Fundos imobiliários crescem com juros e inflação baixos

Até maio, número de fundos na B3 havia crescido 7,73%; investidor pessoa física é maioria no setor

1 jul 2019 - 05h11
(atualizado às 12h35)

A quantidade de Fundos de Investimento Imobiliário (FII) listados na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, cresceu 7,73% em 2019, até maio, em comparação com o número total de 2018, de acordo com o Boletim de Mercado Imobiliário da instituição. Em dezembro do ano passado, 168 fundos estavam sendo negociados; até o último dia 31 de maio, já eram 181.

De 2017 para 2018, o crescimento foi de 21,7%, de 138 para 168. O mais recente exemplo dessa tendência foi lançado na semana passada: a Votorantim Asset Management captou R$ 1,2 bilhão com a venda do fundo de um empreendimento comercial em Brasília. Do total de cotas vendidas, 99,49% ficaram com pessoas físicas - cerca de 7 mil CPFs -, que responderam por 86,5% do volume movimentado no negócio.

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Segundo o diretor comercial da Asset Management do Banco Votorantim, Rafael Vieira Fornari, o predomínio do investidor pessoa física nesse tipo de fundo tem a ver com o perfil mais conservador do brasileiro quando o assunto é investimento em Bolsa. "O brasileiro sempre foi muito patrimonialista. Sempre gostou de investimento em imóvel."

Os números da Bolsa confirmam essa característica: em maio, do total de 341.886 investidores no setor, 246 mil, ou 72,14%, eram pessoas físicas.

A valorização desses fundos, que vem se mantendo próxima da do Ibovespa, mesmo depois de o índice da Bolsa ultrapassar os 100 mil pontos, pode contribuir para o avanço da modalidade. Até 28 de junho, a alta acumulada no ano pelo Ifix, indicador do desempenho médio das cotações de fundos imobiliários, foi de 11,67%, e a do Ibovespa, de 14,88%. No período, a poupança avançou 1,87% e o CDI, 3,02%.

Queda de juros

Dois motivos principais explicam o crescimento dos fundos imobiliários, segundo especialistas: a queda dos juros, com a taxa Selic no nível mais baixo, em 6,5% ao ano, e a expectativa de retomada do crescimento da economia.

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"Quando cai a taxa de juros, ocorre a procura por outros tipos de ativos, como títulos de dívida e Bolsa. O investidor diversifica e migra para outros investimentos, em busca de rentabilidade", diz o gestor de Fundos de Investimento Estruturados do Banco Votorantim, Luiz Armando Monteiro Sedrani.

A tendência de que o mercado imobiliário volte a crescer, acompanhando a esperada melhora na economia, também mexe com o setor, explica o coordenador do MBA de gestão financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ricardo Teixeira. "A gente espera investimento e retomada do setor imobiliário forte, depois do período parado."

Segundo o Sindicato da Habitação de São Paulo, já há sinais de recuperação: de maio de 2018 a abril de 2019, a venda de imóveis cresceu 16% em relação ao período de maio de 2017 a abril de 2018. E o número de lançamentos aumentou 25,4%.

Aluguel

O gestor dos fundos imobiliários de varejo da Rio Bravo, Everton Carajeleascow, explica que o varejo é um dos primeiros a sentir a melhora na economia. "O varejo vive de aluguel. O lojista que melhora de situação e fica adimplente tem um reflexo direto no rendimento dos fundos."

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Quando participa de um fundo imobiliário, o investidor adquire um empreendimento - shopping, galpão, condomínios de escritório, entre outros - e tem direito a receber em dinheiro parte proporcional à fatia adquirida. Um dos meios mais comuns de renda é o aluguel.

O chefe da área de análise de fundos imobiliários da XP Investimentos, Gustavo Bueno, explica que, quanto maior a venda do comércio de um shopping center, por exemplo, maior tende a ser o dividendo. "O fluxo de pessoas e a venda do varejo do shopping contam muito para o rendimento do fundo. Quanto maior a arrecadação com o aluguel, maior será o rendimento do investidor", diz.

Tipos de Fundos de Investimento Imobiliário (FII)

Os dois tipos de fundos existentes no setor imobiliário são os de "papel" e os de "tijolo". Para elencar os mais comuns, o Estado conversou com o sócio da BTG Pactual Asset Management Allan Hadid e com o chefe da área de análise de fundos imobiliários da XP Investimentos, Gustavo Bueno.

Papel

Os fundos de "papel" funcionam da seguinte forma: o proprietário de um empreendimento precisa de dinheiro para realizar uma construção de outro prédio, por exemplo. Ele pode tomar crédito e a dívida que ele faz é dividida em cotas, papéis, que são vendidos. Quem compra este papel terá o recebimento de determinado valor, que pode variar com o tempo, por ser negociado na Bolsa. Esta forma de investimento pode ser feita por meio de Certificado de Recebimento Imobiliário (CRI), Letra de Crédito Imobiliário (LCI) ou Letra Hipotecária (LH).

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Tijolo

Os fundos de "tijolo" são empreendimentos em que o investidor se torna "dono" de uma parte do ativo - cota. Ou seja, quem quiser comprar uma cota de um shopping, galpão, entre outros, investe neste fundo e passa a ter direito aos dividendos mensais deste ativo.

Exemplos de fundos de "tijolo"

Shoppings - Fluxo de pessoas e venda do varejo. Quanto maior o aluguel e quanto mais se cria novas áreas que podem render quantias em dinheiro, como espaços de propaganda e quiosques, maior será o rendimento do investidor.

Laje corporativa - São os prédios de escritórios. Quanto melhor a localização, maior o retorno. A possibilidade de vacância é reduzida por ser em uma região bem mo Pvimentada. Em Sãoaulo, por exemplo, é um mercado grande.

Ativos logísticos - São centros de distribuição e galpões. Quanto mais as empresas precisam de estoque, maior será a utilização de galpões para este fim. Está atrelado, entre outras coisas, ao e-commerce, que precisa guardar seus produtos que são vendidos de forma online.

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Hotéis - É um dos que mais variam os rendimentos. Por ser muito sazonal, tem temporadas boas e ruins, dependendo do evento em questão. Precisa ser analisado como um todo, não por resultados mês a mês, para saber se vale a pena.

Universidades - É difícil sair do local. Se sair, não entra outro empreendimento tão facilmente. Quando é escritório, é mais simples este processo. Em um campus, já se torna um pouco mais complexo. É preciso avaliar se o local consegue mudar o tipo de produto que se instala no espaço com facilidade, para diminuir a chance de ociosidade.

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