Competição mantém pressão sobre preços em leilões de energia no Brasil

8 mar 2018 - 18h04

Leilões para novos projetos de geração de energia no Brasil devem seguir com uma forte competição neste ano, com uma taxa de juros em queda e uma demanda ainda em lenta recuperação colaborando para manter a pressão baixista sobre os preços de contratação dos empreendimentos.

O forte interesse por fontes renováveis de multinacionais do setor, que conseguem captar financiamentos com menores custos no exterior, também deve colaborar para acirrar a competição nos leilões, disseram especialistas à Reuters.

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A maior economia da América Latina conseguiu fechar em duas licitações no final do ano passado a compra da produção futura de novas usinas por preços até 65 por cento inferiores à receita-teto oferecida aos investidores, em meio a um elevado interesse de elétricas estrangeiras por negócios com energia limpa no país.

Neste ano, o chamado leilão "A-4", marcado para 4 de abril, já recebeu inscrições de 48,7 gigawatts em empreendimentos, o que significa quase 72 vezes o volume movimentado no certame de 2017, em dezembro. Voltada principalmente a usinas eólicas e solares, a licitação é para projetos com entrega em 2022.

Um leilão "A-6" também deverá acontecer em 2018, com conclusão das usinas para 2024, mas o mercado não espera que ele movimente muito mais que os 3,8 gigawatts de um certame similar de 2017.

"Não há expectativa de ninguém que haja uma mudança significativa na demanda. Do lado da oferta você tem tecnologias, principalmente solar, que continuam evoluindo... e tem condições de financiamento talvez até mais interessantes, a taxa de juros segue em movimento de queda", afirmou o diretor de Novos Negócios da Safira Energia, Robson Galiano.

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"Isso coloca um pouco mais de pressão em relação ao preço. Em teoria você tem um cenário em que cabe aí uma disputa de preço talvez até um pouco maior que no ano passado", adicionou.

Essa expectativa tem feito com que os investidores se debrucem sobre seus projetos para cortar custos e planejar estratégias para aumentar os ganhos, como a antecipação da conclusão das obras, afirmou o chefe de project finance do Itaú BBA, Marcelo Girão.

"Os players estão se preparando para um cenário de competição semelhante ao do final do ano passado", disse.

As usinas eólicas venderam a produção futura nos leilões de dezembro a um preço médio perto dos 100 reais por megawatt-hora, cerca de 65 por cento abaixo do valor-teto, enquanto as solares negociaram a 145 reais, com deságio de 56 por cento --os valores foram os menores já registrados para as fontes no país.

Os vencedores dos leilões assinam contratos para vender a produção futura de suas usinas às distribuidoras de energia por entre 20 e 30 anos.

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PERFIL DO INVESTIDOR

As principais vencedoras nos leilões realizados pelo Brasil em 2017 foram a italiana Enel, a norte-americana AES, a portuguesa EDP, a espanhola Iberdrola e a norueguesa European Energy

Essas grandes elétricas multinacionais devem continuar predominantes nos leilões deste ano, com espaço para uma presença até maior devido ao ambiente de disputa acirrada, disse Girão, do Itaú BBA, que aposta também num possível avanço de companhias chinesas já com presença no país.

Já as grandes estatais brasileiras devem seguir vendo sua participação na expansão cair, como tem acontecido desde 2012, quando um plano do governo federal para reduzir as tarifas de eletricidade cortou a receita de empresas como a Eletrobras, apontou a diretora de negócios em energia da KPMG, Franceli Jodas.

"Os grandes players internacionais estão se fortalecendo e expandindo sua atuação no Brasil, e isso é muito bom... eles enxergam no longo prazo", afirmou.

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"Como existe uma pressão forte de preços, quem tem capital externo consegue entrar com um equilíbrio melhor no leilão, consegue forçar um pouco os preços mais para baixo. Eles têm investimentos mais pulverizados (por diversos países) então diminui o risco", acrescentou.

(Edição de Roberto Samora)

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