Taxas fecham em alta com dólar, transmissão local de coronavírus e exterior

5 mar 2020 - 18h58

A curva de juros doméstica continuou sendo conduzida pela volatilidade no mercado de câmbio na etapa vespertina e, mais para o fim da tarde, a informação de que o Brasil já tem casos de transmissão local de coronavírus e o aumento da aversão ao risco no exterior estressaram ainda mais o mercado. Esse combo provocou forte recomposição dos prêmios que haviam sido retirados nas duas últimas sessões e as taxas retornaram aos níveis em que estavam antes da decisão extraordinária do Federal Reserve de reduzir os juros na terça-feira. Com isso, a curva limpou as apostas de queda de 0,5 ponto da Selic na precificação da curva.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou a 3,880% (regular) e 3,91% (estendida), de 3,763% ontem no ajuste. No trecho intermediário, a taxa do DI para janeiro de 2023 encerrou com alta de mais de 20 pontos-base, retornando ao nível de 5% ao passar de 4,821% para 5,07% (regular) e 5,10% (estendida). O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 6,54% (regular) e 6,53% (estendida), de 6,361%.

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As taxas já subiam pela manhã, quando o dólar à vista rompia o patamar de R$ 4,60 e ampliaram a alta à tarde com a moeda batendo nos R$ 4,66 nas máximas. Depois que o Banco Central (BC) realizou o terceiro leilão extraordinário de swap cambial no dia, no meio da tarde, o dólar arrefeceu para R$ 4,64 e, com isso, o avanço das taxas perdeu um pouco de fôlego. Na estendida, o movimento voltou a ganhar força com a informação de que, entre os novos registros do coronavírus no Brasil - os casos confirmados subiram para oito - estão os primeiros de transmissão interna.

Rogério Braga, diretor de Gestão de Renda Fixa e Multimercados da Quantitas Asset, afirma que, teoricamente, a reação da curva deveria ser a oposta, dado que o quadro agora pode exigir ainda mais alívio na Selic. "Mas o racional ficou de lado, com os players optando por zeragens técnicas de posição para se livrar do risco", explicou. O movimento coincidiu ainda com um aumento da tensão nas bolsas em Wall Street, com ampliação das perdas em fim de pregão.

Durante a sessão regular, quem definiu o desenho da curva foi o câmbio. "O grande canal do mercado de juros tem sido o dólar, com os players chamando o BC e pedindo um plano de voo mais claro sobre as intervenções", disse o economista-chefe da Guide Investimentos, João Mauricio Rosal.

A ação coordenada de vários bancos centrais nesta semana para amenizar o impacto econômico do coronavírus na economia, juntamente com a divulgação de um comunicado do BC sobre a epidemia, havia ampliado a expectativa de queda da Selic no Copom de março, com surgimento das apostas de aceleração do ritmo de corte para 0,5 ponto porcentual. Mas com o dólar nos atuais níveis e a pouca efetividade das intervenções do BC, o mercado ficou um pouco mais conservador nas mesas e essa aposta não aparece mais.

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Segundo o Haitong Banco de Investimentos, a curva precificava 100% de chance de redução de 0,25 ponto para março e 35% de possibilidade de um corte dessa magnitude para maio (65% de probabilidade de manutenção).

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