Com todas as dificuldades que o cinema brasileiro vem atravessando, era bem respeitável a lista de filmes que se candidataram a ser o representante do Brasil na disputa por uma vaga na categoria melhor produção internacional no Oscar 2022.
Entre eles, estavam Meu Nome é Bagdá, de Caru Alves de Souza, e A Última Floresta, de Luiz Bolognesi e Davi Kopenawa, ambos premiados no Festival de Berlim, A Nuvem Rosa, de Iuli Gerbase, exibido em Sundance, Carro Rei, de Renata Pinheiro, apresentado em Roterdã, e 7 Prisioneiros, de Alexandre Moratto, e Deserto Particular, de Aly Muritiba, que passaram em Veneza.
7 Prisioneiros, que depois da exibição na nova seção Horizontes Extra em Veneza foi para o Festival de Toronto, teve mais repercussão internacional, com críticas em veículos como Variety, Indiewire, The Hollywood Reporter, Deadline, Screen International. O filme, um thriller dramático, tem como produtores o americano Ramin Bahrani e o brasileiro Fernando Meirelles, e é da Netflix. Sócrates (2018), longa anterior de Moratto, que é baseado nos Estados Unidos, chegou a concorrer a prêmios no Film Independent Spirit Awards.
A história sobre o adolescente Mateus (Christian Malheiros), que é contratado para trabalhar no ferro-velho tocado por Luca (Rodrigo Santoro), em condições análogas à escravidão, era, portanto, a escolha mais óbvia. E é um bom filme, tenso, revoltante, que mostra a complexidade das redes de exploração de seres humanos e das "escolhas" impostas aos menos favorecidos no Brasil.
Mas a Academia Brasileira de Cinema preferiu eleger o belo Deserto Particular, de Aly Muritiba, que ganhou o prêmio do público na Venice Days - Jornadas dos Autores, mostra paralela de Veneza. O filme, presente na 45ª Mostra a partir da quarta-feira (20) e com estreia previstas nos cinemas para novembro, é um melodrama que combate a divisão, a intolerância, o ódio com amor.
Em comunicado, o diretor de Ferrugem e Para Minha Amada Morta disse que a escolha era um sinal da Academia Brasileira. "É um recado de crença no cinema e de crença no poder transformador do amor, da tolerância, do encontro. Fico muito feliz de ter essa responsabilidade de levar para os membros da Academia norte-americana de Cinema uma outra visão, uma visão distinta de Brasil. Um Brasil mais tolerante, amável."
É sempre uma batalha para um filme brasileiro em uma categoria que costuma ter os vencedores de Cannes, Veneza, Berlim - a França vai de Titane, de Julia Ducournau, a Palma de Ouro deste ano. Para Deserto Particular, que tem alguma exposição em um festival de peso, algo fundamental para os candidatos na categoria, ainda mais. O longa não tem ainda um distribuidor internacional que possa investir pesado na divulgação. Mas sem dúvida é uma seleção ideal para contrapor a atual imagem do Brasil lá fora.
É uma aposta no coração. E talvez seja isso que, depois desses últimos anos tão difíceis, os membros da Academia estejam procurando.