Inspirado em Shrek, o personagem ogro mais famoso dos cinemas e da DreamWorks, o termo ‘shrekking’ viralizou entre a geração Z como um modo de definir uma nova estratégia de relacionamentos. O conceito, no entanto, ultrapassou o universo amoroso, ganhando espaço no mundo corporativo.
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No ambiente de trabalho, a expressão ‘career shrekking’ é conhecida como o modo de um profissional aceitar uma proposta, empresa ou cargo que esteja abaixo de seu real potencial. As razões de adoção dessa prática são diversas, mas costuma aparecer com maior frequência no período de desemprego. Quando estão desempregados, os profissionais tendem a querer a realocação no mercado de trabalho o mais rápido possível, aceitando assim a primeira oportunidade à vista.
Este fato de o profissional aceitar este projeto aquém de suas competências não está relacionado à falta de ambição, mas sim a um comportamento de autoproteção, uma vez que a tendência cria uma a ilusão de a pessoa estar no controle da situação e de se sentir mais seguro em sua carreira, sem a necessidade de ter de lidar com vulnerabilidades futuras.
O fator autoestima também influencia comportamentos que envolvem o risco de rejeição dos profissionais, segundo a pesquisa da revista acadêmica Journal of Personality and Social Psychology. De acordo com os pesquisadores do estudo, as pessoas com perfis mais independentes e com autoestima considerada mais alta são propensas a se arriscar mais no trabalho, enquanto os indivíduos que buscam evitar riscos --assim como ocorre no ‘career shrekking’-- costumam permanecer na zona de conforto. Essa prática, no entanto, embora pareça mais segura, pode sabotar o crescimento e corroer a autoconfiança do profissional.
Além disso, o ‘career shrekking’ carrega consigo uma outra consequência: o rust-out, que acontece quando o indivíduo ao invés de se sentir sobrecarregado no trabalho --como é o caso do burnout--, tende a se sentir enferrujado, e, ainda desperdiçando o seu potencial profissional em algo que não é visto como desafiador. Essa tendência não está restrita a acontecer somente com os profissionais, podendo ainda ser transmitida às empresas. Neste caso, a liderança que não se sente madura para exercer a função tende a preferir realizar a promoção de profissionais considerados mais ‘seguros’, o que pode provocar a sensação de estagnação e de não-evolução, nem da empresa, e nem do indivíduo.
Embora possa ser vista como um escudo contra a rejeição, a prática de ‘career shrekking’ --ou qualquer outra tendência que provoque a sensação de controle dos profissionais-- pode acabar por reforçar inseguranças dos indivíduos, uma vez que eles tendem a acostumar a depender do controle, e não da confiança em suas habilidades profissionais.