Bancos centrais não podem salvar o mundo das mudanças climáticas, diz BIS

20 jan 2020 - 11h35
(atualizado às 12h08)

Não se pode esperar que os bancos centrais salvem o mundo das mudanças climáticas, disse um novo livro do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) nesta segunda-feira, pedindo uma coordenação global que vá da política do governo à regulação financeira.

REUTERS/Denis Balibouse
REUTERS/Denis Balibouse
Foto: Reuters

O livro alertou sobre os efeitos potencialmente sísmicos das mudanças climáticas sobre o sistema financeiro mundial.

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O número de eventos climáticos extremos quadruplicou nos últimos 40 anos. Apenas 44% das perdas financeiras causadas por esses tipos de eventos estão agora cobertas nos Estados Unidos. Na Ásia, são apenas 8% e na África, apenas 3%.

"Acho que podemos estar à beira de observar algo que pode estar por trás da próxima crise financeira sistêmica", disse a jornalistas Luiz Awazu Pereira da Silva, um dos principais autores do livro, ex-diretor do Banco Central do Brasil.

Se os cenários climáticos mais extremos começarem a acontecer, os bancos centrais, tendo desempenhado um papel vital na crise financeira, podem ser solicitados a intervir como o "salvador climático de último recurso".

"Não há solução mágica", alertou Awazu. "Os bancos centrais não vão salvar o mundo novamente."

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Em uma apresentação sobre o livro, o presidente do banco central da França, François Villeroy de Galhau, acrescentou que a mudança climática precisa fazer parte de todos os modelos econômicos e de previsão.

O livro disse que a regulamentação atual baseada em exigências de capital para os bancos não será capaz de mitigar o efeito catastrófico da mudança climática no sistema financeiro.

Em vez disso, são necessárias novas combinações de políticas, envolvendo governos, bancos centrais e exigências prudenciais ou de capital. Mas isso exigiria uma coordenação internacional sem precedentes num momento em que a estrutura global de finanças está "seriamente comprometida", afirmou o livro.

Os reguladores monitoram os riscos usando dados históricos e suposições que agora são "amplamente irrelevantes para avaliar riscos futuros relacionados ao clima".

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A avaliação dos riscos, portanto, requer uma redefinição da abordagem regulatória, que já começou na comunidade financeira com o desenvolvimento de metodologias de gerenciamento de riscos prospectivas e baseadas em cenários, segundo o livro.

"A mudança climática apresenta desafios sem precedentes para as sociedades humanas, e nossa comunidade de bancos centrais e supervisores não pode se considerar imune aos riscos", afirmou Villeroy de Galhau.

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