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Brasileiro entra para lista do calote por deixar de pagar gastos com alimentação

18% dos inadimplentes não tiveram condições de quitar essa despesa no primeiro semestre deste ano, a maior marca para o período desde 2017

9 ago 2022 - 09h57
A percepção dos entrevistados é que o quadro do endividamento pessoal piorou muito
A percepção dos entrevistados é que o quadro do endividamento pessoal piorou muito
Foto: Towfiqu barbhuiya/Unsplash

A fatia de brasileiros que engrossou a lista de inadimplentes pela falta de pagamento de despesas com comida, entre janeiro e junho, foi a maior em cinco anos. A disparada da inflação e a queda na renda explicam a entrada de devedores para lista do calote pelo não pagamento da fatura de um item básico.

No primeiro semestre deste ano, 18% dos inadimplentes deixaram de quitar despesas com alimentação e, por isso, foram parar na relação dos CPFs (Cadastro de Pessoa Física) com restrição. Essa é a marca mais elevada desde o primeiro semestre de 2017, quando a Boa Vista, empresa especializada em inteligência financeira e análise de crédito, começou a coletar essas informações. Ao longo do primeiro semestre, foram consultados eletronicamente 1.500 inadimplentes, a fim de traçar o perfil desses consumidores.

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Contas diversas não pagas, que incluem despesas com educação, saúde, impostos, taxas, lazer e outros gastos, ainda têm sido apontadas pelos brasileiros nos últimos anos como a despesa que tem levado a maioria dos consumidores (23%) à inadimplência. No entanto, desde o segundo semestre do ano passado, a parcela daqueles que não conseguiram honrar o pagamento das despesas com alimentação chama atenção.

Apesar da pesquisa revelar um grave problema de falta de renda para bancar o consumo básico, esse resultado não surpreendeu o economista da Boa Vista, Flávio Calife. “Temos falado com instituições financeiras que relatam que o pessoal está pegando dinheiro (crédito) para pagar contas do mercado, do dia a dia”, diz.

A inadimplência nas despesas com alimentação reflete o aumento da inflação e a perda de renda da população, observa o economista. Nos últimos 12 meses até julho, a inflação do grupo alimentação e bebidas acumula alta de 14,6%, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) -15, a prévia da inflação oficial apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É um resultado que supera a variação do indicador como um todo no período, que foi de 11,39%.

Calife observa que a redução na renda disponível dos consumidores provocada pela alta da inflação acaba afetando o pagamento das contas em dia. Aliás, depois do desemprego, que historicamente é o principal motivo para inadimplência, apontado por 28% dos entrevistados no primeiro semestre deste ano, está a diminuição da renda, com 24%.

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Entre as razões para o calote, a queda na renda foi a que mais cresceu. Do segundo semestre do ano passado para o primeiro semestre deste ano, a parcela de inadimplentes que apontou esse motivo para o não pagamento de contas aumentou 3 pontos porcentuais. “É, sem dúvida, um fato de um ano para cá”, diz o economista. Ele lembra que o peso do desemprego foi muito maior num passado recente e hoje diminuiu por causa da melhora do mercado de trabalho.

Endividamento crônico

A percepção dos entrevistados é que o quadro do endividamento pessoal piorou muito. Do segundo semestre do ano passado para o primeiro deste ano, a parcela de consumidores que se considera muito endividada subiu de 32% para 37%, respectivamente. É a maior marca desde 2019, quando esse resultado atingiu 39% dos entrevistados.

Apesar da melhora, ainda tímida, no mercado de trabalho, o cenário para a inadimplência continua por causa do nível elevado de inflação e da perda da renda do consumidor que o aumento generalizado nos preços provoca. A saída adotada pelos inadimplentes tem sido jogar para frente a solução do problema.

A pesquisa aponta, por exemplo, que subiu de 21% no segundo semestre do ano passado para 28% no primeiro semestre deste ano a parcela de inadimplentes que informou que pagará a dívida num prazo acima de 180 dias. Em contrapartida, no mesmo período, diminuiu de 41% para 38% a fatia daqueles que disseram que não terão condições de quitar o valor total da dívida.

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Sem alívio no horizonte

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central elevou para 13,75% a taxa de juros básica da economia, a Selic. Foi a 12.ª alta consecutiva na tentativa de segurar a inflação. A autoridade monetária também sinalizou que poderá fazer uma nova elevação da Selic na próxima reunião do colegiado marcada para setembro.

Com juros e inflação ainda em alta e atividade fraca, a perspectiva, segundo o economista da Boa Vista, é que a inadimplência continue crescendo nos próximos meses até o ano que vem. “Juros altos contribuem para piora da inadimplência”, diz Calife. Dados da Boa Vista, mostram que o calote encerrou o primeiro semestre deste ano com alta de 12,3% e em 12 meses até junho o avanço foi de 7,5%. O indicador de registro de inadimplência é elaborado a partir da quantidade de novas dívidas vencidas e não pagas informados ao birô pelas empresas credoras.

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