BRASÍLIA - A manutenção do tarifaço de 50% dos Estados Unidos sobre produtos agropecuários brasileiros pode gerar impacto negativo de US$ 2,7 bilhões na balança comercial em 2026, estima a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). O valor é equivalente a 22% das exportações agropecuárias brasileiras aos Estados Unidos, tendo como base o total exportado no ano passado, anteriormente ao tarifaço.
"45% da pauta agropecuária ainda segue com tarifa adicional. Os principais produtos que estão fora da exceção são pescados, sebo bovino, mel, uvas e etanol, os quais permanecem com 50% de tarifa", disse a diretora de Relações Internacionais da CNA, Sueme Mori, em entrevista à imprensa nesta terça-feira, 9, em referência à retirada do tarifaço sobre uma série de produtos brasileiros, anunciada em 20 de novembro pela Casa Branca.
Mori citou a tilápia, que tem 97% das exportações o mercado americano como destino, o que gera um grande impacto para a cadeia. "Em 2024, exportamos para os Estados Unidos US$ 52 milhões, e para o resto do mundo US$ 1,4 milhão em pescados. Isso significa que mais de 97% das exportações de tilápia do Brasil tem o mercado americano como principal destino. Há cooperativas que exportam exclusivamente para os Estados Unidos e que agora estão muito prejudicadas", pontuou.
"Os maiores impactos são para as cadeias que têm uma dependência muito grande do mercado americano e de produtores ou cooperativas que vendem exclusivamente para os Estados Unidos e não são internacionalizadas, porque não conseguem remanejar para outros mercados, caso do mel e dos pescados", acrescentou. Ela lembrou ainda que a investigação dos EUA sobre eventuais práticas desleais cometidas pelo Brasil no âmbito da seção 301 ainda não foi concluída, podendo gerar novas sanções sobre o Brasil.
No acumulado do ano, em virtude do tarifaço, as exportações do agronegócio brasileiro para os Estados Unidos recuaram 4% até novembro. "De janeiro a julho, houve uma alta de 20% em valor exportado para os EUA e depois de agosto a novembro uma redução de 38%. Houve uma antecipação muito grande dos embarques até agosto e isso acabou compensando a redução de exportações para o mercado americano, de agosto até novembro", apontou Mori.
A diretora destacou ainda que houve redirecionamento das exportações do agronegócio para outros países, que ajudaram a minimizar os impactos negativos da redução dos embarques aos Estados Unidos. "A China comprou US$ 148 milhões mais de café verde. A União Europeia também comprou mais café. China e México cresceram na compra de carne bovina. Esse movimento acabou compensando as perdas do setor", observou.
Para 2026, segundo a diretora, o principal movimento a ser acompanhado é o impacto dos acordos negociados pelos Estados Unidos com outros países fornecedores de produtos agropecuários sobre a pauta exportadora brasileira.
A CNA vê os Estados Unidos mantendo uma política comercial agressiva, alinhada à estratégia de estímulo à industrialização e atração de investimentos estrangeiros. Mori afirmou que esses acordos comerciais podem reconfigurar o fluxo global de produtos agropecuários. Esses rearranjos geopolíticos e tarifários devem comprometer as exportações brasileiras e a competitividade do País nos principais destinos compradores.
Mori lembrou que as reduções de tarifas negociadas pelos Estados Unidos estão atreladas a concessões comerciais dos parceiros, com acordos focados em acesso ao mercado, compromisso de investimentos no mercado americano e compromisso de compras de produtos, na sua maioria produtos agropecuários americanos.
"Isso tem muita relevância para nós. Por exemplo, no caso do Japão, ele se comprometeu a ampliar em 75% as compras de arroz dos Estados Unidos. O Reino Unido se comprometeu a comprar US$ 700 milhões de etanol e criou uma cota específica para a carne de bovina americana. A Indonésia, além de eliminar praticamente tarifas de 99% dos produtos americanos que entram no mercado, também fez um compromisso de comprar US$ 4,5 bilhões em produtos americanos, e o Vietnã também fez um compromisso de compra de US$ 2,9 bilhões em produtos agrícolas americanos", exemplificou Mori.
Segundo a diretora, esse movimento afeta o comércio agrícola coo um todo, sendo que o Brasil exporta produtos agropecuários para estes países que firmaram acordo com os EUA.