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Como lógica de assinaturas de OnlyFans e Twitch está cansando influencers

Assinaturas têm sido adotado por redes sociais diversas. Criadores dizem trabalhar bastante, mas esperam ampliar renda com novo modelo

15 ago 2022 - 05h00
(atualizado em 16/8/2022 às 19h41)
No sistema de assinaturas, fãs podem assinar os canais por preços mais baixos até os mais altos ou pagar com doações
No sistema de assinaturas, fãs podem assinar os canais por preços mais baixos até os mais altos ou pagar com doações
Foto: Higor Hanschen / Unsplash

Plataformas de produção de conteúdo começam a apostar em um modelo de assinaturas para que o público acompanhe seus criadores. Alguns exemplos já em funcionamento são a Twitch, o OnlyFans e o clube de assinaturas do YouTube. Outras redes sociais, como Instagram e TikTok, já testam suas versões para assinantes. 

O formato funciona assim: espectadores que acompanham um influenciador pagam por conteúdos exclusivos. Os fãs podem assinar os canais por preços diversos ou pagar com doações.

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Se o formato pode ser uma fonte de renda mais eficaz para alguns, é possivel que muitos criadores que já trabalham há anos sob grande carga mental se sintam mais afetados pelo novo negócio, segundo fontes ouvidas pelo Terra Byte.

Como funcionam os modelos de assinaturas digitais de influenciadores?

O Instagram, rede social mais recente dessa tendência, aderiu em julho depois de alguns meses de testes. O valor de cada assinatura será definido pelo criador e poderá variar entre US$ 0,99 e US$ 99,00 (cerca de R$ 5 a R$ 500). O recurso ainda não chegou oficialmente ao Brasil, por isso ainda não sabemos os valores nacionais.

Haverá postagens e Reels exclusivos para quem paga. Os assinantes ganharão um selo roxo ao lado do nome, que ajudarão o influenciador a identificá-lo nos comentários e em lives para que recebam uma atenção maior em relação aos não pagantes. O criador pode ainda abrir chats em grupo com até 30 assinantes. O conteúdo exclusivo ainda precisa seguir as diretrizes do Instagram, portanto nudez está vetada.

A plataforma de streamers Twitch é uma da pioneiras no formato, com um programa de afiliados dede 2017. A assinatura custava R$ 22,99, mas em julho do ano passado, os valores passaram a ser de no mínimo R$ 7,90. O serviço leva 50% dos lucros, enquanto os streamers ficavam com os outros 50%, mas essas regras podem mudar de acordo com o tamanho do influenciador. Se for muito popular, a Twitch pode ficar com até 70% dos valores.

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Já o TikTok, se chegar a confirmar o modelo, deve seguir o mesmo caminho para lives, com uma arrecadação de 30% a 50% sobre o total. A iniciativa foi anunciada em maio e nesta fase inicial, apenas alguns produtores de conteúdo foram selecionados para participar dos testes.

No OnlyFans, que pratica o modelo desde o seu inicio, em 2016, os valores variam entre US$ 4,99 a US$ 50 (R$ 25 a R$ 252). A plataforma de conteúdo adulto retém 20%, e os outros 80% dos ganhos vão para o criador. Já o YouTube tem cobrado entre R$ 7,99 e R$ 19,99 por mês, mas os preços das assinaturas variam de acordo com o país ou plataforma usada (PC, Android ou iOS, por exemplo).

Até mesmo o Facebook usa o modelo — e desde 2020. Quem apoia um criador com dinheiro na rede social recebe uma notificação quando ele publica conteúdo exclusivo. A plataforma paga o criador uma vez por mês depois de atingir o saldo mínimo de US$ 100 (R$ 504).

Alexandre Lemos, do canal Anarquia, da Twitch
Foto: Acervo pessoal

Influenciadores sob pressão

As assinaturas podem tanto representar uma oportunidade quanto uma nova dor de cabeça para os criadores. Críticas já surgem pelo menos desde julho do ano passado. À época, influenciadores da Twitch se manifestaram contra uma redução dos valores e repasses da arrecadação. Um dos pontos criticados é que a monetização dos canais ocorre pelo volume no número de inscritos, o que prejudica criadores iniciantes.

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O influenciador de games Matheus "Picoca" Tavares, à época, foi um dos insatisfeitos. Seu canal, que já contava com mais de 500 mil seguidores na plataforma, perdeu receita com a nova política. Ele iniciou uma movimentação chamada “Sindicato dos streamers” para reivindicar uma revisão das políticas de preços. Já a conta Apagão da Twitch foi criada no Twitter e hoje conta com mais de 2.000 seguidores.

