Startups transformam o Brasil num poço de liquidez

Para especialista, o país está na direção contrária ao que exige a transformação digital

6 jul 2022 - 03h00
(atualizado às 17h18)
Rodrigo Curcio, CEO da HRTech Humanaz
Rodrigo Curcio, CEO da HRTech Humanaz
Foto: LinkedIn / Reprodução

As startups experimentaram um período de crescimento exponencial, acelerado desde o início da pandemia, com a queda das taxas de juros. As brasileiras, por exemplo, receberam US$ 9,6 bilhões (R$ 47 bilhões) em 2021, um aumento de cerca de 250% em comparação com 2019, de acordo com o levantamento da plataforma Distrito, e algumas alcançaram o status de unicórnio, atingindo uma avaliação de US$ 1 bilhão. 

Em 2022, com a guerra na Ucrânia, os recentes aumentos das taxas de juros no Brasil e nos Estados Unidos, encarecendo o financiamento, e o ambiente de incerteza nos planos nacional e internacional, as startups estão diante de um novo cenário e surpreenderam o mercado com demissões em massa, muitas delas logo após contratações em larga escala. As expectativas projetam investimentos mais tímidos no setor, o que têm provocado um movimento classificado como de reorganização e prenunciam mais baixas pela frente.

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Para o especialista em carreira, liderança e inovação Rodrigo Curcio, CEO da HRTech Humanaz, “as startups transformaram o Brasil num poço de liquidez”.

“Nas startups, vemos a obsessão dos founders pela liquidez lunática e a qualquer custo, sintomas do welchinismo, mas o lucro e o retorno em investimento não podem ser mais importantes do que as pessoas que geram valor e lucro aos negócios”, ressalta.

Curcio afirma que o Brasil está na direção contrária ao que exige a transformação digital. Sobraram recursos nos últimos anos, mas, para ele, faltam projetos eficientes no país, o que está extremamente ligado, na sua avaliação, à forma como as empresas lidam com os seus colaboradores.

“Qual é a experiência que a jornada de contratação gera nas pessoas? A transformação digital enxerga a relação de consumo com o maior benefício no resultado da experiência que geramos para o outro. Sim, o outro primeiro. E por quê? Porque é a maior experiência da vida fazer o outro crescer”, defende ele. “E mais incrível ainda é escolher fazer isso para os nossos negócios. Liquidez e captação de investimento construímos com uma jornada de transparência e confiança nas pessoas que escolhemos ter ao nosso lado.”

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De acordo com pesquisa feita pela plataforma Love Mondays com 4.492 pessoas, a maioria (29,6%) busca um trabalho mais conectado ao seu propósito de vida. No entanto, muitos não têm a visão clara dessa necessidade ou dos seus objetivos para além de cargos e salários, e isso vai afetando gradativamente o ânimo do profissional, minando sua produtividade ou dificultando sua recolocação no mercado. 

Por outro lado, há um gap em muitos processos seletivos, que, cada vez mais automatizados, deixam de filtrar candidatos que possam ser convergentes aos propósitos da empresa. De acordo com Harvard, tecnologia e plataformas estão reduzindo as habilidades cognitivas e a capacidade produtiva das pessoas a vagas e impedindo 27 milhões de pessoas de se conectarem com seus propósitos e contribuírem com suas vivências e experiências para o crescimento dos negócios.

Sobram vagas, mas faltam profissionais

No Brasil, ainda há um fator agravante: a escassez de profissionais qualificados em determinados setores, como o de tecnologia, por exemplo. Neste caso, a pandemia acelerou o processo de transformação digital no país, mas esse gargalo se aprofundou para as empresas e o cenário ficou ainda mais competitivo pela busca de mão de obra qualificada. 

Formamos por ano em média 53 mil pessoas com perfil tecnológico. Até 2025, a expectativa é que o setor demande 797 mil novos talentos. Com o número de formados aquém da demanda, a projeção é de um déficit anual de 106 mil profissionais de TI – 530 mil em cinco anos. É o que aponta o estudo “Demanda de Talentos em TIC e Estratégia STCEM”, publicado recentemente pela Brasscom. Existem, então, dois desafios: a dificuldade para captar e reter talentos atrelada à realidade e perspectiva do número insuficiente de profissionais.

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“Minha mãe dizia: ‘Para quem não sabe o que procura, quando acha nunca encontra’. Essa é a realidade diária para 75% das empresas que atraem pessoas – ou melhor, tentam – para trabalhar com tecnologia. Faltam profissionais, mas as empresas não conseguem atrair os atuais, qualificados e disponíveis. Não podemos virar as costas para esse problema, que de fato é um grande desafio para as startups no processo de transformação digital do mercado”, analisa.

Na sua visão, é vital para a sobrevivência e a recuperação sustentável do mercado que a sua “reestruturação” (termo usado por muitas startups para explicar o momento de instabilidade) priorize a forma como vão montar as suas equipes.

“É preciso facilitar e simplificar a conexão de pessoas em tech que enxergam seus propósitos e competências nos desafios de marcas empregadoras, aumentando a liquidez do negócio. Conectar pessoas e negócios não é sobre vagas e plataformas de contratação, mas como impactamos pessoas em nossos negócios e construímos experiência na vida e na carreira delas. Uma experiência humana conectada. O Brasil cresce quando pessoas escolhem o lugar que querem estar todos os dias, fazendo o que gostam e o que fazem muito bem. E são valorizadas pelas escolhas que fizeram”, explica.

Segundo o especialista, é fundamental conectar pessoas com tecnologia e seus propósitos de vida e carreira. Unir pessoas, metodologia, tecnologia e canais digitais. Mapear e conectar aspirações de negócios, propósitos e competências. Ir além da frieza das máquinas e do que chama de “descrições confusas que literalmente opõem linguagens a atitudes, comportamentos, índole e valores”.

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“Quem não atrai, não retém e, em consequência, não cresce de forma segura. A pessoa que desenvolve sua carreira para trabalhar com tecnologia não investe 10 e 15 anos da sua vida para ser reduzido a Júnior, Pleno, Sênior ou demais réguas que simplesmente definem se você pode ou não contribuir para o seu propósito. As pessoas têm sonhos, interesses, curiosidades, vontades, desejos e querem (e devem, é claro) realizá-los”, conclui.

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