Criação animal: carne, leite e ovos orgânicos são a solução?

Diferente do que muita gente acredita, a produção de carne, leite e ovos orgânicos não é a solução para acabarmos com a exploração animal

5 jul 2022 - 05h00
(atualizado às 10h40)
Foto: CanvaPro

A criação de animais para consumo é uma prática antiga. Com o crescimento populacional, avanço econômico, industrialização, urbanização, a criação e a comercialização de animais se intensificou drasticamente, aumentando consideravelmente a exploração animal.

Hoje, bilhões de animais são aprisionados e vivem uma vida programada e medíocre sendo tratados como objetos em fazendas industriais. O nível de exploração é sem precedentes.

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Então seria a produção orgânica a solução? Para continuarmos com esse consumo, o ideal seria a criação de animais em sistemas livres, preservando o bem-estar, sem termos que explorar os animais como na grande indústria?

A resposta é não. Os animais são seres sencientes, o que significa que conseguem sentir tudo como nós humanos, então, independente da forma como são tratados, usá-los para fins lucrativos é questionável.

A ideia de manter animais sob controle humano para benefício da nossa espécie, sem a necessidade real de sobrevivência, é uma prática especista. A produção animal de forma ‘orgânica’, como os ovos, por exemplo, não passa de sofrimento velado, onde a exploração dos animais é maquiada por uma estética de fazenda feliz e bem estar.

O 'selo orgânico' muitas vezes só é utilizado para reforçar uma imagem positiva de uma fazenda que de feliz não tem nada. 

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É muito comum confundirmos exploração com violência física, mas exploração é a prática de se beneficiar de um ser vulnerável e mantê-lo sob nosso controle, como se fosse uma propriedade, esse controle pode até ocorrer mais ‘’livremente’’ (orgânico) do que é na indústria, mas ainda assim existe exploração animal, sofrimento e a necessidade de mantê-los presos e impedidos de exercer suas necessidades mais básicas. 

A comercialização orgânica é uma forma de reforçar o consumo de animais, partindo da ideia de que se os animais forem bem tratados, forem criados livres, tiverem uma vida de liberdade, mesmo que presos como propriedade humana, é válido o consumo. 

Além de os animais continuarem sendo usados para nos servir, a produção de carne, ovos e leite de forma orgânica exige mais recursos que a produção convencional. Dessa forma, os produtos seriam muito mais caros do que já são.

Por outro lado, não podemos confundir comercialização de orgânico com a criação de animais para consumo próprio, ou a caça e a pesca pela sobrevivência. Sobrevivência difere de apropriação, posse, aprisionamento, instalação industrial, abatedouros, granjas, descarte de animais vivos e geração de lucros.

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Os nossos avós, os povos indígenas, povos ribeirinhos, quilombolas, vila de pescadores, estão cercados por diversas questões culturais, territoriais, sociais, além das questões de sobrevivência. Portanto, esse não é o foco da luta pela libertação animal.

Contudo, é importante pontuar que existe um dilema: se uma pessoa é vegana e seus avós criam galinhas e vacas, seria errado consumir? De uma perspectiva ética antiespecista, sim, pois a pessoa compreende não haver a necessidade desse consumo. Ao nosso ver, quando já temos informação, alternativas e compreendemos o especismo, tal prática é incoerente.

Precisamos abordar a questão da exploração animal, sempre pensando na perspectiva animal, o que realmente seria melhor para eles. A produção orgânica seria mais benéfica para nós, mas o quanto os animais ganhariam, de fato, com isso? Não é uma troca justa. Por isso, lutamos pelo fim da exploração, utilização indevida e apropriação de animais.

Temos uma vasta diversidade de alimentos naturais, como frutas, vegetais riquíssimos em nutrientes, grãos, cereais e legumes. Infinitas possibilidades de pratos e preparos, não há necessidade alguma de utilizar da exploração de animais para tal finalidade. Não precisamos criar animais para consumo. Sem contar o impacto ambiental que esse consumo acarreta.

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Se liga:

A luta pelo fim da exploração animal deve vir carregada de recortes, compreensão cultural, socioeconômica, política, financeira, e, sobretudo, com o pé na realidade, sem sensacionalismo, preconceito e ignorância. 

Você sabe o que é especismo?

Ainda vamos fazer uma publicação referente a esse termo, mas a princípio o Especismo é o ponto de vista de que uma espécie, no caso a humana, tem todo o direito de explorar, escravizar e matar as demais espécies de animais por considerá-las inferiores. O termo foi criado e é usado principalmente por defensores dos direitos animais para se referir à discriminação que envolve atribuir a animais sencientes diferentes valores e direitos baseados na sua espécie, nomeadamente quanto ao direito de propriedade ou posse. (Wikipédia)

Fontes: Ritchie, H. Impactos ambientais da produção de alimentos. OWID.

Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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