Mais de 32 mil empresas empregadoras fecharam as portas no 1º ano de pandemia

Os dados são do Cadastro Central de Empresas (Cempre) do IBGE apontam aumento de 8,6% no número de organizações sem nenhum trabalhador assalariado

23 jun 2022 - 10h10
(atualizado às 10h16)

O Brasil registrou saldo positivo na abertura de empresas no primeiro ano de pandemia de covid-19. No entanto, o fenômeno ocorreu exclusivamente na modalidade sem nenhum trabalhador assalariado, ou seja, somente havia o proprietário ou sócios. Ao mesmo tempo, houve fechamento de 32.467 empresas empregadoras de todos os tamanhos, incluindo micro, pequenas ou grandes companhias, que resultaram na demissão de mais de 825 mil assalariados. Os dados são do Cadastro Central de Empresas (Cempre) referentes a 2020 e divulgados nesta quinta-feira, 23, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Foto: Istock

O número de companhias e organizações formais ativas passou de 5,239 milhões em 2019 para 5,434 milhões em 2020, um avanço de 3,7%, o equivalente a 194.842 negócios a mais. O resultado, porém, é explicado por um salto de 8,6% no número de organizações sem nenhum trabalhador assalariado: 227.309 empresas a mais em apenas um ano. Os dados sugerem que o movimento seja explicado por um empreendedorismo de necessidade, uma maior criação de CNPJs por trabalhadores demitidos que tentavam abrir seu próprio negócio ou que buscavam compensar uma perda de renda provocada pela crise sanitária.

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"Ou para manter a renda ou foram demitidas e abriram seus próprios negócios por necessidade", confirmou Thiego Gonçalves Ferreira, gerente da pesquisa do IBGE. "Houve saldo positivo em (empresas) não empregadores."

Por outro lado, o número de companhias e organizações com pelo menos uma pessoa ocupada mostrou queda generalizada. Nas empresas com 1 a 9 assalariados, o recuo foi de 0,4% no número de companhias, 8.233 a menos. Na faixa entre 10 a 49 assalariados, houve fechamento de 22.514 empresas em um ano, um tombo de 5,3% nesse total de empregadores. O grupo que contratava entre 50 e 249 pessoas contabilizou 1.529 estabelecimentos a menos, recuo de 2,3% nesse universo em um ano. Entre as grandes empresas, com pelo menos 250 assalariados, 191 companhias fecharam as portas, queda de 1% no total de empresas desse porte.

Redução no emprego assalariado

Em 31 de dezembro de 2020, as empresas e organizações formais ativas no País empregavam 52,697 milhões de pessoas, sendo 45,390 milhões delas assalariadas e 7,307 milhões na condição de sócio ou proprietário.

A força de trabalho ocupada diminuiu 1%, cerca de 523,5 mil pessoas a menos: 825,2 mil assalariados perderam o emprego em 2020, queda de 1,8% no total de trabalhadores nessa condição ante 2019, enquanto 378,9 mil pessoas a mais se tornaram sócias ou proprietárias, aumento de 11,3% nesse contingente em apenas um ano.

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O IBGE ressalta que, apesar da pandemia, a redução de pessoal assalariado não foi a mais acentuada da série histórica em termos relativos. Os enxugamentos de mão de obra foram maiores nos anos de 2015 (-3,6%) e 2016 (-4,4%), em meio à recessão econômica. O instituto lembra que, em 2020, programas emergenciais de governo ajudaram a evitar uma dispensa maior de empregados: o Programa de Manutenção de Emprego e Renda que teria beneficiado 9,8 milhões de trabalhadores; o Auxílio Emergencial ajudando na manutenção ou aumento do consumo pelos beneficiários; e o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), com liberação de R$ 37,5 bilhões em financiamentos a 517 mil empresas, de acordo com dados oficiais.

Mulheres mais atingidas por demissões

Entre as demissões efetivadas, as mulheres foram significativamente mais prejudicadas. A cada dez assalariados demitidos no ano, pelo menos sete eram mulheres.

Em 2020, o número de homens trabalhando como assalariados caiu 0,9%, enquanto o de mulheres tombou 2,9%. Dos mais de 825 mil desses postos de trabalho perdidos em relação a 2019, cerca de 593,6 mil (ou 71,9%) eram ocupados por mulheres.

Como consequência, houve piora no avanço da participação feminina no mercado de trabalho pela primeira vez na série histórica iniciada em 2009. A proporção de mulheres entre os assalariados das empresas formais do país caiu de 44,8% em 2019 para 44,3% em 2020. Em 2009, quando esses dados começaram a ser coletados, as mulheres representavam 41,9% da força de trabalho assalariada no setor formal.

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"Reduziu a participação (das mulheres) no mercado formal de trabalho lá para o patamar de 2016", disse Ferreira. "A gente atribui a dois grandes fatores. Primeiro teve crescimento de assalariados em setores que empregam mais homens, como a construção. Ao mesmo tempo, a gente observou redução naqueles setores que mais empregam mulheres, que foi alojamento e alimentação, educação", completou.

O pesquisador do IBGE ressalta ainda que atividades como a indústria de transformação e o comércio varejista tiveram perda maior de assalariados em segmentos com maior presença de trabalhadoras, como os de vestuário, acessórios e calçados.

"Tem relação direta com a própria característica da pandemia, esses setores não eram atividades essenciais, e até a questão histórica da mulher ter que ficar mais presente em casa", exemplificou Ferreira.

As demissões de assalariados foram mais agudas nos segmentos de alojamento e alimentação (-373,2 mil trabalhadores), administração pública, defesa e seguridade social (-233,9 mil) e comércio (-221,7 mil). Os aumentos mais significativos ocorreram em saúde humana e serviços sociais (139,3 mil a mais) e construção (80,8 mil a mais).

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Em termos relativos, o setor com maior corte de vagas assalariadas foi alojamento e alimentação, com retração recorde de 19,4%, seguido pelo segmento de artes, cultura, esporte e recreação, com tombo também histórico de 16,4%.

O salário médio pago pelas empresas do País caiu a R$ 3.043,81 em 2020, ou 2,9 salários mínimos, 3,0% a menos que o de 2019. A massa salarial encolheu a R$ 1,806 trilhão, queda de 6,0% frente a 2019, a maior da série histórica da pesquisa.

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