40 anos atrás, o último ponto da equipe Fittipaldi na F1

Em um GP da Bélgica marcado pela morte de Gilles Villeneuve, Chico Serra usa sua habilidade e consegue levar a Fittipaldi aos pontos

9 mai 2022 - 18h32
(atualizado em 9/5/2023 às 13h31)
Chico Serra e o F8D nos treinos em Zolder
Chico Serra e o F8D nos treinos em Zolder
Foto: F1 Devianart / Twitter

A F1 tem suas datas históricas comuns. Por exemplo, as datas que envolvem títulos são de conhecimento geral. Mas cada fã tem suas datas marcantes. O lado emocional se explica, mas cada um tenta puxar a sardinha para o seu lado. E esta data de hoje tem um significado para mim.

No dia 09 de maio de 1982, a F1 alinhava em Zolder para disputar o GP da Bélgica. O fim de semana tinha ganho um peso imenso pela morte de Gilles Villeneuve no dia anterior. O clima era pesado e a Ferrari optou por não alinhar o carro de Didier Pironi. Isso acabou favorecendo dois pilotos brasileiros que estavam sofrendo aquele ano no fundo do grid: Raul Boesel, na March, e Chico Serra, na Fittipaldi.

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Para aquela temporada, a Fittipaldi vinha em um esquema bem simplificado em relação a outros anos. Após ter sobrevivido em 1981 com pequenos patrocínios e um acordo com a petroleira alemã AVIA que não se concretizou, a equipe alinhou com um carro somente, o de Chico Serra.

Havia planos para um carro novo, o F9. Mas como o dinheiro era curto, a equipe começava o ano com uma nova revisão do F8 de 1980, o F8D, usando pneus Pirelli e motores Ford Cosworth que já não eram os melhores do lote. O carro, desenhado originalmente por Harvey Postlewhaite (com uma ligeira participação de um iniciante Adrian Newey), mostrou potencial quando estreou, mas justamente a falta de recursos prejudicou seu desenvolvimento.

O carro tinha tanto potencial que “inspirou” a Ferrari 126C2, concebida pelo mesmo Postlewhaite, que havia saído da equipe no início de 1981 justamente pela falta de recursos. Tanto que, quando foi apresentado, alguns apelidaram o carro de a “Fittipaldi vermelha”.

Mas os tempos eram bicudos. Serra alinhou o seu Fittipaldi 20 na 23ª posição ao lado de Raul Boesel. A expectativa era fazer a melhor corrida possível com aquele equipamento. Eram tempos de eletrônica zero e alto nível de quebras. Tanto que só pontuavam 6 carros dos 26 que largavam.

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Chico Serra em um momento de reflexão antes do GP da Belgica
Foto: F1 Devianart / Twitter

Logo na largada, Serra ganhou várias posições. Nigel Mansell (Lotus) e Derek Warwick (Toleman) não conseguem largar. Tentando desviar de Mansell, Bruno Giacomelli (Alfa Romeo) acertou Eliseo Salazar (ATS) e os dois abandonaram. Manfred Winkelhock (ATS) também não completa a primeira volta com problemas de embreagem.

A partir daí, começa a corrida de administração de Serra, tentando levar o carro até o final e da melhor maneira possível. Até ali, o melhor resultado havia sido o 17º lugar em Kyalami. Na volta para a Europa, o objetivo era ter um bom desempenho para conseguir angariar fundos para finalizar o F9 e pensar em passos mais longos.

A F1 estava em um período de transição e os aspirados acabavam por ser superados pelos turbos. Entretanto, os motores convencionais acabavam por ter uma confiabilidade maior e se garantiam nisso. Tanto que René Arnoux (Renault) e Teo Fabi (Toleman) também abandonaram.

Logo no início da prova, Serra se aproveitou e já estava na 15ª colocação. E vinha em uma briga com Brian Henton (Tyrrell), Jochen Mass (March) e Marc Surer (Arrows). Serra era conhecido principalmente na base por ser um piloto aguerrido. E mesmo com a Fittipaldi longe do ideal, vinha mantendo um bom ritmo, se mantendo junto ao pelotão. E subiu mais um pouco com os problemas de freio de Alain Prost (Renault) e as duas Tyrrell com motor quebrado.

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No meio da prova, Serra estava na 12ª posição, mesmo após ter rodado na curva logo depois da reta e perdido tempo, quase batendo em Niki Lauda, que estava em 2º.  Por sorte, não houve dano grave e seguiu adiante. Mas o ritmo era bom e a equipe o incentivava.

Mais à frente os problemas iam aparecendo e mais gente ia parando. Um que teve problemas foi Nelson Piquet, que naquele ano tinha o papel de desenvolver o motor BMW Turbo. Após quase parar por conta de cambio defeituoso, o brasileiro seguiu adiante após entrar no box e a caixa de marchas resolveu funcionar de novo.

Combinando talento e paciência, Chico Serra levou a Fittipaldi aos pontos, contando com a exclusão de Niki Lauda
Foto: F1 Devianart / Twitter

Faltando 15 voltas para o final, os pneus desgastados e as saias defeituosas fizeram Serra ter outra rodada. A frente ficou um pouco danificada, porém não o impediu de continuar. Mesmo com este incidente, a Fittipaldi ocupava a 10ª posição. Nos dias atuais, este resultado daria um ponto à equipe brasileira.

Como falamos antes, estes eram outros tempos: carros quebravam! Em um espaço de 3 voltas, Prost rodou por conta dos freios, Derek Daly (Williams) batia e Mass abandonava com o motor partido. Tudo isso fazia com que Serra obtivesse a 6ª posição. Isso significaria um animo para o time, que não pontuava desde a temporada de 1980 (5º lugar com Keke Rosberg, no GP da Itália) e para o piloto, que havia surgido com bons resultados nas categorias de base.

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Mas Piquet, que havia tido mais problemas, ultrapassou a Fittipaldi na volta 62 e assumiu a 6ª posição. Serra caia para a 7ª posição e levou as últimas voltas no talento, com o motor apresentando problemas de pressão de óleo. Conseguiu chegar, 3 voltas atrás do vencedor, John Watson (McLaren).

Houve uma comemoração por parte do time com o resultado. E que se tornou maior ainda com a notícia que de Niki Lauda, que havia chegado em 3º, foi desclassificado por seu carro estar 2kg abaixo do peso mínimo estabelecido.  Após tanta luta, Chico Serra obteve seu primeiro ponto e a Fittipaldi voltava a pontuar. Era um alento diante de tantas notícias ruins.

Mesmo assim, não foi o suficiente para salvar o time, que encerrou suas atividades naquela temporada. O esforço feito pelos irmãos Fittipaldi foi grande e muitas vezes foi diminuído e ridicularizado. Mas os verdadeiros fãs brasileiros sabem dar o devido valor e por isso este fato está sendo lembrado aqui. Para mim, tem um valor enorme esta história, que terá espaço aqui no Parabólica mais vezes.

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