Negro, gay e ícone: o adeus ao jornalista André Leon Talley

Americano venceu a pobreza e o racismo para brilhar no topo do mundo da moda

19 jan 2022 - 13h17

Poucos negros chegaram ao topo do jornalismo de moda. André Leon Talley esteve entre as exceções. Nascido em Washington e criado sob o impacto de forte segregação racial, ele se tornou um dos mais importantes editores da ‘Vogue’ americana, a ‘bíblia’ onde rezam todos os profissionais da indústria do vestuário. Morreu na terça-feira (18), aos 73 anos, de problemas cardíacos decorrentes de covid-19. 

Mais do que um jornalista visionário, que batalhou pela diversidade racial nos editoriais de moda das grandes revistas, ele se tornou personagem de si mesmo. Com 2 metros de altura, vestia-se como um rei. Era impossível não notá-lo: gostava de usar capas volumosas sobre os ternos e não tinha medo das cores fortes.

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Imprensa americana destaca o legado de André Leon Talley
Imprensa americana destaca o legado de André Leon Talley
Foto: TV / Reprodução

Atraía todas as câmeras quando chegava aos desfiles e festas. Fazia poses majestosas para fotógrafos e cinegrafistas. Negro e gay, enfrentou duplo preconceito para se firmar em um universo elitista e avesso a ‘intrusos’. Trabalhou com Andy Warhol na revista ‘Interview’ e em outras publicações de prestígio, como ‘W’, ‘Women’s Wear Daily’ e ‘The New York Times’.

Além de escrever bem, era bom também ao verbalizar, como provou ao ser jurado em algumas temporadas do programa ‘America’s Next Top Model’. Fez participações como ele mesmo em ‘Sex And The City’ e ‘Empire’. Apareceu em vários documentários, como ‘The September Issue’ e ‘Valentino: Last Emperor’.

Foi amigo pessoal de Anna Wintour, a editora-chefe da ‘Vogue’ e inspiradora do livro que gerou o filme ‘O Diabo Veste Prada’. Ele foi convidado a atuar no longa, ao lado de Meryl Streep, mas recusou para não comprometer sua relação com Anna. Manteve amizade também com Barack e Michelle Obama – chegou a criar looks para a então primeira-dama dos Estados Unidos.

Talley foi um dos homens mais influentes de seu tempo
Foto: Instagram / Reprodução

Circulou entre presidentes, soberanos e magnatas. Aconselhou modelos e artistas. Foi consultor de grandes estilistas e tradicionais casas de moda. Viveu como sonhou na infância: cercado de luxo e glamour, respeitado e bajulado. Disse não ter tido um grande amor romântico, porém, amou intensamente tudo o que quis.  

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“Não venci por ser bonito, magro ou negro. Venci porque conquistei meus diplomas e fiz minha lição de casa”, disse ao jornal ‘The Guardian’. Ao mesmo tempo, André Leon Talley se orgulhava da contribuição contra o racismo por meio da visibilidade na mídia. “Sou um descendente de escravos que conseguiu sentar na primeira fila dos desfiles.”

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