Alpine passa McLaren e se põe como 4ª força, mas caso Piastri coloca tudo a perder na F1

A Alpine apresentou um carro veloz, mas que sofreu inicialmente com a confiabilidade. Mais tarde, os engenheiros adotaram uma filosofia de atualizações graduais, e isso fez o time francês saltar para o quarto posto. No entanto, essa ascensão está em risco diante do imbróglio envolvendo a saída de Fernando Alonso e o não contrato de Oscar Piastri

11 ago 2022 - 04h00
Alpine fechou a primeira parte da temporada na quarta colocação no Mundial de Construtores
Alpine fechou a primeira parte da temporada na quarta colocação no Mundial de Construtores
Foto: Alpine / Grande Prêmio

Como em 2021, quando terminou a primeira parte da temporada sob os holofotes, a Alpine se vê de novo nas manchetes. Agora, porém, menos por conta do desempenho e mais por um imbróglio insólito envolvendo o mercado de pilotos. Em questão de horas, a equipe francesa perdeu não apenas um, mas dois pilotos de uma vez. A esquadra estava em uma posição privilegiada em que colocava na balança a experiência de Fernando Alonso contra a juventude promissora de Oscar Piastri - alguém em que investe desde as categorias de base. Só que a decisão do bicampeão de trocar Enstone pela Aston Martin não estava nos planos e acabou por desencadear uma confusão de contratos poucas vezes vista na Fórmula 1. E que, em última análise, revelou ainda uma Alpine frágil e sem comando.

Logo após o anúncio do espanhol, a esquadra correu para confirmar que Piastri assumiria naturalmente o lugar de Alonso a partir de 2023. Só que o australiano não tardou em negar a declaração do time em uma reviravolta semelhante ao caso Álex Palou-Ganassi na Indy. A partir daí, o grupo liderado por Otmar Szafnauer se viu em meio a uma sucessão de intrigas, especulações e o mais insano: sem nenhum plano B. Pelo lado dos franceses, houve até certa esperança de manter Oscar - diante de contrato que, fala-se, foi assinado entre o piloto e a Academia da Alpine, o que não se aplica à F1. A equipe chegou a dizer que pretende recorrer à Alta Corte de Londres para buscar uma compensação financeira.

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O caso é que há um terceiro elemento nessa história: a McLaren. A escuderia inglesa deve ser o destino escolhido por Piastri - que entra para substituir Daniel Ricciardo. Entende-se que o movimento de Oscar se explique em partes por conta da indecisão da Alpine em torná-lo a titular. Mas há também quem aponte para outro motivo. O nome do campeão da F2 em 2021 chegou a ser cogitado na Williams. A ideia dos franceses era promover a estreia do piloto de 21 anos na F1 até que Alonso decidisse deixar a categoria - naturalmente esperava-se por um acordo com Fernando. A manobra pretendida pela Alpine é semelhante ao que a Mercedes fez com George Russell.

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Então, entre uma vaga na equipe de Grove - última colocada no Mundial de Construtores - e uma chance na McLaren, Oscar preferiu a segunda opção. O que deixou a Alpine sem muita escolha, especialmente após a inesperada decisão do bicampeão. Portanto, ao que parece, até que as peças finalmente se encaixem a equipe azul e rosa corre um risco potencialmente grande de se perder em uma temporada de ascensão.

O fato é que a Alpine vive um campeonato regular do ponto de vista do desempenho - essencial dizer que aqui que a chegada de Szafnauer trouxe o vigor que o time precisava do lado técnico, muito embora a parte esportiva tenha levado esse baile do caso Piastri. Otmar foi contratado pelos gauleses depois de ser sido demitido da Aston Martin. Ainda assim, o engenheiro romeno é respeitado pelo paddock e tem na liderança sua grande qualidade. Além de Szafnauer, o time também trouxe Bruno Famin para o cargo de diretor-técnico da fábrica de Viry-Châtillon, na França, buscando o melhor desenvolvimento do motor.

