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China quer retaliar Estados Unidos em US$ 7 bilhões

Roberto Azevedo acredita que voltar aos níveis tarifários existentes antes da criação da OMC significaria ver uma queda do fluxo de comércio em 60%

11 set 2018 - 16h38

GENEBRA - Em mais um capítulo da escalada de tensão entre Washington e Pequim, a China pediu a autorização da Organização Mundial do Comércio para impor retaliações de US$ 7 bilhões contra produtos americanos, em resposta à decisão da Casa Branca de não cumprir um julgamento dos tribunais internacionais que condenaram suas políticas de dumping.

A solicitação ocorre no mesmo dia em que o diretor-geral da entidade, o brasileiro Roberto Azevedo, soou o alerta. "A crise no comércio global é política. Exige uma solução política e precisamos ter uma conversa política sobre a OMC", constatou.

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O brasileiro acredita que voltar aos níveis tarifários existentes antes da criação da OMC significaria ver uma queda do fluxo de comércio em 60%. "Isso significaria um golpe no PIB maior que o que vimos como resultado da crise de 2008, a maior crise que conhecemos em 80 anos", alertou, numa referência à quebra do Lehman Brothers e que abriu um terremoto na economia global.

Seu diagnóstico, portanto, é de que a OMC precisa passar por uma reforma e que, para que isso ocorra, governos terão de se engajar para pensar um novo sistema internacional. "Esse é um momento crucial na maneira pela qual a comunidade internacional pensa o comércio e o sistema. O resultado desse debate poderia moldar o sistema por toda uma geração", constatou.

Enquanto a reforma não vem, porém, a aplicação da retaliação da China sobre os EUA promete causar mais atrito em uma relação já azedada por uma série de troca de farpas e de tarifas entre as duas economias. No caso específico em questão, Pequim alegava que os americanos impunham tarifas antidumping contra produtos eletrônicos e máquinas, além de metais e mineras. As perdas, segundo Pequim, chegaram a ser de US$ 8,4 bilhões.

A OMC acabou dando razão em 2017 para os chineses e ordenou os EUA a retirar as medidas, o que jamais foi realizado. A entidade deu até o dia 22 de agosto para Washington reformar suas práticas. Mas o presidente Donald Trump ignorou a decisão. No mês passado, ele ainda ameaçou deixar a OMC se a entidade não "mudasse".

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Agora, Pequim quer a autorização para aplicar uma retaliação de US$ 7 bilhões para compensar os danos que sofreu. Na prática, os chineses aplicariam tarifas extras sobre determinados produtos americanos.

Enquanto as duas maiores potências comerciais aprofundam a crise, Azevedo deixa claro que a situação é alarmante. "Os desafios encarados pelo sistema comercial são de grande preocupação", disse, num discurso nesta terça-feira em Genebra. "As tensões comerciais estão aumentando", afirmou.

Segundo ele, os dados da OMC apontam que novas barreiras comerciais aplicada sons últimos seis meses cobrem um valor de comércio duas vezes superior aos seis meses anteriores à avaliação. "Isso é extremamente sério. Chame ou não de guerra comercial, certamente os primeiros disparos já foram dados", alertou.

"Uma continuação da escalada ameaça ter um importante impacto econômico", disse, apontando para a destruição de empregos e afetando a taxa de crescimento dos mercados. Segundo ele, os efeitos já estão sendo vistos, com o adiamento de investimentos de multinacionais.

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Azevedo insiste que a OMC continua sendo usado para evitar uma crise ainda maior. Apenas nos nove primeiros meses de 2018, 30 disputas já foram lançadas e trata-se do maior número em 16 anos.

O problema é que, se tal movimento mostra que os governos acreditam no sistema de regras e nos tribunais, o volume de disputas está colocando o mecanismo em risco. Principalmente depois que o governo americano passou a vetar a escolha de novos juízes para o orgão de apelação, uma espécie de Supremo Tribunal do comércio. Na avaliação do brasileiro, tal impasse representa um "grave risco sistêmico", já que poderia paralisar a entidade.

Azevedo, porém, insiste que a crise não é técnica e que apenas uma solução política colocará fim à tensão. O brasileiro acredita que existe uma vontade de líderes internacionais em salvar o sistema e citou, em seu discurso diante de diplomatas, uma série de medidas adotadas pelos governos dos EUA, da Europa, China ou Japão para permitir o diálogo. Segundo ele, há uma constatação de que esses líderes não querem "rasgar as regras".

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