Com conceito e 'groove' renovados, Edcity retoma lançamentos

Reconhecido pelo sucesso das letras sobre a favela, no estilo pagode baiano, cantor Edcity retoma lançamentos, com “Pegada de Malvadão”

25 mai 2022 - 05h00
 Foto de divulgação do single “Pegada de Malvadão”, do cantor Edcity
Foto de divulgação do single “Pegada de Malvadão”, do cantor Edcity
Foto: (Créditos: Lane Silva)

“Sou filho de preto, quero respeito, quem mora no gueto não é ladrão”. Essa letra ritmou uma geração que canta, até hoje, a representatividade negra e da favela através das músicas do cantor Edcity. E após mais de 10 anos, desde o lançamento desta música memorável, “Conceito”, o artista retoma os lançamentos com “Pegada de Malvadão'', lançada na última sexta-feira (20/05).

Diretamente da Travessa Santa Rita, em Catu, interior da Bahia, Edcity já soma mais de 25 anos de carreira e fez outros sucessos como “Kuduro”, “Nego bom” e “Tome baculejo”. 

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“Eu tenho uma frase que diz assim: ‘vai segurando esse legado, eu sou Edcity, o verdadeiro groove arrastado’. E o groove arrastado se caracteriza, além da parte instrumental, nessas questões sociais sobre negritude, desigualdade, preconceito, resiliência e fé. Minha história e minhas músicas são inerentes a essa realidade das periferias”, afirmou Edcity.

O artista passou por mais de 10 bandas, quando chegou no Parangolé e lançou seus primeiros sucessos. Mas, a consagração veio com a formação da sua banda “Fantasmão”, com uma identidade visual inusitada, usando mortalhas e o rosto pintado e um conceito musical único: o Groove Arrastado.

“Quem não?”. Essa foi a resposta da artista Rool Cerqueira, 24 anos, do bairro de Cajazeiras, periferia de Salvador, ao ser questionada se admirava o trabalho de Edcity. Para ela, a música de Edcity foi como um dos primeiros livros que teve acesso. "Pois, falava sobre raça, estética preta,  consciência negra, sobre levante e resgate da periferia, eu era muito jovem quando Fantasmão tava na pista e Fantasmão e Edcity construía junto comigo minha identidade”, disse Rool. 

Já a instrutora de treinamento, Ludmilla Borges, 34 anos, da periferia de Sussuarana, em Salvador, sem pensar muito, o descreveu como um músico diferenciado e resgatou uma lembrança antiga, mas marcante na sua experiência:

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“Nunca me esqueço de uma entrevista que ele deu numa rádio e o cara falou que os presos escutavam as músicas dele… E ele respondeu: "presos não, pessoas em privação de liberdade", contou Ludmilla, com tom de orgulho.  

E complementou: “O movimento trazido por Ed foi algo bem singular e muito marcante. A identidade visual, composição das letras sempre com fortes críticas sociais, o estilo groove arrastado, eram elementos muito próprios e inconfundíveis. Foi um marco na história do pagode baiano, sem dúvidas. Saudades dessa época”.

Novo lançamento: “Pegada de Malvadão”

Não é RAP, nem samba. A nova música de Edcity, “Pegada de Malvadão”, é para quem se joga no pagodão sexta-feira de madrugada, mas também nas trends do Tik-Tok. O lançamento está disponível em todas as plataformas de música. Assim como o videoclipe, em seu canal do Youtube.

Foto de divulgação do single “Pegada de Malvadão”, do cantor Edcity
Foto: (Créditos: Lane Silva)

Sobre o novo estilo explorado nesse lançamento, Edcity afirma que apesar da sua essência e identidade musical, é necessário “acompanhar a atualidade, pois tem um público mais antigo, mas também tem um público que vai se renovando e é preciso seguir essas tendências”, disse ele. 

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No entanto, para o admirador da banda Fantasmão e publicitário, Tiago Rodriguez, 26 anos, morador de Pernambués, o lançamento não correspondeu ao que ele esperava desse retorno do artista.

“Esperava que ele viesse com uma leitura da realidade, como ele trazia antes. Ele veio com uma pegada muito mais comercial, e eu entendo a necessidade de vir nessa pegada, tentando trazer um hit para fazer virar, mas a identidade tanto da voz quanto do posicionamento dele comunica muito mais com o que ele cantava antes, falando sobre a realidade”, analisou Tiago. 

O publicitário considerou ainda, como muito relevante o protagonismo de pessoas pretas no clipe. “Trazer esse posicionamento em um clipe é muito interessante, é sobre contar outras histórias nas entrelinhas. Mas, senti uma falta muito grande de letra. Sobre a composição audiovisual está muito bem feita e produzida”, concluiu. 

A expectativa de Ludmilla, também, é que a linha de trabalho de Ed com as músicas de protesto se mantenha. “Sei e entendo que muitas mudanças aconteceram ao longo do tempo, mas que além de alegria e swing continue trazendo reflexão pro nosso povo”, desejou Ludmilla. 

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E quanto a isso, Edcity garantiu novos lançamentos conectados com a realidade das periferias, cantando a verdade, pois como ele mesmo disse: "músicas verdadeiras nunca são passageiras”. 

“Com certeza, podem aguardar novas músicas com letras de protesto [...] Posso trilhar por várias vertentes musicais, mas jamais perderei minha essência. E quero falar sobre superação, é importante mostrar que é possível vencer mesmo quando tudo parece perdido”, concluiu Ed. 

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