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Lázaro Ramos investiga mistério em 'O Silêncio da Chuva'

Com estreia nesta quinta (23), filme de Daniel Filho é adaptação da série de livros do escritor Luiz Alfredo Garcia-Roza

23 set 2021 - 10h00

As investigações do delegado Espinosa, um tipo de Sherlock Holmes brasileiro, ganham agora as telonas com O Silêncio da Chuva, longa de Daniel Filho que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (23). O filme é baseado nos romances de ficção policial do escritor carioca Luiz Alfredo Garcia-Roza, em especial no livro homônimo de 1996, vencedor dos prêmios Jabuti e Nestlé de literatura.

Lázaro Ramos e Thalita Carauta interpretam investigadores de polícia em O Silêncio da Chuva
Lázaro Ramos e Thalita Carauta interpretam investigadores de polícia em O Silêncio da Chuva
Foto: Divulgação/Globo Filmes

Para adaptar a obra para as telas, Daniel Filho e o roteirista Lusa Silvestre trouxeram a história do romântico Bairro Peixoto da década de 90 para o Rio de Janeiro hostil e chuvoso de 2018, adicionando temáticas como machismo, racismo e assédio sexual. “O livro é uma inspiração. Fizemos adaptações no roteiro, afinal, muita coisa mudou nestes 22 anos. A participação de mulheres na polícia é um exemplo”, afirma o diretor.

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No thriller, Espinosa (Lázaro Ramos) e a investigadora Daia (Thalita Carauta) tentam desvendar a morte misteriosa do executivo Ricardo (Guilherme Fontes), que é encontrado baleado sentado ao volante de seu carro. Ao longo da trama, outras mortes e desaparecimentos adicionam novas camadas de suspense à história. O elenco conta ainda com Cláudia Abreu, Mayana Neiva, Otávio Muller, Pedro Nercessian, Késia Estacio, Bruno Gissoni e Peter Brandão, com participação especial de Anselmo Vasconcellos.

O Terra conversou com o diretor e o roteirista do filme sobre os desafios da adaptação, a seleção dos atores e o desenvolvimento do roteiro. Confira a entrevista completa:

Terra: Como surgiu essa ideia de adaptar o livro de Luiz Alfredo Garcia-Roza para o cinema? Quais foram os maiores desafios de trazer essa adaptação para a realidade brasileira?

Daniel Filho: Quis comprar os direitos desde que o livro foi lançado. Há 12 anos tive a possibilidade de ter os direitos para as filmagens. No livro, a história era passada em 1996, e muitas coisas mudaram até hoje. Por exemplo: hoje em dia é muito difícil não ter uma câmera gravando. No livro, a morte do personagem Ricardo acontece no estacionamento do Menezes Cortes, no Centro do Rio. Fui até lá e atualmente não há um ponto cego, sem nenhuma câmera. Outro ponto é que seria muito custoso fazer um filme passado há 25 anos, e não tínhamos este investimento. Também mexemos na estrutura, aumentando o potencial das mulheres. Foram mudanças necessárias. 

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Trama mostra investigação da morte de um empresário no Rio de Janeiro
Foto: Divulgação/Globo Filmes

T: Como foi feita a seleção dos atores?

D: Eu já estava trabalhando com o Lázaro em outros projetos (ele atuou no meu filme “Sorria, você Está Sendo Filmado”, e sou o produtor do primeiro filme dele na direção, “Medida Provisória”). Quando pensamos em ter um Espinosa negro, já imaginei o Lázaro. Há diversos outros ótimos atores, mas eu já tinha essa cumplicidade com o Lázaro. E ele formou uma bela dupla com a Thalita Carauta, uma atriz extraordinária. Guilherme Fontes e Anselmo Vasconcellos fizeram participações especiais, e tenho um carinho enorme por eles, grandes atores. Também quis trazer a Claudia Abreu, já que tínhamos trabalhado juntos em outros projetos, como “A Vida Como ela é”. 

