Alta no petróleo após ataque a sauditas testa política de preços da Petrobras, diz UBS

16 set 2019 - 10h53
(atualizado às 12h36)

A disparada dos preços do petróleo nesta segunda-feira, na sequência de ataques durante o fim de semana a instalações da Saudi Aramco na Arábia Saudita, será um "teste significativo" para a política de preços da Petrobras para o diesel e a gasolina, disseram analistas do UBS em relatório.

Tanques da Petrobras na refinaria de Paulínia (SP) 
01/07/2017
REUTERS/Paulo Whitaker
Tanques da Petrobras na refinaria de Paulínia (SP) 01/07/2017 REUTERS/Paulo Whitaker
Foto: Reuters

O barril do petróleo Brent, referência internacional, operava em alta de quase 11% na manhã desta segunda-feira, após ter chegado a subir quase 20% mais cedo, antes de os Estados Unidos anunciarem que podem liberar as Reservas Estratégicas de Petróleo caso necessário, aliviando o movimento nas cotações.

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"Um dos maiores dilemas para investidores sobre a Petrobras está relacionado à sua capacidade de seguir as variações internacionais de preço e a volatilidade do câmbio. Nós agora vemos uma situação desafiadora para a companhia, uma vez que esperamos que o petróleo salte e o real potencialmente se deprecie", escreveram os analistas no documento, publicado no domingo.

"Ao longo dos últimos anos, nós temos visto diversos exemplos em que a companhia não foi capaz de seguir os preços internacionais, levando a perdas significativas no negócio de refino. A atual gestão tem conseguido implementar uma estratégia de sucesso até o momento, e esse evento pode ser um importante teste sobre quão sólida é a política (de preços)", acrescentaram.

A política da Petrobras leva em conta os preços internacionais do petróleo e a variação cambial, embora a companhia não trabalhe mais com uma periodicidade definida para os reajustes da gasolina e do diesel, combustível mais utilizado do Brasil, cuja cotação frequentemente causa insatisfação em caminhoneiros.

Em maio do ano passado, altos preços do diesel levaram a uma paralisação histórica de caminhoneiros no Brasil, ainda durante a gestão Michel Temer.

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Neste ano, já no governo Jair Bolsonaro, o presidente chegou a ligar para o CEO da Petrobras, Roberto Castello Branco, para pedir explicações sobre um reajuste do diesel em abril, citando temores de nova greve dos caminhoneiros. Na ocasião, a empresa suspendeu o aumento na cotação, mas garantiu que a política de preços não mudaria.

Os analistas do UBS afirmaram que um forte reajuste da gasolina e do diesel para seguir as cotações internacionais agora "poderia disparar uma reação de outras áreas da economia, como caminhoneiros".

Segundo eles, uma eventual decisão da companhia de segurar os preços domésticos prejudicaria a capacidade do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de vender sua fatia na estatal e geraria desafios também à negociação de refinarias da companhia incluídas no plano de desinvestimentos da estatal.

Procurada, a Petrobras não quis comentar o relatório do UBS.

A companhia iniciou na semana passada processo para venda de quatro refinarias, enquanto outras quatro unidades de refino já haviam sido colocadas no mercado anteriormente.

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Os ataques na Arábia Saudita, no sábado, retiraram de operação 5,7 milhões de barris por dia em capacidade da estatal Saudi Aramco. O grupo Houthi, do Iêmen, assumiu responsabilidade pela ação, mas os Estados Unidos têm culpado o Irã pelo movimento..

A agência de classificação de risco Moody's disse que os efeitos de longo prazo do ataque sobre empresas de petróleo dependerão de quanto tempo durará a menor produção saudita, mas o mercado poderá seguir tenso devido a uma maior percepção de risco.

"O ataque a unidades da Aramco na Arábia Saudita destaca o papel do risco geopolítico sobre os preços do petróleo, o que provavelmente refletirá em um prêmio de risco mesmo após a retomada da produção saudita", disse o diretor-gerente da Moody's, Steve Wood, em nota.

No curtíssimo prazo, haverá alta dos preços, o que favorece produtores e impacta refinadores, acrescentou.

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