Bolsa de Nova York recua 2,7% e afeta desempenho do Ibovespa; dólar sobe a R$ 5,45

Bolsa brasileira chegou a operar no positivo, mas mau humor do mercado americano pesou; por aqui, aumento da cautela frente ao ambiente fiscal também afetou os negócios

21 jan 2022 - 16h41
(atualizado às 19h03)

Afetada pelo forte recuo em Nova York, com queda de até 2,7% para o Nasdaq, e na esteira do aumento da cautela frente ao ambiente fiscal, a Bolsa brasileira (B3) não conseguiu manter o mesmo ritmo do pregão anterior e cedeu 0,15%, aos 108.941,68 pontos nesta sexta-feira, 21. No câmbio, o dólar também voltou a subir e fechou em alta de 0,72%, a R$ 5,4553.

Em várias ocasiões durante o pregão, o Ibovespa operou no positivo e acima dos 109 mil pontos, marca atingida no pregão de ontem. O mau humor vindo do exterior, porém, limitou os ganhos do índice, após três pregões seguidos de alta. Na semana, porém, ele ainda sobe 1,88%. No mês, avança 3,93%.

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"Tivemos hoje um ajuste de fim de semana, com o mercado ainda apresentando performance superior à vista lá fora, refletindo fluxo de gringo que continua a comprar aqui neste começo de ano, o que contribui também para o fortalecimento do real", diz César Mikail, gestor de renda variável da Western Asset.

"O comportamento da semana foi especialmente positivo para Brasil, após ter sido muito descontado em ativos de risco no ano passado, em relação aos preços que se vê fora do país", diz Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group.

Em Nova York, o Dow Jones cedeu 1,30%, o S&P 500, 1,90% e o Nasdaq, 2,72% - o índice tecnológico foi duramente afetado pelo recuo de mais de 20% nos papéis da Netflix, após o balanço divulgado ontem apresentar perspectivas vistas como negativas para a empresa.

Além disso, as pressões inflacionárias seguem preocupando nos Estados Unidos, e a decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) na próxima semana deverá passar a responder pelas atenções. Uma leitura é a de que o mercado já assimilou a perspectiva de três ou quatro altas do juros americanos ao longo deste ano e agora busca retornos em países cujos ativos estavam depreciados, caso do Brasil. A expectativa é que o Fed sinalize a intenção de subir os juros em março no comunicado de sua decisão de política monetária na quarta-feira, 26.

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No cenário local, investidores digeriram hoje a informação de que o governo Jair Bolsonaro negocia uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para zerar tributos (PIS-Cofins) para combustíveis e energia elétrica, aliviando pressões inflacionárias em ano eleitoral. Se a proposta vingar, haveria uma forte perda de arrecadação neste ano, levando a deterioração das contas públicas. Senadores e deputados teriam admitido apoio à PEC, embora classifiquem a medida como eleitoreira, segundo apuração do Estadão/Broadcast.

O estrategista-chefe do Modal Mais, Felipe Sichel, calcula que, segundo o Orçamento anual, a PEC dos combustíveis traria uma perda de arrecadação de R$ 68,6 bilhões, levando o déficit do resultado primário de R$ 79,4 bilhões para R$ 147,6 bilhões. "O movimento intensifica a incerteza fiscal e pode, portanto, levar ao aumento das expectativas de inflação em vértices mais longos", afirma, em nota.

Entre as ações, JHSF subiu 5,80%, Natura, 4,28%, e Locaweb, 4,17%. No lado oposto, IRB cedeu 5,11%, Usiminas, 4,28%, e Gerdau, 4,09%. Entre as ações de grande peso, Vale fechou em baixa de 2,08%, com Petrobras ON e PN levemente no positivo, em alta respectivamente de 0,35% e 0,16%.

Câmbio

Após duas sessões de queda, em que acumulou desvalorização de 2,65% e esboçou fechar abaixo de R$ 5,40, o dólar à vista encerrou o pregão desta sexta em alta firme. Com pares do real entre divisas emergentes, como o peso mexicano e o rand sul-africano, em rota ascendente, o tombo da moeda brasileira hoje foi atribuído a um movimento natural de correção e realização de lucros.

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Apesar do avanço de hoje, a moeda termina a semana com queda de 1,05% e já acumula perdas de 2,16% no mês. A recuperação do real ao longo dos últimos dias foi atribuída a um movimento forte de entrada de recursos de estrangeiros para ativos domésticos, sobretudo ações, e ao desmonte de posições defensivas de investidores estrangeiros no segmento futuro.

Apesar do alívio recente, o head de câmbio da Valor Investimentos, Fernando Giavarina, ressalta que o ambiente ainda é conturbado. Ele lembra que a volatilidade ao longo da semana foi expressiva, com o dólar rodando entre 5,57 e R$ 5,37, considerando as máximas e mínimas intradia.

"Houve fluxo estrangeiro para a Bolsa, mas o cenário ainda continua muito desafiador para a moeda. Temos as questões das eleições internas e a subida de juros no exterior", diz Giavarina. "Podemos ter janelas de oportunidade para o dólar cair mais um pouco, mas é difícil vermos quedas mais significativas nos próximos meses". /LUÍS EDUARDO LEAL, ANTONIO PEREZ E MAIARA SANTIAGO

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