Mizuneira: o restaurador de tênis que bombou no Instagram

Reformando calçados da marca Mizuno, Eduardo Oliveira levantou mais de 100 mil seguidores na rede social e uma fila de clientes interessados

29 jul 2022 - 05h00
(atualizado em 18/10/2022 às 19h09)
Mizuneira começou a trabalhar como restaurador de tênis em 2020
Mizuneira começou a trabalhar como restaurador de tênis em 2020
Foto: Arquivo pessoal

Em 2011, quando o salário mínimo no Brasil ainda era de R$ 545, a marca japonesa Mizuno lançou um tênis que viraria febre nas periferias de São Paulo. Era o Mizuno Wave Prophecy, que custava aproximadamente R$ 900 e ficou conhecido nas quebradas como “Mizuno de mil”.

O calçado ganhou outras versões ao longo dos anos e foi parar nas letras de funk ostentação, como a música “Tá Bombando, é!” (2013), do MC Kevinho, que diz: “hoje eu tô pesado de ostentação, eu tô de Mizuno e tô com vários cordão”.

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Os tênis da marca viraram “relíquias” nas periferias e quem conseguia comprar o pisante, não queria parar de usá-lo, mesmo quando ele começava a apresentar algum defeito.

A procura por pessoas que pudessem restaurá-los foi aumentando, mas não havia especialistas nesse tipo de conserto. Não, pelo menos, até que Eduardo Oliveira, 24, o Mizuneira, começasse a trabalhar com isso.

“Surgiu uma demanda muito grande porque não tinha quem arrumasse esses tênis”, conta ele, que ficou conhecido por restaurar os calçados da marca e hoje tem mais de 106 mil seguidores no Instagram.

Morador de Diadema, na Grande São Paulo, Mizuneira começou com as restaurações em 2020, durante a pandemia de Covid-19. “Estava passando por uma dificuldade financeira e a única coisa que tinha para fazer era vender aquele Minuzo de mil”, lembra.

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Antes de vender o calçado comprado em 2014, no entanto, ele achou melhor reformá-lo. A restauração  valorizou o pisante. “Estava valendo uns R$ 200 [antes da reforma] e fiz ele valer R$ 800”, conta.

Foi quando ele percebeu que havia ali um modelo de negócio e decidiu abrir a Mizuneira Restaurações, empresa voltada para a reforma dos tênis.

O empreendedor passou a comprar produtos antigos para consertá-los, apostando no mercado vintage e nos colecionadores da quebrada. Com o tempo, foi sendo procurado por moradores de várias regiões de São Paulo, que hoje fazem fila para garantir uma vaga com ele.

A empresa faz desde a troca de solas até a reforma de costuras. Os tênis antigos ganham vida nova e se valorizam no mercado de trocas.

As restaurações mudaram a vida de Mizuneira, que ganhou uma renda fixa. O negócio conta agora com quatro funcionários: ele, a esposa (que cuida das redes sociais e da parte administrativa) e mais dois auxiliares. O trabalho como sapateiro rendeu também frutos inesperados, como os alunos de sapataria. 

Pouco tempo depois de postar as primeiras imagens das restaurações no Instagram, ele recebeu uma mensagem na rede social: “Mano, você já dá curso desse trampo que você faz? Porque se você der o curso, quero ser o primeiro a adquirir”.

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Ele decidiu apoiar o jovem e passou a ensinar as técnicas do trabalho como sapateiro especialista em tênis para interessados. O primeiro curso foi vendido por R$ 200. Agora quem quer aprender mais sobre as técnicas do restaurador, precisa desembolsar R$ 2.000. O investimento alto, segundo ele, vale a pena.

O último aluno, do interior de São Paulo, foi o que mais lhe surpreendeu quando falou sobre o retorno financeiro das aulas. “Em um mês, o cara fez R$ 7.000. Será que valeu a pena ter investido R$ 2.000 no curso?”, questiona Eduardo orgulhoso. Os alunos são chamados de “Família Mizuneira”. 

O empreendedor conta que os sapateiros convencionais muitas vezes não gostam de reformar tênis e que ainda há espaço de mercado para novos profissionais. “Não existe profissionalização nessa parte”, afirma. 

A Mizuneira não tem nenhum patrocínio por parte da criadora do “Mizuno de mil”. Apesar do nome, ele agora trabalha também com a reforma de outras marcas, como a Adidas.

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