T: Vocês trouxeram muita diversidade para o elenco, com o delegado negro e uma policial mulher. Qual a importância de atualizar a obra para os dias atuais? 

D: Como o filme se passa atualmente, foi fundamental atualizar a obra. E quando falamos em atualizações, não falamos apenas na direção de arte, no figurino... Precisamos também atualizar os personagens. 

Lázaro Ramos vive o famoso detetive Espinosa, consagrado na obra de Luiz Alfredo Garcia-Roza
Foto: Divulgação/Globo Filmes

T: É um filme policial, mas ao mesmo tempo com muitas características do humor - especialmente com a personagem Daia. Qual a diferença de trazer esse toque para um filme de suspense/mistério?

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Lusa Silvestre (roteirista): A vida desce melhor com bom humor – ainda mais nos dias de hoje. E estamos falando do Rio de Janeiro, uma cidade linda que inspira energia boa. Os cariocas são naturalmente bem-humorados. Além disso, o humor traz cor local para o universo do filme policial. Não vale a pena ser uma imitação do que os americanos fazem, por exemplo – mais rígidos dentro do gênero. Nós somos engraçados, e temos que ter um cinema com a nossa cara. Nosso noir é solar, mesmo quando chove.

Os personagens precisam ser verdadeiros e tem muita gente que prefere ser leve do que cinzenta. Por que não ter uma investigadora como a Daia, se na vida real existe gente assim? O importante é que ela não é só isso, não é só graça. A Daia tem um monte de camadas, e quem for ver o filme vai notar essa complexidade humana.

Por fim, a gente buscava um entretenimento de qualidade, e o humor ajuda nesse diálogo com a plateia. Às vezes, tudo que o público quer é se divertir, num escapismo saudável. Imagino que o público goste de, no meio de um monte de tensão, passar por um alívio. De cruel, basta o dia a dia.

Mayana Neiva é Rose, secretária e amante do falecido Ricardo (Guilherme Fontes)
Foto: Divulgação/Globo Filmes

T: As personagens femininas são mulheres muito fortes. Como foi a construção dessas personalidades?

L: Uma das essências do Daniel é a presença feminina poderosa. Aí a construção veio buscando personalidades verdadeiras, com questões atuais legítimas - saindo de convenções clichês e tentando entender o que cada mulher no filme quer e representa. Não poderíamos só ter um elenco feminino para cumprir tabela e aparecer no pôster. 

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O desenho das personagens femininas teve a contribuição indispensável da Renata Correa e da Ana Maria Moretzsohn no desenvolvimento. A gente ia pondo um tijolinho a mais a cada tratamento. E, claro, as atrizes também puseram o seu olhar. O que Thalita Carauta, Claudia Abreu e Mayana Neiva trouxeram foi valiosíssimo. Tive o privilégio de acompanhar no set o que elas faziam. Cada vez que uma delas entrava para rodar o estúdio silenciava em respeito, sem ninguém precisar pedir.

T: O delegado Espinosa precisa lidar com muitos comentários hostis sobre seu sobrenome e a sua raça. Por que trazer também esse debate?

L: Porque é atual, porque é necessário, e principalmente porque é verdadeiro. As coisas que o Espinosa ouve acontecem mesmo, e temos que falar disso. É fato: o preconceito existe. O cinema brasileiro fica melhor quando mostra nossas questões mais dolorosas. Nosso desafio é ter isso sem ficar panfletário – “O Silêncio da Chuva” é entretenimento, mas carrega questões incontornáveis para o Brasil atual. 

T: O filme também traz uma discussão importante no que diz respeito ao assédio sexual, que infelizmente ainda é muito comum. Por que trazer essa mensagem para o público?

L: Trouxemos essa mensagem exatamente porque ainda é muito comum – como você mesmo disse. É estrutural, e se a gente colocar sempre que der um holofote bem feito, sem ser dogmático e chato, ajudamos. Não podemos normatizar o que é condenável. Vamos respeitar as mina.

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Fonte: Redação Terra
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