Patrocínio

Por que os EUA estão passando pela 'maior transferência de renda entre gerações' da história

Entre 2018 e 2042, estima-se que cerca de US$ 70 trilhões mudarão de mãos no país, conforme o enorme patrimônio acumulado pelos 'baby boomers' é passado para seus herdeiros.

18 set 2021 - 17h31
(atualizado às 18h19)
Membros da geração X e da geração do milênio serão os mais beneficiados
Membros da geração X e da geração do milênio serão os mais beneficiados
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

As estimativas variam, mas todos concordam que é muito, muito dinheiro. Nas próximas duas décadas, os Estados Unidos testemunharão o que é visto como "a maior transferência de riqueza da história" entre gerações.

Durante esse período, os membros da geração conhecida como baby boomers — que agora têm entre 57 a 75 anos, aproximadamente — passarão seu patrimônio para seus descendentes à medida que envelhecem e morrem.

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É um processo natural que ocorre em todas as gerações, mas que neste caso tem uma particularidade: a enorme quantidade de dinheiro em jogo. De 2018 a 2042, cerca de US$ 70 trilhões vão mudar de mãos, segundo cálculos da consultoria Cerulli Associates. Herdeiros devem receber cerca de US$ 61 trilhões, enquanto o restante será convertido em doações.

Acredita-se que essa transferência envolverá 45 milhões de famílias americanas.

Mas o que torna possível essa transferência massiva de recursos?

'A geração mais rica'

A geração de 'baby boomers' está se aposentando
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Nascidos após o fim da Segunda Guerra Mundial, os baby boomers se beneficiaram de uma economia em constante crescimento, taxas de impostos mais baixas para as famílias mais ricas e do notável aumento no valor dos imóveis e investimentos em ações.

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Essas condições também favoreceram parcialmente a chamada "geração silenciosa" (à qual pertence o presidente Joe Biden, formada por nascidos entre as décadas de 1920 e 1940), que atualmente representa apenas 6% da população do país e acumula 32% da riqueza que os bilionários possuem nos Estados Unidos. segundo o levantamento Índice de Poder Geracional de 2021 da empresa Visual Capitalist.

Os boomers, por sua vez, são a geração que concentra a maior parte do poder econômico do país (43%) e à qual pertencem os presidentes de 72% das empresas que compõem o índice S&P 500, que reúne as 500 maiores companhias com ações negociadas em bolsa no país.

Eles cresceram em um contexto econômico muito favorável em que diplomas universitários eram obtidos sem necessidade de se contrair grandes dívidas; os empregos tinham maior proteção e havia um mercado imobiliário mais acessível. Essas condições permitiram que eles prosperassem e construíssem um patrimônio que continuou a crescer ao longo do tempo.

Chayce Horton, analista da Cerulli Associates e especialista na área de administração de grandes fortunas, observa que essa geração aposentada é a "mais rica da história dos Estados Unidos".

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Investimento responsável

Transferência de riqueza já está em andamento
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Embora a transferência de riqueza já esteja em andamento, Horton adverte que atualmente "apenas" cerca de US$ 1 trilhão está mudando de mãos a cada ano com esse processo.

"Nosso modelo prevê que a maior parte da transferência de riqueza ocorrerá na parte final desses 25 anos. Acreditamos que o repasse de até 70% dos US$ 70 trilhões vai ocorrer entre 2032 e 2042", afirma.

É, portanto, um processo gradual. Mas isso não quer dizer, entretanto, que seu impacto não será sentido em breve. "A principal mensagem para as empresas de gestão de patrimônio é que haverá um boom de investimentos com que levam em consideração as questões ambientais, de responsabilidade social e boa governança (ESG)", diz Horton.

O especialista explica que 79% dos membros da geração milênio e 57% dos membros da geração X — que serão os herdeiros primordiais dos baby boomers — dizem que prefeririam investir em empresas com um perfil ESG positivo, enquanto apenas 37% dos boomers consideram isso importante.

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Horton acrescenta que isso significa que nos próximos 25 anos haverá preferências por diferentes produtos de investimento, especialmente entre famílias mais ricas que desejam usar sua riqueza para gerar um impacto positivo no mundo.

Ajudando a geração millennial

Conhecida como a mais endividada e que tem menos riqueza acumulada, após enfrentar sucessivas recessões e um alto aumento em seu custo de vida, a geração millennial — cuja idade atualmente varia entre 26 e 40 anos, aproximadamente — também vai encontrar algum alívio graças a essa transferência de riqueza.

No entanto, isso não vai acontecer tão cedo. De acordo com projeções da Cerulli Associates, 44% dos recursos que mudarão de mãos irão para famílias chefiadas por membros da geração X — que têm hoje entre 40 e 60 anos —, enquanto 32% irão para a geração millennial.

"A maior parte dessas transferências para os millennials não acontecerá até os estágios finais, especialmente entre o final dos anos 2030 e o início dos anos 2040, então não é algo pelo qual eles devam ficar esperando", diz Horton. "Isso pode ser potencialmente benéfico, mas não posso dizer que vai curar todo o sofrimento pelo qual eles estão passando atualmente."

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