Rastreadores colocados em mariposas revelam incrível jornada de migração

Cientistas alemães conseguiram colocar rastreadores em 14 mariposas-caveira, revelando incríveis habilidades de voo e uma migração em linha reta

15 ago 2022 - 17h36
(atualizado às 20h00)

Ao colocar rastreadores nas costas de mariposas, cientistas revelaram a trajetória que esses animais fazem em suas migrações, e elas são mais impressionantes do que se imaginava. Todos os anos, trilhões de insetos migram pelo mundo, levando pólen e nutrientes através de continentes, viajando na casa dos milhares de quilômetros.

A crença vigente era de que essas migrações eram feitas com base apenas no vento, seguindo seu fluxo para onde quer que soprasse. O novo estudo, publicado na revista Science, alinha-se com outras evidências de que os insetos são, na realidade, ótimos navegadores, escolhendo condições de viagem favoráveis e se adaptando ao mau tempo quando necessário.

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Foto: Christian Ziegler/Max Planck Institute of Animal Behaviour / Canaltech

O voo das mariposas

Liderada por cientistas do Instituto Max Planck de Comportamento Animal, da Alemanha, a pesquisa acompanhou o voo de borboletas-caveira (Acherontia atropos), grandes mariposas que parecem ter um crânio desenhado em seu dorso, e mostrou que elas conseguem manter um curso surpreendentemente linear.

Anteriormente, o conhecimento sobre migrações de insetos vinha de estudos populacionais e genéticos, medindo taxas de isótopos no tecido, por exemplo — o que nos informa sobre sua dieta e de onde bebem água, mostrando de onde vêm —, além de observações diretas por radar. Os caminhos que tomavam, no entanto, eram difíceis de se estudar, já que são pequenos, mas se juntam em grupos impossíveis de acompanhar.

Agora, a tecnologia permitiu instalar transmissores a rádio extremamente pequenos nos animais, pesando menos de 0,3 gramas. As borboletas-caveira são bem conhecidas na Europa, mas não é sabido onde passam o inverno: aparecendo no continente europeu de maio a junho, na primavera local, acredita-se que elas vão até o Mediterrâneo ou norte da África de agosto a outubro, no outono, talvez até mesmo chegando ao Saara.

É provável que a espécie não consiga passar o inverno nos Alpes Suíços, fugindo do frio e da escassez de recursos trazida por ele. No estudo, os pesquisadores acompanharam 14 indivíduos por 4 horas cada, um voo longo o suficiente para ser considerado migratório. Acompanhando os insetos com os transmissores, estava um avião com antenas receptoras, detectando a localização precisa das mariposas a cada 15 minutos.

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Estudos anteriores já haviam acompanhado a migração de insetos diurnos, mas nunca noturnos, como nesse caso, ou nessa resolução. É a distância de voo de um inseto mais longa a ser acompanhada em campo. Chegando a voar por quase 90 km nos casos mais distantes, as mariposas-caveira conseguem manter uma linha reta de forma incrível, se adaptando ao vento muito habilidosamente.

Quando estão a favor do vento, os animais se deixam levar pela corrente até seu destino, mexendo a cabeça levemente para controlar a trajetória. Contra o vento e na diagonal a ele, as mariposas voam mais perto do chão, encarando diretamente o vento e ajustando a direção para evitar sair do caminho, também aumentando a velocidade para ganhar mais controle. Isso indica que a espécie tem um mecanismo de bússola bem sofisticado.

Para a ciência, mostrar que os insetos navegam tão bem quanto pássaros é importante, já que nos ajudará a prever melhor suas migrações, manejar melhor espécies ameaçadas e espécies consideradas pestes na agricultura, trazendo benefícios à indústria. O próximo passo aos cientistas é descobrir como as mariposas se mantém em linha reta: campo magnético da Terra? Indicações visuais? Futuras pesquisas dirão.

Fonte: Science

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