A Porsche anunciou na terça-feira a saída de seu programa oficial no Campeonato Mundial de Endurance (WEC) ao final da temporada de 2025, encerrando a operação da Porsche Penske Motorsport na categoria Hypercar após as 8 Horas do Bahrein, em 8 de novembro. A decisão, motivada por uma "reorganização abrangente" da Porsche AG, reflete dificuldades financeiras causadas por fatores macroeconômicos e geopolíticos, como a queda na demanda por veículos premium na China e tarifas de importação nos Estados Unidos. A montadora concentrará seus esforços no IMSA SportsCar Championship, com o Porsche 963, e na Fórmula E, com o Porsche 99X Electric, mantendo também o suporte a programas de corridas de clientes, como o Porsche 911 GT3 R Evo, previsto para 2026.
Projeto Porsche 963
Em 16 de dezembro de 2020, a Porsche anunciou pela primeira vez que retornaria às principais classes das duas maiores séries de Endurance do mundo: o FIA World Endurance Championship (WEC) e o IMSA WeatherTech SportsCar Championship. A motivação para isso foi a decisão da FIA e IMSA de introduzir um conjunto comum de regras para os principais veículos a partir da temporada de 2023: protótipos híbridos na categoria LMDh (Le Mans Daytona hybrid).
O retorno da Porsche à classe principal do endurance — tanto no IMSA quanto no WEC, incluindo Le Mans — começou a tomar forma em maio de 2021, com o anúncio da parceria estratégica com a Penske. Juntas, elas deram origem à Porsche Penske Motorsport, equipe global responsável por comandar os dois programas oficiais da montadora. A Multimatic foi escolhida como fornecedora do chassi, entre os quatro fabricantes homologados para o regulamento LMDh.
A estreia da Porsche Penske Motorsport na IMSA, durante as 24 Horas de Daytona de 2023, marcou o início oficial de uma nova era para a montadora no endurance. O clássico americano serviu como primeiro grande teste para o Porsche 963, que mostrou potencial competitivo logo de cara, largando das primeiras filas e liderando voltas importantes com o carro #7. No entanto, questões de confiabilidade e ajustes operacionais impediram um resultado à altura das expectativas: os dois protótipos oficiais terminaram em sétimo e oitavo, gerando frustração dentro da equipe.
O início da campanha no WEC, em Sebring, também ficou abaixo do esperado, com a Porsche cruzando a linha de chegada em quinto e sexto. A partir dali, porém, o trabalho contínuo de desenvolvimento começou a surtir efeito — e a curva de desempenho da equipe cresceu de forma consistente nas etapas seguintes.
Em 2024, a equipe teve seu melhor ano no WEC, vencendo o campeonato de pilotos com Kévin Estre, André Lotterer e Laurens Vanthoor, e disputando até as últimas voltas o título de construtores, que ficou nas mãos da Toyota Gazoo Racing.
A temporada de 2025 do WEC, todavia, não começou da forma que a Porsche esperava, com resultados abaixo do que a montadora alemã estava acostumada. A primeira vitória, conquistada pelo carro #6, aconteceu apenas na sexta etapa do campeonato.
Até o momento, o modelo Porsche 963 participou de três edições das 24 Horas de Le Mans sem conseguir vencer — o melhor resultado conquistado pela equipe foi um vice-líder na edição de 2025.
A decisão de sair do WEC impacta diretamente as ambições da Porsche nas 24 Horas de Le Mans, onde a marca detém o recorde de 19 vitórias. O Porsche 963, apesar de quatro vitórias no WEC, incluindo Qatar 1812 km, Fuji 6 Horas e Lone Star Le Mans em Austin, não alcançou a sonhada 20ª vitória em Le Mans, uma meta também perseguida por Roger Penske, parceiro da equipe. "Lamentamos muito que, devido às circunstâncias atuais, não continuaremos no WEC após esta temporada", declarou Dr. Michael Steiner, membro do conselho executivo de desenvolvimento da Porsche.
Thomas Laudenbach, vice-presidente da Porsche Motorsport, destacou que o IMSA foi escolhido por sua relevância no mercado norte-americano e pela compatibilidade com os valores esportivos da equipe, beneficiada por um sistema de Balance of Performance (BoP) menos restritivo. Ele também reforçou a importância da Fórmula E para o desenvolvimento tecnológico, com avanços em eletrificação que beneficiam os carros de rua da marca. No IMSA, o Porsche 963 seguirá competindo em 2026, com vitórias em Daytona e Sebring em 2025 e chance de títulos na Petit Le Mans, neste sábado.
A saída da Porsche é um revés significativo para o WEC, que perde um de seus maiores atrativos, comparável à Ferrari na Fórmula 1. Após a recente retirada da Lamborghini, a ausência da Porsche, ao lado de Ferrari e Toyota, deixa uma lacuna na categoria Hypercar. Apesar da chegada da Genesis em 2026 manter oito fabricantes na classe, nenhum substitui o peso histórico da Porsche. A equipe cliente Proton Competition, que opera um 963, enfrenta incertezas, pois o regulamento exige ao menos dois carros por fabricante, e a continuidade depende de aprovação da FIA.
Para os pilotos, a redução para seis vagas no IMSA cria incertezas. Kévin Estre e Laurens Vanthoor, campeões mundiais, e Julien Andlauer e Felipe Nasr têm maiores chances de permanecer. Michael Christensen e Nick Tandy enfrentam futuro incerto, enquanto Mathieu Jaminet e Matt Campbell são cotados por outras marcas. "Temos alguns dos melhores pilotos de protótipos do mundo, e estamos cientes da situação", disse Laudenbach, indicando que o alinhamento de 2026 será anunciado em novembro, durante o Porsche Night of Champions.
O legado do Porsche 963 no WEC inclui o título de pilotos de 2024, vice-campeonato de construtores e pole position em Le Mans. Na temporada atual, a equipe segue na disputa pelos títulos de pilotos e construtores no Bahrein, embora dependa de falhas da Ferrari. No IMSA, o 963 pode conquistar títulos de fabricantes, equipes e pilotos na Petit Le Mans. Apesar dos feitos, a ausência de vitória em Le Mans deixa o 963 como o primeiro Porsche desde o 908, em 1969, a não vencer a prova, marcando um capítulo incompleto na história da marca.