Poucas atrizes tiveram a honra de aparecer na abertura de uma novela da Globo. Entre as privilegiadas, a então novata Mila Moreira, que morreu aos 75 anos na segunda-feira (6), no Rio.
Em 1982, lá estava a jovem atriz na vinheta de ‘Elas por Elas’, ao lado de estrelas veteranas como Eva Wilma, Joana Fomm e Aracy Balabanian. Foi Marlene, uma das coprotagonistas da trama.
Aquele era o terceiro trabalho de Mila, que havia estreado na televisão havia apenas 3 anos, após se destacar no universo da moda e como jurada de programas populares.
Naquela época, modelos só conseguiam espaço na televisão em humorísticos. A beleza física bastava, não se exigia talento dramático. Com Mila foi diferente.
Apadrinhada pelo autor Cassiano Gabus Mendes, ela logo exibiu força cênica associada a seu carisma. Com o tempo, aprimorou a técnica de atuação. Foi precursora entre as modelos que se tornaram atrizes.
No início, percebeu olhares de reprovação nos estúdios. Principalmente de atrizes que se sentiam ameaçadas por sua presença magnética na tela. Mila não se abateu. Abriu caminho a tantas outras que viriam a trocar as passarelas pela TV.
Um de seus personagens mais populares foi Zmirá, a dama de companhia da rainha Valentina (Tereza Rachel) em ‘Que Rei Sou Eu?’, de 1989. Mostrou ‘timing’ de comédia.
Por conta do biotipo, ela foi escalada várias vezes para interpretar mulheres ricas e chiques. Esse estereótipo limitou sua carreira. Merecia ter recebido mais desafios. Não faltava coragem para ousar.
Nos bastidores, Mila era querida pelos colegas de cena, técnicos e produtores. Sempre gentil, sorridente, sem nenhum traço de estrelismo ou frieza.
Discreta, mantinha a vida longe do mundo das fofocas e da ostentação exposta nas redes sociais. Soube envelhecer muito bem: estava em paz com o espelho e exalava alegria de viver.
Psicóloga de formação, foi casada algumas vezes. Não quis ter filhos. Era paulistana, filha de portugueses, mas escolheu viver no Rio de Janeiro. Deixa incontáveis amigos e fãs. Aplausos.