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Pode-se dizer que foram escolhas acertas. E o A522 se mostrou veloz desde o início, com soluções aerodinâmicas atraentes, mas, assim como outras rivais, sofreu com o porpoising e com a confiabilidade.  No entanto, a equipe de engenheiros adotou uma filosofia interessante quanto ao desenvolvimento do carro em uma temporada cujo teto orçamentário é vital.

Szafnauer, Pat Fry e seus comandados buscaram evoluir corrida a corrida em 2022. Diferentemente das adversárias, a Alpine implementou novidades em todas as 13 etapas - algumas provas ganharam mais peças novas que outras, mas isso não interferiu no crescimento do time. As principais mudanças envolveram o assoalho e as asas. Foram tentativas de melhorar o downforce e deixar o carro equilibrado. Entre o Bahrein, onde os engenheiros alteram a asa traseira e a parte inferior do chassi, e a Hungria, em que o fundo do carro foi alvo, a equipe francesa promoveu atualizações em defletores, nos freios traseiros, no endplate da asa dianteira, no sistema de direção, nos sidepods, na tampa do motor e na suspensão.

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O carro da Alpine ganha atualizações em todas as corridas (Foto: Alpine)

Todas as inovações ajudaram a ampliar a pressão aerodinâmica, sem perder a velocidade de reta. "Acho que acertamos com a nossa política de passos constantes. Isso ajuda no nosso entendimento do carro, porque você descobre mais rápido o que funciona e o que não funciona", disse Szafnauer à Sky Sports F1.

A consequência surge estampada na tabela de pontos: a Alpine se colocou como quarta força do grid, batendo a rival direta McLaren. A diferença entre as duas equipes é de quatro pontos (99 x 95). Ambas, inclusive, disputam praticamente sozinhas a liderança do pelotão intermediário, uma vez que a que a distância para a Alfa Romeo - a sexta colocada na classificação - é de mais de 40 pontos.

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Neste momento, Esteban Ocon é o melhor classificado e ocupa o oitavo posto no Mundial de Pilotos, com 58 tentos. O francês abriu a temporada de maneira muito forte, emendando boas atuações sempre no top-7. Esteban só não somou pontos em Ímola, Mônaco e Inglaterra. Vale destacar a performance na Áustria com a quinta posição. Já Alonso aparece duas colocações abaixo do companheiro de equipe.

O bicampeão viveu um início complicado, com problemas de confiabilidade que lhe tiraram chances de crescer na classificação. Mas o jogo virou a partir da Espanha. O melhor resultado do espanhol aconteceu em Silverstone, quando cruzou a linha de chegada no quinto lugar. Antes disso, porém, Alonso brilhou no sábado molhado em Montreal, quando cravou o segundo melhor tempo para dividir a primeira fila com Max Verstappen. E Fernando fechou essa primeira metade com um dado importante na manga: apenas o campeão da Red Bull e Lewis Hamilton somaram mais pontos consecutivos do que Alonso.

Max Verstappen conquistou a pole e terá Fernando Alonso na primeira fila (Foto: Clive Rose/Getty Images/Red Bull Content Pool)

Há uma ressalva, no entanto. Em que pese a evolução gradativa e inteligente, a Alpine perdeu pontos importantes por conta da operação. A estratégia foi o grande calcanhar de Aquiles ao longo desta primeira fase do campeonato - o Canadá talvez seja o maior exemplo. A esquadra errou as paradas de Alonso e deixou escapar a chance de um pódio. A Hungria foi outro momento: o pit-stop único, com pneus duros, não funcionou bem, apesar dos pontos conquistados com os dois carros no fim.

"No geral, ainda estamos na frente da McLaren para chegar às férias de verão, então é um bom resultado coletivo. Temos de seguir marcando pontos. Espero que a consistência seja nossa força na briga pelo quarto lugar do Mundial de Construtores", afirmou o espanhol.

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A disputa tende a ser mais apertada na segunda fase da temporada e, por isso, o peso de uma pontuação constante. Do ponto de vista técnico, a Alpine parece ter os ingredientes certos, resta saber se o lado emocional tem o que é preciso para superar a decisão de Alonso e os holofotes por conta do entrave provocado pela rejeição de Piastri.

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