Existe algo profundamente irônico em um filme sobre inteligência artificial que parece ter sido montado por um algoritmo preguiçoso. Tron: Ares acaba de estrear carregando o peso de uma franquia que ajudou a definir a estética digital no cinema e, acima de tudo, a responsabilidade de dizer algo relevante sobre IA justamente agora, quando o tema domina cada conversa sobre tecnologia. Mas o que Joachim Rønning entrega é tão genérico, tão calculadamente inofensivo, que é difícil acreditar que alguém realmente se importou com o que estava fazendo aqui.
O filme acompanha Ares (Jared Leto), um programa sofisticado enviado do mundo digital para o real numa missão perigosa que marca o primeiro contato da humanidade com seres de IA. A premissa praticamente se vende sozinha: é Pinóquio e Ex Machina dentro de um universo neon. Deveria funcionar. Mas Rønning e o roteirista Jesse Wigutow parecem ter tido medo de arriscar qualquer coisa, optando pelo caminho mais seguro possível — que coincidentemente é também o mais entediante.
A decisão mais desconcertante de Tron: Ares é passar tempo demais fora da Grade. Aquele universo digital deslumbrante, com suas cidades de luz e geometrias impossíveis, fica relegado a uns poucos minutos iniciais antes do filme migrar para nosso mundo cinzento e desinteressante.
O filme está mais interessado em preparar sequências do que em justificar sua própria existência. Ele termina com o gancho óbvio para Tron 4, mas é difícil imaginar alguém de fato empolgado em revisitar esse universo depois dessa experiência morna.
Rønning tem talento técnico. Isso é claro. Mas falta visão, coragem, algo para dizer. Tron: Ares é cinema por obrigação, não por necessidade criativa. Para os fãs nostálgicos, há referências para sorrisos aqui e ali. A trilha sonora é realmente boa. Mas como experiência cinematográfica, Tron: Ares será esquecido depois de amanhã.