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Demissão na Petrobras é espantosa e reforça tese de objetivo 'eleitoreiro', diz ex-diretora da ANP

Magda Chambriard, que dirigiu a agência reguladora do setor de petróleo, diz que a posição do governo como acionista majoritário traz muito risco para a empresa

24 mai 2022 - 00h17

RIO - A ex-diretora geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) entre 2012 e 2016, Magda Chambriard, classificou a demissão do presidente da Petrobras, José Mauro Ferreira Coelho, como "espantosa" e disse que a posição da União, acionista majoritária da empresa, traz risco "muito grande" ao corpo de acionistas por expor "total desorganização do país e falta de previsibilidade" no comando da estatal.

Ela afirma que decisão, tornada pública na noite desta segunda-feira, 23, reforça a tese de que o presidente Jair Bolsonaro age com fins eleitoreiros.

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"É espantoso sob qualquer ótica. Completamente espantoso. Mas só reforça uma impressão que vem de algum tempo. Isso aconteceu com (Joaquim) Silva e Luna e agora se repete com o atual presidente. Ambos deixaram claro, antes de assumir, que não interfeririam na política de preços. Mas foram indicados mesmo assim", diz.

Para Magda Chambriard, Bolsonaro atua politicamente para se antecipar ao novo lucro recorde da estatal no segundo semestre, e buscaria abrir caminho para algum represamento do preço de derivados até as eleições de outubro.

Segundo a ex-diretora da ANP, os posicionamentos dos ministros da economia, Paulo Guedes, e do ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, nos últimos dias podem ter funcionado como uma espécie de balão de ensaio para a estratégia.

Como uma assembleia extraordinária para aprovação de um novo indicado só pode acontecer 30 dias depois de sua convocação, Chambriard sugere que Bolsonaro terá tempo suficiente para reforçar a narrativa de que tem feito o que está ao seu alcance para deter a política de paridade de preços internacionais, sem, de fato, fazê-lo.

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"Não há muita explicação para além disso. Como é que ele nomeia o presidente da Petrobras sem alinhar posição antes? Esse tipo de atitude embute um risco muito grande ao acionista e passa uma imagem de total desorganização do país", diz Magda.

Ela não acredita tratar-se de uma guinada para emplacar os planos de privatização da estatal, inviável este ano. "A privatização dentro desse governo não dá mais. Isso só vai andar se ele [Bolsonaro] ganhar a eleição.

Sobre o novo indicado, Caio Mário Paes de Andrade, que hoje chefia a Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, do Ministério da Economia, Chambriard se limitou a dizer que soube de suas credenciais pela imprensa e que não parece adequado tratar de questões que interferem no abastecimento de combustível do país com um executivo com experiência na área de informática.

Ainda assim, Magda acredita que a indicação deverá prosperar. Com a saída de Bento Albuquerque das Minas e Energia este mês, a indicação de Sachsida para a pasta e agora a de de Paes de Andrade, que já havia sido cogitado anteriormente para o comando da Petrobras, inaugura-se a gestão da estatal sob a influência do Ministério da Economia, de Paulo Guedes.

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