A trajetória de Rejane Schumann, hoje com 74 anos, é marcada por contrastes intensos: dos estúdios da TV Globo, onde atuou em novelas consagradas, a um pequeno apartamento em condições precárias em Porto Alegre, onde atualmente vive esquecida, doente e cercada por lixo e solidão. A história veio à tona no início de setembro, quando a ativista da causa animal Deise Falci atendeu, junto da Polícia Civil, a uma denúncia de maus-tratos envolvendo animais em uma residência na capital gaúcha — sem saber que ali encontraria uma ex-atriz da televisão brasileira vivendo em situação crítica.
No local, Deise se deparou com Rejane, visivelmente desorientada, mal cuidada e sem qualquer tipo de acompanhamento médico ou familiar próximo. A ex-atriz, que dividia o espaço com dois gatos, White e Pikachu, demonstrava dificuldades para manter a casa em condições mínimas de higiene. Os cômodos estavam tomados por sacos de lixo, louças acumuladas e restos de comida. A geladeira continha apenas embalagens vazias, sinal evidente de escassez alimentar. Desde então, Rejane tem se alimentado exclusivamente por meio de doações feitas por vizinhos e voluntários sensibilizados com seu estado.
Deise gravou vídeos que viralizaram nas redes sociais, expondo a triste realidade da artista e alertando sobre sua vulnerabilidade. Em um dos registros, Rejane aparece tentando organizar alguns de seus livros e objetos pessoais em meio à desordem. Questionada sobre a situação da casa, ela responde com uma fala desconexa: "Meus livros, tenho que colocar em ordem", tentando manter alguma dignidade em meio ao caos. A ativista também mencionou que, durante uma conversa, a atriz não conseguia se lembrar de uma visita recente da sobrinha, que teria assumido a responsabilidade por ela.
Apesar da desorientação e do ambiente adverso, Rejane ainda demonstra lucidez ao falar sobre o passado. Com brilho nos olhos, ela relembra os anos em que trabalhou como jornalista e atriz. "Fui repórter policial por três anos", contou, com orgulho. Sobre sua carreira artística, cita com clareza algumas das produções de que participou: "Fiz novela no horário das seis, umas três ou quatro. Dancin' Days, Espelho Mágico…", recorda, num momento de conexão com a própria história. "Ela ama contar do passado", observa Deise, emocionada.
A atriz, que nasceu em Canoas, no Rio Grande do Sul, em 1949, teve uma trajetória marcante na televisão, no teatro e na literatura. Formada em Direito e em Artes Cênicas, Rejane ganhou notoriedade nos anos 1970 ao atuar em novelas como O Astro (1970), Dancin' Days (1978), Pai Herói (1979) e Espelho Mágico (1977), produções que marcaram época na teledramaturgia brasileira. Além de seu trabalho nas telas, ela também escreveu livros e atuou como advogada, sendo uma mulher multifacetada e à frente do seu tempo.
Hoje, no entanto, a realidade é dura. Longe dos holofotes, Rejane enfrenta problemas de memória, vive em um ambiente insalubre e conta apenas com a ajuda de poucos conhecidos e ativistas como Deise, que têm lutado por apoio institucional, familiar e médico para a atriz. A situação também levanta um debate delicado sobre o abandono de artistas idosos no Brasil, especialmente aqueles que, mesmo tendo contribuído com a cultura do país, acabam esquecidos com o passar do tempo.
Muitos fãs, ao saberem da situação de Rejane, demonstraram apoio nas redes sociais e se mobilizaram para ajudá-la com doações e mensagens de carinho. A esperança é que, com a exposição do caso, a artista receba a assistência necessária para recuperar sua dignidade e ter um final de vida mais tranquilo — cercada de cuidados, respeito e, quem sabe, novas lembranças felizes.
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