Intolerância religiosa na empresa: é hora de dar um basta

24 mai 2022 - 03h00
Cammila Yochabell, umbandista, CEO da Jobecam 
Cammila Yochabell, umbandista, CEO da Jobecam
Foto: Reprodução

O Brasil é um país bastante diverso, mas igualmente intolerante. Essa intolerância pode ser observada em diferentes esferas da sociedade, e no ambiente corporativo os impactos podem ser bastante significativos. Entre as formas de fomentar a diversidade e reverter esse quadro, há formas de exercitar a tolerância em seus diversos âmbitos, mas agora especificamente quero abordar sobre tolerância religiosa e aplicar o respeito às religiões nas empresas.

Embora o Brasil seja um país majoritariamente cristão, existem diversas outras religiões praticadas no país. Essas religiões possuem fundamento, história e muita resistência ao enfrentar o preconceito. Apesar deste cenário, a tolerância religiosa é respaldada por Fernando Kede, advogado especializado em Direito do Trabalho Empresarial.

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O especialista ainda alerta que é muito importante que as empresas tomem conhecimento sobre perguntas proibidas no processo seletivo, para que não precisem pagar multas ou corram risco de vazamento de dados. É válido lembrar que o processo seletivo deve se atentar à trajetória profissional do candidato. Conhecer a lei é o primeiro passo para aplicar a tolerância religiosa e o respeito no meio empresarial.

Religiões de matriz africana e o racismo estrutural

Embora a lei exista e seja de grande amparo, isso não significa que ela seja cumprida. A intolerância religiosa, especialmente contra as religiões de matriz africana, é um problema recorrente no Brasil. Segundo a historiadora Ana Golberto, as religiões de matriz africana são os principais alvos de intolerância. Ainda segundo a especialista, a motivação é uma negação cultural e histórica da existência do povo negro no Brasil.

Eu, como umbandista, compreendo que a intolerância religiosa no ambiente de trabalho acontece de forma bastante sutil. Ela pode começar com uma pergunta na entrevista de emprego, que pode levar à surpresa durante o processo seletivo. Já após a contratação, acontece a estigmatização, piadas e até mesmo diversos questionamentos sobre as práticas, o que não acontece com as religiões majoritárias cristãs.

Para pensar a tolerância religiosa nas empresas é sempre válido avaliar as situações pelo viés oposto: esse comentário ou ação seria direcionado para uma pessoa católica ou evangélica? Se não, há grandes chances de ser um caso de intolerância religiosa.

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E dentro do âmbito cristão, há ainda a intolerância do respeito às pessoas que aderem a adventista por exemplo, já existe lei que garante o não trabalho aos sábados, ou testemunhas de Jeová que não aceitam transfusão de sangue. Precisamos simplesmente RESPEITAR e não questionar ou tentar mudar as ideologias que estas pessoas possuem, somente assim a tolerância irá prevalecer.

Intolerância religiosa na empresa: é hora de dar um basta
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A tolerância religiosa deve ser defendida nas empresas

Se há amparo da lei e muito conhecimento já produzido sobre o tema em diversas áreas do saber, a tolerância religiosa deve ser uma bandeira defendida pelas empresas. É preciso que a liderança tome consciência da importância do tópico e junto ao time de RH da empresa gerem ações de conscientização, pois a informação é a melhor arma contra o preconceito. Afinal, quando conhecemos a diversidade, nos aproximamos dela e somos capazes de pensar com inclusão.

As empresas devem se interessar em conhecer a lei e divulgar entre os seus funcionários, além de promover debates edificantes na área da diversidade. É função das empresas atuarem ativamente contra a discrimicão, incluindo a intolerância religiosa.

(*) Cammila Yochabell é fundadora e CEO da Jobecam.

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