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Lucro das aéreas deve subir 3,8% no mundo, mas cair 20% na América Latina, prevê Iata

Associação Internacional de Transporte Aéreo estima que número global de passageiros deve alcançar 5,2 bilhões no próximo ano, um crescimento anual de 4,4%

9 dez 2025 - 07h54
(atualizado às 09h36)

GENEBRA - O lucro combinado das companhias aéreas globais deve alcançar US$ 41 bilhões em 2026, alta de 3,8% na comparação com 2025, projeta a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês). Mesmo com o resultado recorde, a entidade prevê que a margem líquida deve permanecer em 3,9%, estável ante o ano anterior.

"Não é um desempenho ruim, já que o setor nunca superou a margem de 5%", avalia a economista-chefe da Iata, Marie Owens. "Ainda assim, trata-se de um nível extremamente baixo. Qualquer grande petroleira consegue gerar sozinha esse valor em um único trimestre. Estamos falando do lucro anual de toda a indústria", acrescenta.

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A Iata estima que a receita total da aviação chegue a US$ 1,053 trilhão em 2026, aumento de 4,5% em relação aos US$ 1,008 trilhão esperado para 2025. Já o lucro por passageiro deve permanecer em US$ 7,90, abaixo do pico de 2023, mas estável em relação ao ano corrente.

Para o diretor-geral da Iata, Willie Walsh, as estimativas são "extremamente bem-vindas, considerando os ventos contrários" enfrentados pelo setor, como aumento de custos, conflitos geopolíticos e carga regulatória crescente. "As aéreas construíram com sucesso uma resiliência de absorção de choques nos seus negócios, o que tem permitido uma rentabilidade estável. Mas, embora a indústria esteja operando melhor, os retornos ainda não cobrem o custo de capital", reforçou.

A Iata projeta ainda avanço no lucro operacional, que deve subir de US$ 67 bilhões em 2025 para US$ 72,8 bilhões em 2026, elevando a margem operacional de 6,6% para 6,9%. Ainda assim, o retorno sobre o capital investido (ROIC) deve permanecer em 6,8%, abaixo do custo médio ponderado de capital (WACC), estimado em 8,2%.

Do ponto de vista operacional, a taxa média de ocupação deve permanecer em níveis recordes, chegando a 83,8%. Já o número global de passageiros deve alcançar 5,2 bilhões, crescimento anual de 4,4%.

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Custos

Em relação aos custos, a expectativa é de que o gasto com combustível caia cerca de 0,3% em 2026, para US$ 252 bilhões, reflexo de um recuo previsto no preço do petróleo Brent para US$ 62 por barril. Já o preço do querosene de aviação deve recuar 2,4%, enquanto o combustível deve representar 25,7% das despesas operacionais totais das companhias aéreas.

Os custos não relacionados a combustível, por sua vez, devem alcançar US$ 729 bilhões, alta de 5,8%, com mão de obra se consolidando como o maior componente, representando 28% dos gastos. A indústria segue enfrentando dificuldades para recuperar os níveis de produtividade pré-pandemia, embora o ritmo de contratação seja elevado, segundo a Iata.

Manutenção, leasing, tarifas aeroportuárias e taxas de navegação também continuam pressionando o orçamento. Um dólar mais fraco pode proporcionar algum alívio, com potencial de elevar os lucros globais em cerca de 1%, já que entre 55% e 60% dos custos das companhias são denominados na moeda norte-americana.

Queda na América Latina

O lucro das companhias aéreas da América Latina deve cair 20% em 2026, passando dos US$ 2,5 bilhões esperados em 2025 para US$ 2 bilhões, projeta a Iata. A margem líquida deve recuar de 5,2% para 3,8%, enquanto a expectativa é que o lucro por passageiro caia de US$ 7,30 para US$ 5,70. Com isso, o desempenho da região deve destoar da tendência global.

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Apesar da pressão sobre a rentabilidade, demanda e oferta seguem aquecidas na região, impulsionadas pela estabilidade econômica e melhoria da conectividade intrarregional. A Iata prevê alta de 6,6% na demanda, medidas por passageiros-quilômetro transportados pagos (RPK) e avanço de 6,5% na capacidade, medida por assentos-quilômetro oferecidos (ASK).

Walsh afirmou que a América Latina "deveria estar entre os mercados de aviação que mais crescem no mundo", mas enfrenta obstáculos que travam o desenvolvimento. "O ambiente operacional na região é particularmente desafiador", disse.

Como exemplo, citou pressões regulatórias e tributárias. "Muitas vezes, os governos se deixam enganar ao olhar para a receita bruta em vez do lucro líquido e acabam acreditando que esta é uma indústria que pode suportar custos adicionais e é muito lucrativa, mas, na verdade, não é", acrescentou.

Walsh ponderou, que existem sinais positivos, "especialmente no Brasil", mas ainda insuficientes para destravar o potencial do setor. A realização da Assembleia Geral Anual (AGM, na sigla em inglês) da Iata no País ano que vem deve servir, segundo o executivo, para indicar aos governos da região o quanto o mercado poderia avançar caso as pautas regulatórias e tributárias fossem endereçadas.

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A carga elevada de impostos e complexidades regulatórias é um dos fatores que ajudam a explicar as recuperações judiciais de aéreas na região, ainda segundo Walsh. "É muito frustrante, porque há companhias muito bem administradas que foram forçadas a se reestruturar por causa de questões totalmente fora do controle delas", afirmou, citando também a volatidade cambial.

Para a Iata, as flutuações cambiais continuam sendo um obstáculo crítico para as operações das aéreas da América Latina no próximo ano. Embora 2025 tenha apresentado um alívio temporário com a valorização das moedas locais, a volatilidade deverá continuar a desafiar a gestão de custos e a rentabilidade.

O diretor-geral da Iata comparou o cenário da região com o da África. "Provavelmente é um pouco melhor, mas muitos dos problemas que encontramos na África também encontramos na América Latina. Isso é decepcionante, porque acreditamos que há uma enorme oportunidade de crescimento no mercado, o que ajudaria a facilitar um maior crescimento econômico também", finalizou.

A repórter viajou a convite da Iata

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