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Como o setor privado ganhou destaque nas COPs: 'Aproximar pessoas da agenda climática'

Grandes empresas estarão presentes nas discussões em Belém, com objetivos variados que vão de apresentação de 'práticas verdes' e obtenção de financiamento para projetos sustentáveis a pressão do agro e da indústria do petróleo

9 nov 2025 - 13h33
(atualizado em 10/11/2025 às 12h55)

ENVIADA ESPECIAL A BELÉM - A COP-30, a cúpula da ONU criada para ser um espaço onde diplomatas debatem como combater as mundanças climáticas, começa nesta segunda-feira, 10, em Belém, com um movimento crescente nos dez últimos anos: a atuação do setor privado. Os objetivos das empresas são diversos: vão da articulação contra o fim do uso de combustíveis fósseis a tentativas de arrecadar recursos para projetos econômicos sustentáveis, passando por ações de promoção de práticas "verdes".

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Até a edição de Paris de 2015, as COPs eram mais técnicas. A partir de 2016, no Marrocos, com a Agenda de Ação ganhando força, o setor privado foi tendo mais protagonismo. A Agenda de Ação é o plano que tenta converter compromissos globais em ações concretas para combater as mudanças do clima.

"Antes, os resultados da COPs ficavam distantes da realidade. Dez anos atrás, houve um entendimento de que era preciso ampliar a mobilização e aproximar as pessoas da agenda climática", diz Viviane Romeiro, diretora de Clima e Energia do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Essa aproximação acabou ocorrendo principalmente com o setor privado, já que organizações civis e ativistas já eram atuantes nas cúpulas.

Romeiro conta que, para a COP do ano passado, no Azerbaijão, o CEBDS recebeu cerca de 80 pedidos de associados para se credenciarem no evento. Neste ano, foram quase 300 solicitações.

Do agro ao petróleo, setor privado realiza COPs dentro da COP

As cidades que recebem as convenções também costumam ter programações paralelas em espaços fora da área oficial, como hotéis e restaurantes. Neste ano, por exemplo, o agronegócio estará reunido em um espaço batizado de AgriZone, dentro da Embrapa em Belém.

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No caso do agro - setor responsável por 29% das emissões brasileiras e ligado às emissões por mudanças do uso da terra, atividades que emitem 42% dos gases poluentes brasileiros -, entidades e empresas estarão da COP-30 com uma programação de palestras em que profissionais falarão principalmente como as práticas brasileiras são mais sustentáveis do que as de outras potências agrícolas.

A AgriZone, espaço para discussões sobre o agronegócio dentro da sede da Embrapa, em Belém.
A AgriZone, espaço para discussões sobre o agronegócio dentro da sede da Embrapa, em Belém.
Foto: Divulgação/ Embrapa / Estadão

Também responsável por grande parte das emissões de gases poluentes, o setor de petróleo participará por meio de empresas como a Petrobras, entidades como o Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) e governos de países cuja economia depende de óleo e gás. "O advocacy é múltiplo. Em Dubai (na COP de 2023), a principal delegação foi a do próprio Emirados Árabes Unidos. Ali havia um lobby forte pelos combustíveis fósseis", acrescenta Romeiro. "Mas ampliar o debate para diferentes atores faz parte do processo", diz ela.

Outro motivo que tem levado empresas às COPs é a possibilidade de levantar recursos para projetos considerados sustentáveis - um movimento tido como crescente entre representantes do setor privado. O Instituto Amazônia 21+ (uma iniciativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) que reúne nove federações das indústrias dos estados da Amazônia Legal), por exemplo, lançará um chamamento para o fundo Travessia. O fundo apoia financeiramente micro e pequenos negócios da bioeconomia amazônica.

Natura, bancos, Nestlé e Vale se unem por visiblidade a soluções climáticas no Brasil

A Natura, por sua vez, vai apresentar Belém seu projeto de produção agroflorestal de óleo de palma (dendê). A intenção é buscar parceiros para escalar a iniciativa e também influenciar outros países a adotarem projetos semelhantes.

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Com tradição em projetos sustentáveis, a Natura vê a COP como uma "oportunidade para mostrar o que faz e contar sua trajetória no Pará", diz a diretora de sustentabilidade da empresa, Angela Pinhati. A companhia trabalha com 11 mil famílias do Estado. De parte delas, compra insumos para produtos cosméticos. "Com nosso trabalho, colaboramos para proteger 2,2 milhões de hectares de florestas. O objetivo é chegar a 3 milhões em 2030. Queremos mostrar isso na COP", diz a executiva.

Durante a cúpula, a Natura terá um ônibus para levar participantes interessados em conhecer associações fornecedoras de, por exemplo, ervas para óleos essenciais.

A Natura também participará da C.A.S.E., uma iniciativa criada em parceria com Bradesco, Itaúsa, Itaú Unibanco, Marcopolo, Nestlé e Vale para dar visibilidade a soluções climáticas existentes no Brasil. O projeto terá uma casa em Belém no qual haverá debates com cientistas e economistas proeminentes no debate climático. Entre eles, a diplomata Christiana Figueres, secretária-executiva da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas entre 2010 e 2016, e a Nobel de Economia Esther Duflo.

Também participante da C.A.S.E., o Bradesco está em COPs desde 2021. Segundo a diretora de sustentabilidade do banco, Fabiana Costa, a instituição financeira começou a participar das cúpulas por entender que o setor ganhou relevância nas discussões sobre financiamento climático. "Participamos das COPs vendo como apoiar e financiar nossos clientes nessa jornada (da transição energética)." Em Belém, além da C.A.S.E., o Bradesco participará de discussões focadas em financiamento climático e negócios sustentáveis na Blue Zone.

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Participante de COPs desde 2009, a Coca-Cola também vê na cúpula a possibilidade de apresentar suas boas práticas e compartilhar experiências e resultados, diz a diretora de sustentabilidade para Brasil e Cone Sul, Katielle Haffner. "O evento proporciona justamente essa possibilidade de conexão e articulação entre diferentes setores, criando o ambiente necessário para que ideias inovadoras se tornem ações de impacto real." A empresa participará de painéis sobre resíduos e uso de água.

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