Sim, "Ainda Estou Aqui" é tudo isso mesmo

Filme é imprescindível para aprender mais sobre o Brasil e tem em Fernanda Torres e Selton Mello duas grandes potências

7 nov 2024 - 19h01
Foto: Divulgação/Sony / Pipoca Moderna

Sensação do cinema nacional e possível representante do Brasil no Oscar caso seja selecionado, "Ainda Estou Aqui" chegou aos cinemas nesta quinta-feira (7) cercado de expectativas. Afinal, que filme é esse que fez Fernanda Torres desistir de interpretar Odete Roittman em "Vale Tudo" e ainda a mostra fazendo drama? O que tem de tão especial um filme ambientado durante a ditadura, período já muito abordado no audiovisual brasileiro? Pois bem, as respostas a essas perguntas não demoram a surgir.

Walter Salles, diretor de "Central do Brasil", constroi sua narrativa no seio de uma família amorosa e de um pai boa gente. Rubens Paiva havia sido deputado, mas foi cassado durante os anos de chumbo. Ainda assim, vê seus filhos e amigos sofrendo os efeitos dos desmandos militares. Apesar do clima tenso da época, se nega a acreditar na gravidade da situação e deixar o Brasil. Segue indo a praia, trabalhando, sendo um pai extremamente carinhoso. Impossível não se apegar ao retrato carismático pintado por Selton Mello. Por isso mesmo, num dia comum, o próprio espectador é pego de surpresa com o momento em que ele é levado por policiais para nunca mais voltar.

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A partir daí, o protagonismo de Fernanda Torres, na pele de uma mulher extremamente digna, elegante e firme entra em ação. Apesar de tudo o que vive, Eunice, sua personagem, não desaba. Vira um pilar de sustentação para os filhos e para manter viva a busca pelo marido. E, nesse sentido, a atuação impecável da atriz ajuda a traçar um paralelo com os dias de hoje.

Ela viu seu marido ser raptado sem explicações. Passou horas de tensão com agentes da repressão dentro de sua casa se apossando de tudo. Foi ela mesma conduzida com uma das filhas para "prestar depoimento" encapuzada, sem saber seu rumo, e colocada numa cela insalubre onde ouvia pessoas sendo torturadas. Viu parte da imprensa ignorar as cobranças pelo paradeiro de Rubens por causa da censura. Ficou sem dinheiro. Se manteve como pode. 

Após assistir a cenas como essas é impossível levar a sério "influenciadores" que insistem na tese de que "vivemos uma ditadura" ou a "censura existe". Literalmente pessoas foram arrancadas de casa sem explicação e nunca mais apareceram. Literalmente foram torturadas com requintes sádicos. E pior: muitos dos algozes nunca foram punidos. Não estamos falando de ficção. Tudo isso aconteceu. Todas essas pessoas existiram e existem.

"Ainda Estou Aqui", baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice e Rubens, é, sim, tudo isso que estão falando. Um filme forte e imprenscindível para quem é se ilude e acha que aqueles eram tempos bons. Um tempo em que famílias eram destruídas pelo estado nunca pode ter sido bom. É fundamental não esquecer do que se passou. Todo brasileiro deveria ir ao cinema aprender mais sobre esse período. E, sim, deem um Oscar para Fernanda Torres! E para Selton Mello! E Walter Salles! E tenho dito.

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Fonte: Fefito Fefito é jornalista, pós-graduado em direção editorial e mestrando em comunicação. Atualmente apresenta o TV Fama, na RedeTV!, além de ser colunista no Terra. As visões do colunista não representam a visão do Terra.
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