Dólar supera R$ 5,00 com IPCA-15 e Ibovespa ultrapassa os 110 mil pontos

Perspectiva menor de corte de juros nos Estados Unidos também foi fator considerado pelo mercado

25 mai 2023 - 19h12

O dólar à vista subiu com força no mercado doméstico e voltou a fechar acima de R$ 5,00, em R$ 5,03, pela primeira vez desde 8 de maio. O dia foi marcado por uma onda de fortalecimento global da moeda americana. Ao impasse em torno do aumento do teto da dívida dos EUA, que precisa ter um desenlace até 1º de junho para afastar o risco de calote, somou-se hoje o aumento das chances de nova alta de juros pelo Federal Reserve. Já o Ibovespa teve alta de 1,15%, a 110.054,38 pontos, e encerrou sequência de três quedas consecutivas.

Moeda americana teve a maior queda mensal no ano
Moeda americana teve a maior queda mensal no ano
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil / Estadão

Analistas atribuem a fraca performance relativa da moeda brasileira ao aumento das apostas de corte da Selic já em agosto, na esteira da desaceleração mais forte que a esperada do IPCA-15 e de declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, à tarde.

A combinação de possibilidade de postura dura do BC americano com cortes da Selic reduz o diferencial de juros interno e externo - o que tende a diminuir a atratividade das operações 'carry trade'. Operadores afirmam que fundos locais correram para reverter operações vendidas em dólar, na tentativa de limitar prejuízos, o que contribuiu para turbinar os ganhos da moeda americana por aqui.

Com máxima a R$ 5,0443 (+1,82%), justamente em meio à fala de Campos Neto, o dólar à vista encerrou a sessão desta quinta-feira, 25, em alta de 1,65%, cotado a R$ 5,0355 - maior valor de fechamento desde 2 de maio (R$ 5,0467). Após a arrancada de hoje, a divisa passou a acumular avanço de 0,79% na semana e de 0,96% no mês. No ano, a moeda ainda tem desvalorização de 4,63%. Principal termômetro do apetite por negócios, o dólar futuro para junho teve giro forte, acima de US$ 16 bilhões.

O IPCA-15 desacelerou de 0,57% em abril para 0,51% em maio, bem abaixo da mediana da pesquisa do Estadão/Broadcast (+0,65%) e perto do piso das estimativas (0,48%). Economistas ressaltaram a desaceleração de núcleos e de serviços. À tarde, Campos Neto disse que o IPCA-15 foi de fato positivo, com "núcleos melhores" e comentou a possibilidade de que a queda da inflação de alimentos no atacado se espraie para o varejo "daqui a pouco".

O presidente do BC, como de praxe, desconversou quando questionado a respeito de eventual início de corte da taxa Selic, ao dizer que é "um voto em 9?, em referência à composição do Comitê de Política Monetária (Copom). No mercado de juros futuros, as apostas em corte da taxa Selic em agosto se tornaram majoritárias.

"A leitura do mercado sobre o IPCA-15 é que abre a porta para que o Banco Central assuma um tom menos duro e possa iniciar o processo de queda dos juros em algum momento mais à frente. E isso pode diminuir o 'carry da moeda", afirma o gestor Bruno Martins, sócio da Armor Capital, ao comentar o desempenho ruim do real em relação a seus pares.

Nos EUA, o Departamento de Comércio informou pela manhã revisão do crescimento do PIB americano para 1,3% no primeiro trimestre (taxa anualizada). O resultado ficou acima da estimativa inicial, de 1,1%, embora tenha superado projeções de analistas (1,6%). O índice de preços de gastos de consumo (PCE) também foi revisado para cima. Monitoramento da CME mostra que as chances de uma alta de 25 pontos-base na reunião do Fed em junho passaram a ser majoritárias. Investidores já mostram menos convicção de que possa haver corte dos juros ainda neste ano.

Bolsa

Interrompendo sequência de três perdas - uma pausa relativamente curta, intercalada a 11 ganhos nas 12 sessões anteriores à leve realização de lucros -, o Ibovespa ficou perto de neutralizar o efeito do ajuste ao subir hoje 1,15%, a 110.054,38 pontos, em dia de recuperação de apetite por risco em Nova York. Por lá, os ganhos chegaram a 1,71% (Nasdaq) no fechamento desta quinta-feira, apesar da pendência de solução para o aumento do teto da dívida nos Estados Unidos, com a aproximação da data-limite para evitar default, daqui a uma semana, no início de junho.

Hoje, prevaleceu em Wall Street o otimismo em torno das estratégias de inteligência artificial, o que foi decisivo para o desempenho robusto da Nvidia e das ações de big techs, impulsionando a alta dos índices S&P 500 (+0,88%) e Nasdaq na sessão.

"De meados de 2021 a 2023, no intervalo aproximado de dois anos, o Ibovespa acumulou uma retração de cerca de 25%, muito descontado, antecipando então uma deterioração das condições macro. Saiu de 130 mil para menos de 100 mil, nos piores momentos. O mercado antecipa, e agora o movimento é de descompressão na curva de juros, com percepção mais favorável sobre a condução do fiscal, e projeções melhores para inflação e para o custo de crédito, no segundo semestre", diz Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos.

"Os investidores internacionais se mostraram mais predispostos a compras do que antecipávamos, com o argumento de que os 'valuations' no Brasil estão mais atrativos em comparação a outros mercados emergentes, e que o Brasil tende a ter bom desempenho quando houver mais clareza sobre cortes nas taxas de juros", aponta o Itaú BBA em relatório sobre ações brasileiras, divulgado nesta quinta-feira.

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B3 voltou a fechar acima dos 110 mil pontos após três sessões de queda
Foto: FELIPE RAU/ESTADAO / Estadão
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