O streamer Vini Lima, do canal eitaViniLima, contou a Byte que trabalha tanto como assessor de imprensa na área de games quanto como streamer, o que faz com que trabalhe de 12 a 14 horas diárias. “Tive um pico de estresse muito grande. Volta e meia, dependendo do jogo ou de como foi a live anterior, a ansiedade sempre bate, por conta da preocupação se o conteúdo vai ser bom, se vai dar público, se vai melhorar”, conta.

Ele comenta ainda sobre as políticas da Twitch: “A plataforma, com suas mudanças, não incentiva de forma justa os criadores, não oferece meios de divulgação, e ainda dificulta, cada vez mais, a criação de conteúdo. O repasse para propagandas pode ser bom, mas atrapalha, e muito, a fluidez do conteúdo”.

Alexandre Lemos, do canal Anarquia, diz que financeiramente compensa ser um streamer: ele diz ganhar "muito mais" que um professor no Brasil, trabalhando menos. Porém, conta que “definitivamente a ansiedade foi agravada”. “Lidar com baixa audiência, flutuações na renda, mudança de público... Tudo isso foi muito complicado pra mim. Eu começava a me questionar se eu realmente era bom nisso”, explica.

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Felipe "Goldenboy", jornalista e streamer de games, também critica o repasse da Twitch sobre anúncios exibidos nos canais. "Elas pagam pouquíssimo, e a plataforma quer colocar ainda mais durante a transmissão. Eu mesmo já peguei um intervalo de seis propagandas seguidas, e não dá para pular".

Sobre o modelo de assinaturas, ele acredita ser interessante para diversificar as fontes de receita. "Não podemos depender apenas de subs [inscritos na Twitch] ou bits [remunerações de fãs] para pagar os nossos boletos básicos. A Twitch fica com a maior parte desses valores. A sugestão é diversificar seu conteúdo, entender do que seu público gosta e como eles estão dispostos a ajudá-lo."

Streamer Vini Lima critica modelo de monetização da Twitch
Foto: Acervo pessoal

O que dizem as plataformas sobre assinaturas

TikTok e Onlyfans disseram que não atenderiam ao pedido da reportagem. Já o Twitch pediu mais dias para oferecer sua resposta. Esta reportagem será atualizada quando a empresa puder colaborar.

O Instagram e o Facebook enviaram uma resposta conjunta — ambas pertencem ao mesmo grupo, a Meta. Disseram que o teste do recurso Subscriptions está disponível apenas para criadores nos Estados Unidos, mas espera "disponibilizar para mais mercados em breve". Disse que a Meta não cobra por esses serviços nem fica com uma porcentagem do valor recebido. As duas plataformas não responderam sobre o impacto dessas formas de monetização nos criadores.

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O que dizem especialistas sobre o assunto

Issaaf Karhawi, pesquisadora em comunicação digital na USP, acredita que a possibilidade de assinaturas surge em um momento em que o trabalho dos influenciadores é ditado pelas redes sociais. "Muitos criadores têm como única renda plataformas sobre as quais eles não têm qualquer tipo de controle ou possibilidade de negociação.(...) Entao elas ditam o tipo do trabalho dos influenciadores, a forma que esse trabalho tem que ser feito", aponta.

Para ela, no entanto, o peso das assinaturas muda um pouco o jogo: o conteúdo deixa de seguir apenas a lógica da rede social e passa a depender do gosto da audiência do influenciador. "Acho que isso vai mudar a cara do conteúdo, que pode passar a ser cada vez mais sob medida pra as audiências e não sob medida pra as plataformas", defende

Anna Bentes, analista acadêmica sênior do Data Privacy Brasil, diz que "à primeira vista, o modelo pode ser uma alternativa para que os influenciadores não fiquem tão sujeitos às variações de critérios de pagamento e entrega do algoritmo da plataforma, fidelizando o seu público próprio" e acredita que isso pode melhorar o conteúdo.

Para Anna, no entanto, não é certo que a mudança será melhor para os usuários, caso os dados deles continuem sendo extraídos e reutilizados para direcionamento publicitário. "O que não pode é as plataformas continuarem monetizando os nossos dados da mesma forma nos serviços gratuitos e nos pagos".

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Fonte: Redação Byte
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