Num cenário de juros altos, crédito escasso e consumidores cada vez mais conectados, a tecnologia tem se mostrado um dos principais motores de crescimento para micro e pequenos empreendedores no Brasil. Ferramentas acessíveis como WhatsApp Business, Pix e redes sociais vêm transformando a forma como negócios se relacionam com clientes, vendem e recebem.
Hoje, o pequeno empreendedor depende da tecnologia para manter uma margem saudável. E não estamos falando de grandes investimentos, mas de soluções simples e acessíveis, como o próprio WhatsApp, que virou um verdadeiro balcão digital”, explica o advogado e empresário Lucas Mantovani, especialista em Direito Empresarial e sócio da SAFIE Consultoria.
Segundo ele, mais da metade das empresas da América Latina já usam inteligência artificial generativa em processos como marketing e atendimento ao cliente — e esse movimento vem crescendo também entre negócios de menor porte. “O consumidor está digitalizado. Mesmo quem tem dificuldade com tecnologia usa Instagram todos os dias e compra por recomendação. Isso cria um campo fértil para quem souber se posicionar.”
Vender com menos atrito
A chave está em reduzir obstáculos na jornada de compra. É o que explica Patrícia Carvalho dos Santos, CEO da legaltech DeltaAI e ex-diretora de marketing da Bitso e do Twitter.
“Tecnologia, quando bem usada, reduz o que chamamos de friction — as barreiras que dificultam a conversão. No TikTok, por exemplo, o vídeo toca sozinho. Isso elimina um clique e aumenta o engajamento. Para o pequeno negócio, vale o mesmo: automatizar respostas, integrar pagamento via Pix, parcelar sem maquininha... tudo isso facilita a venda.”
Dados do Sebrae mostram que 7 em cada 10 pequenos negócios já usam redes sociais como principal canal de vendas. E o impacto é ainda maior quando se adiciona automação. “Bots de atendimento aumentam em até 30% a taxa de resposta e melhoram a percepção de profissionalismo, mesmo em empresas individuais”, destaca Patrícia.
Pix parcelado e crédito menos agressivo
O Pix, já amplamente adotado no Brasil, também vive uma nova fase com o avanço do Pix parcelado. A funcionalidade reduz a dependência de maquininhas, melhora o fluxo de caixa de quem vende e amplia o acesso ao consumo — especialmente entre os brasileiros que recorrem ao crédito rotativo.
“O Brasil é um dos países que mais usam crédito rotativo no mundo. O Pix parcelado tem o potencial de transformar a forma como compramos e vendemos, democratizando ainda mais o comércio digital”, afirma Patrícia. Segundo o Banco Central, o sistema já movimenta mais de R$ 2 trilhões por trimestre.
Crescimento com responsabilidade
Apesar das facilidades, os especialistas fazem um alerta: inovação não pode ser feita no improviso. “Cada nova tecnologia resolve problemas, mas também traz riscos. O consumidor deve estar no centro de tudo, e times jurídicos e de marketing precisam atuar juntos para evitar abusos ou falhas na experiência”, defende Patrícia.
Lucas concorda. Para ele, crescer com tecnologia é possível — e necessário —, mas exige estrutura mínima. “Não dá para ignorar segurança digital, políticas de privacidade ou atendimento qualificado. O empreendedor precisa se ver como empresa desde o início.”
Com criatividade, estratégia e as ferramentas certas, a tecnologia deixou de ser um luxo ou um diferencial — e passou a ser condição básica para competir no mercado E não é preciso grandes recursos: o essencial já está na palma da mão. Como resume Mantovani: “Quem aprende a usar bem o que já tem disponível, consegue crescer com mais eficiência e menos risco.”