'Sou a realidade nua e crua na TV', diz Haonê Thinar, atriz da Globo que teve perna amputada aos oito anos

A artista está no ar como a Pam de Dona de Mim, novela exibida na faixa das 19h

9 out 2025 - 04h59
(atualizado às 08h34)
Resumo
Haonê Thinar, atriz da Globo que teve a perna amputada aos 8 anos, celebrou seu papel como Pam em "Dona de Mim", destacando a importância de representar personagens sem estereótipos e sua trajetória como símbolo de superação e representatividade para pessoas com deficiência.
Haonê Thinar interpreta a Pam em Dona de Mim
Haonê Thinar interpreta a Pam em Dona de Mim
Foto: Manoella Mello/Globo

Após 16 anos como atriz e modelo, Haonê Thinar estreou neste ano na televisão brasileira como Pam de Dona de Mim, novela de Rosane Svartman na faixa das 19h da Globo. Em entrevista ao Terra, a atriz conta que sempre sonhou em conquistar esse espaço, mas não queria ser colocada em um papel cercado por estereótipos, nem que a deficiência fosse o único assunto da sua trama.

"Sempre falei para minha mãe também que queria muito fazer novela, mas não queria o lugar do deficiente coitadinho. Ter a Pamela, que é essa personagem zero estereotipada, é um presente enorme para mim", diz.

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A autora Rosane Svartman convidou Haonê após assisti-la no teatro, na peça Meu Corpo Está Aqui, com um elenco formado inteiramente por pessoas com deficiência. A história de vida de Pam foi construída inspirada na trajetória da própria atriz, que teve a perna amputada aos 8 anos devido a um osteossarcoma, um câncer que surge nos ossos.

Mesmo com pouca idade na época da cirurgia, foi Haonê quem decidiu passar pela amputação. Ela agradece a mãe pela forma como conduziu a doença e a ajudou a não se ver como vítima.

"Quando surgiu o assunto amputação, minha mãe já chegou falando que era isso ou o câncer poderia se espalhar. Ela não escolheu e me deu uma responsabilidade grande. Isso me ajudou a não me ver como vítima. Ela falou: 'Você vai andar sem uma perna, vai trabalhar sem uma perna, vai criar seus filhos sem uma perna, e eu não vou poder fazer nada com isso. Então, você precisa decidir. Desde o início do tratamento, minha mãe me preparou sobre tudo, que eu iria fazer quimioterapia, que meu cabelo iria cair, que eu iria ficar fraca, que teria dias que eu não conseguiria comer, que iria vomitar... Quando tudo é muito claro para você, as decisões difíceis se tornam mais fáceis", relembra.

Haonê chegou a fazer a reabilitação para usar prótese, mas não se adaptou. Ela faz questão de não mascarar a deficiência. "Como não uso prótese, sou a realidade nua e crua na televisão na TV brasileira. Recebo muita mensagem de pessoas amputadas que vêm me parabenizar e falam também da personagem, que é muito legal a personagem não ter o foco na deficiência e mostrar que é como todas as outras, que têm frustração no amor, trabalha e está no meio da galera, faz tudo como qualquer outra pessoa sem deficiência."

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Haonê Thinar interpreta Pam em Dona de Mim
Foto: Manoella Mello/Globo

O papel em Dona de Mim também mudou a maneira como a atriz é abordada por outras pessoas. "A personagem mudou a minha vida. Antes, a abordagem das pessoas era perguntar por que eu não tenho uma perna. Hoje, elas me abordam para me parabenizar. Tirou o foco da deficiência, as pessoas estão me reconhecendo primeiro como pessoa e profissional. Ninguém nunca mais ninguém me abordou perguntando por que que eu não tenho uma perna."

Antes da novela, Haonê Thinar fez diversos trabalhos como modelo, desfilando na São Paulo Fashion Week e na Casa de Criadores. Ela também trabalhou como assombração em um parque de diversões e precisou conciliar a carreira artística com trabalhos CLT, o último deles em uma famosa rede de academias.

Com o trabalho na Globo, a atriz conquistou a estabilidade financeira que nunca teve, mas também precisou lidar com desafios inéditos, como conciliar as longas horas de gravações com a criação dos dois filhos, Felipe Gabriel, de 7 anos, e Lavínia, de 8 meses.

"Vim fazer a novela quando minha filha tinha 20 dias de nascida, tinha 10 dias que tinha tirado os pontos da cesárea. Foi tudo muito cedo, estava no puerpério gravando uma novela com um bebê pequeno em casa. Às vezes, nem eu sei como consigo, mas era um grande sonho que eu queria realizar. Não ia dar bobeira, vou com olheira mesmo, vou sem dormir, às vezes me dá uns picos de stress e exaustão. Trabalho muito e tenho duas crianças em casa, mas acho que tudo acontece no momento que tem que acontecer."

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Haonê se surpreendeu com a rotina intensa da novela, construindo a personagem enquanto a trama avança. Para superar o desafio, contou com o apoio de colegas, principalmente Giovanna Lancellotti, Clara Moneke e Felipe Simas, com quem divide muitas cenas. "Fiquei muito próxima da Giovanna desde o início. Ela é uma pessoa sensacional e dá muitos conselhos quando se aproxima da pessoa. Ela sempre falava para mim: 'Não fica nervosa, você já está aqui fazendo isso'".

Giovanna Lancellotti, Clara Moneke e Haonê Thinar em Dona de Mim
Foto: Manoella Mello/Globo

Uma das cenas mais desafiadoras foi ter que gritar com a personagem Kami (Giovanna Lancellotti), o que trouxe realização por ser algo diferente de sua vida real. Esse momento alimenta o sonho da artista de interpretar uma vilã no futuro.

"Quero muito poder fazer uma vilã porque as pessoas não veem a pessoa com deficiência como alguém mau-caráter. A gente é sempre tratado muito como exemplo de superação, o que é horrível, ou o anjo de candura, pessoas iluminadas", explica. Enquanto isso ainda não acontece, Haonê Thinar está feliz e realizada de poder ser representatividade e ajudar a abrir caminho para outros atores com deficiência.

"O mais gratificante é poder ser espelho para crianças que estão sendo amputadas agora. É para essas pessoas que tomei tanto não, que me ferrei muito, tive muitas portas fechadas e tentei desistir várias vezes. Se eu for a primeira, que não seja a única, mas seja uma de várias que estão por vir. É legal poder abrir esse caminho que não foi aberto para mim, tive que meter o pé mesmo. Que bom que estou aqui, porque posso ser essa representatividade que não tive", conclui Haonê.

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Fonte: Portal Terra
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