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Pesquisa identifica arma contra devastadora doença citrícola greening

5 dez 2017 - 16h58

Uma pesquisa finalizada nesta semana após seis anos de trabalhos identificou a molécula que atrai o inseto transmissor do greening, em um passo importante para o desenvolvimento de uma arma contra a doença mais devastadora da citricultura do Brasil, o maior exportador global de suco de laranja.

Os resultados do estudo, obtidos com exclusividade pela Reuters, permitirão que os citricultores possam contar no prazo de cerca de um ano com um instrumento mais eficaz no combate ao psilídeo "Diaphorina citri", transmissor do greening, que não tem cura e pode levar à erradicação de um pomar.

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A ideia é sintetizar o feromônio identificado que atrai o psilídeo e depois utilizá-lo em armadilhas adesivas já usadas atualmente, de modo a aumentar a captura do inseto, reduzindo assim a propagação da doença que resultou, desde 2005, na erradicação de uma área de laranjais equivalente à quase metade do atual parque citrícola brasileiro.

"Isso não vai trazer a cura da doença, mas vai permitir que trabalhemos de forma inteligente e assertiva contra o inseto", disse o gerente-geral do Fundecitrus, Juliano Ayres, lembrando que hoje o combate ao psilídeo é dificultado em razão de sua migração por longas distâncias.

O estudo foi realizado pelo Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), em parceria com a Universidade da Califórnia (UCDavis) e Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).

"Há duas soluções para o greening: uma, de longo prazo, é buscar uma planta resistente, o que envolve biotecnologia; outra, de curto prazo, que foi a que buscamos agora, é aperfeiçoar o controle da doença, eliminando as plantas infectadas e controlando o inseto transmissor", acrescentou.

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Segundo dados oficiais citados pelo Fundecitrus, o parque citrícola da principal área produtora possui atualmente quase 175 milhões de árvores, ocupando em torno de 415 mil hectares. E em torno de 32 milhões de pés estão infectadas com o greening.

O Fundecitrus não estima as perdas geradas pelo greening, mas destacou que entre 2005 a 2016 foram erradicadas 46,2 milhões de árvores infectadas em um total de 220 mil hectares, na região produtora de São Paulo e Minas Gerais, que responde por quase a totalidade das exportações de suco de laranja do país.

O Fundecitrus investiu 1,5 milhão de reais na pesquisa, mas o valor total dos trabalhos superou os 2 milhões de dólares, segundo Ayres, que não precisou o montante.

Um investimento relativamente pequeno perto dos benefícios que pode trazer para o setor e também em relação ao tamanho da citricultura nacional, que movimenta anualmente 14 bilhões de dólares, gerando 200 mil empregos diretos e indiretos, de acordo com estudo elaborado pela Markestrat em 2010.

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Descoberto há pouco mais de uma década, o greening é uma doença que provoca o amarelamento das folhas e até a má formação dos frutos, reduzindo a produtividade dos pés a apenas 20 por cento do total em um espaço de cinco a seis anos.

Em São Paulo, principal parque citrícola do Brasil, o greening afeta em torno de 17 por cento dos pomares, mas é na Flórida, maior Estado norte-americano produtor de citros, que os estragos são mais evidentes.

De 2006 para cá, a produção de laranjas na região dos Estados Unidos diminuiu de 170 milhões de caixas para 50 milhões de caixas, segundo Ayres, do Fundecitrus.

A descoberta do feromônio que atrai o greening, portanto, é uma boa notícia para os produtores de citros ao redor do mundo --a doença só não está presente na Austrália e na região do Mar Mediterrâneo--, embora a comercialização do composto deva demorar mais um ano para ocorrer.

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"A pesquisa continua em duas partes. Uma é a formulação do feromônio, ou seja, transformar esse produto em algo prático, o que deve demorar um ano. A outra parte é continuar pesquisando para saber se há mais alguma coisa para se adicionar nesse composto", disse à Reuters o pesquisador brasileiro Walter Leal, da UCDavis, referência nesse tipo de trabalho, com 30 anos de experiência.

A pesquisa realizada por Fundecitrus, UCDavis e Esalq/USP contou com o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Os testes foram realizados no laboratório de Ecologia Química e Comportamento de Insetos do Fundecitrus, inaugurado em 2010 em Araraquara (SP), e depois levados a campo nos municípios paulistas de Mogi Mirim e São Lourenço do Turvo.

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