 e só voltaria em 2021, pela Alpine —, a passagem de Vandoorne foi uma decepção. O belga até se manteve próximo do espanhol em sua primeira temporada [2017], e terminou o ano com 13 pontos contra 17 do bicampeão.

No entanto, com um carro um pouco — bem pouco — menos problemático do que no ano anterior, o desempenho claramente caiu em 2018: foram apenas 12 pontos, um a menos do que em 2017, contra 50 somados por Alonso. Além disso, a 'surra' nas classificações da última temporada pesaram bastante, com o placar de 21 x 0 em favor do bicampeão.

Assim, com dois anos terríveis da McLaren-Honda tentando se encontrar com a Era Híbrida em andamento, findou-se a passagem de Vandoorne pela Fórmula 1. No total, foram 41 corridas nas duas temporadas, com 25 pontos marcados e o sétimo lugar como melhor colocação — conquistado duas vezes, ambas em 2017, nos GPs de Singapura e Malásia. Muito pouco.

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A Mercedes comemora de novo: de Nyck de Vries para Vandoorne, o título foi do time alemão nos dois últimos anos (Foto: FIA Fórmula E)

A partir daí, Vandoorne mudou o foco na carreira. Já contratado para disputar a Fórmula E pela HWA — um braço da Mercedes e nome que a equipe usou em sua primeira temporada na categoria —, Stoffel também se tornou piloto reserva do time alemão — e da McLaren — na Fórmula 1 e chegou a ser cotado para substituir Lewis Hamilton quando este foi contaminado pela Covid-19 no GP do Sakhir, antes de George Russell ser escolhido para o posto.

Conforme mostrou ao longo da carreira, Vandoorne se fez valer de um período de adaptação depois de deixar a Fórmula 1 e antes de começar a obter resultados, sendo o mais relevante deles o vice-campeonato da Fórmula E em 2019/2020. Stoffel passou a acumular também a disputa da categoria com o endurance, com participações importantes no WEC [foi vice na classe LMP2] e nas 24 Horas de Le Mans [foi terceiro colocado e depois segundo pela LMP2].

O tão sonhado título da Fórmula E já poderia ter vindo no ano passado, antes de uma batida de Oliver Rowland em Londres encerrar as pretensões de Vandoorne em levantar a taça — e o piloto ainda foi obrigado a ver a conquista cair no colo do companheiro de equipe, Nyck de Vries, na última corrida, quando os outros postulantes à liderança tiveram provas caóticas.

Um ano depois, Vandoorne usou a experiência de anos na Fórmula E e um regulamento que premia a regularidade — ao contrário das regras confusas do ano passado, que puniam os pilotos que estavam melhores colocados na tabela — para levantar o caneco tendo vencido apenas uma corrida o ano inteiro, mas subindo ao pódio em metade delas e sem pontuar em apenas uma, coisa que nenhum outro piloto conseguiu.

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Vandoorne em sua última corrida na Fórmula 1, o GP de Abu Dhabi de 2018 (Foto: McLaren)

Com duas corridas sobrando, a taça praticamente já era dele. Stoffel Vandoorne superou concorrentes fortes, como Mitch Evans e Edoardo Mortara — que venceram quatro corridas cada na temporada. O belga, por outro lado, não precisou. Se manteve sempre entre os primeiros colocados e somou pódios em cada oportunidade que surgiu, limitando os danos sempre que precisou largar em posições desfavoráveis no grid e se mantendo longe de incidentes o ano inteiro.

A última corrida de 2022 foi uma síntese disso: novamente, Vandoorne manteve o desempenho regular e se classificou bem nas duas provas do fim de semana, sem correr riscos na pista molhada de sábado. Enquanto isso, Evans mais uma vez seguiu a rotina de altos e baixos, e após vencer a corrida 1, fez uma péssima classificação e precisou escalar uma verdadeira montanha ao largar em 13º na corrida 2.

Na segunda prova do fim de semana, o novo campeão da Fórmula E repetiu o plano que lhe tornou o recordista de pontos em corridas consecutivas na categoria — já são 13 — e evitou qualquer tipo de problema, vendo Jake Dennis e António Félix da Costa, respectivamente segundo e terceiro colocados, se embolarem. Assim, o segundo lugar — e o oitavo pódio em 16 corridas — caiu em seu colo.

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A palavra merecimento tem muito a ver com o título mundial da Fórmula E em 2022. Após sentir a grande decepção de 2021 e garantir que não pensa mais na Fórmula 1 depois do fracasso de encontrar "a pior McLaren de todos os tempos" no momento em que parecia ter tudo para brilhar, enfim o belga consegue soltar o grito tão sonhado e entalado na garganta: Stoffel Vandoorne é campeão mundial.

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