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Após descoberta, cresce temor de contágio da varíola do macaco via animais

França registra primeiro caso de contaminação de um cachorro, a partir de seus donos, pela varíola dos macacos

17 ago 2022 - 16h04
(atualizado às 16h42)
Ciência teria registrado primeiro caso de varíola do macaco transmitido de homem para animal
Ciência teria registrado primeiro caso de varíola do macaco transmitido de homem para animal
Foto: Freepik

A notícia sobre o primeiro caso registrado na França de um cachorro infectado pela varíola dos macacos, contraindo a doença de seus donos, acende mais um sinal de alerta para o surto mundial.

O relato foi publicado na quarta-feira passada (10), na revista científica "The Lancet", indicando que o pet desenvolveu as lesões 12 dias depois de seus donos. Os estudos identificaram o vírus geneticamente igual ao dos humanos que convivem com o animal.

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Para Gonzalo Vecina, médico e ex-diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), entre 1999 e 2003, à medida em que são criados repositórios em animais para o vírus, aumenta a probabilidade de existirem novas cadeias de infecção.

“A ideia a partir dos primeiros casos da doença era isolar os infectados para contaminar o menor número de pessoas, conter a transmissão até finalizar o processo e erradicar, mas isso não ocorreu e chegamos ao quadro atual”, relata o médico.

Descoberta sobre varíola requer atenção

Jamal Suleiman, médico infectologista do Hospital Emílio Ribas, afirma que a descoberta documenta mais uma vez o vínculo de transmissão entre mamíferos, deixando-os vulneráveis à infecção.

“Ao ter reservatórios em outros animais, principalmente em pets, podemos perpetuar e ampliar o número de vetores para transmitir a doença, não só entre humanos, mas destes para animais e vice-versa, constituindo um risco adicional”, adverte Suleiman.

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De acordo com Vecina, diante desse fato, fica a expectativa de que os pets tenham dificuldade de passar a doença para outros animais. Também ressalta a importância de criarmos meios para isolar os bichos com sintomas para controlar a disseminação.

Origem e transmissão da varíola dos macacos

O nome monkeypox se origina da descoberta inicial do vírus em macacos, em 1958, em um laboratório dinamarquês. De acordo com informações da Fundação Oswaldo Cruz, o primeiro caso humano foi identificado em 1970, em uma criança do Congo, e, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a maioria dos animais suscetíveis a este tipo de varíola são roedores, como ratos e cães-da-pradaria. 

A Fundação declarou ser a primeira vez que muitos casos de monkeypox são relatados simultaneamente em diferentes países, mas que a mortalidade permanece baixa. 

A transmissão de humano para humano ocorre por meio de contato físico próximo ou direto com lesões infecciosas ou úlceras mucocutâneas (envolvendo mucosa e pele), inclusive durante a atividade sexual, gotículas ou contato com materiais contaminados.

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Isolar infectados da varíola dos macacos foi a primeira estratégia para erradicar surto, mas não foi suficiente, diz infectologista
Foto: Imagem: Reprodução/Agência Brasil / Alma Preta

Sintomas e riscos da monkeypox

Entre os sintomas mais comuns estão febre, dor de cabeça intensa, dores musculares, dor nas costas, fraqueza, gânglios linfáticos inchados e erupção ou lesões cutâneas. As irritações na pele (exantemas) geralmente começam de um a três dias após o início da febre.

Vecina ressalta que não existem grupos mais ou menos sujeitos à contaminação, pois qualquer pessoa, em qualquer faixa etária, pode contrair o vírus e a varíola. A atenção fica por conta das pessoas com sistema imunológico mais fragilizado, decorrente de outras complicações de saúde, que ficam mais suscetíveis a desenvolver formas graves da doença.

Para o médico, é urgente que o governo aumente a capacidade de fazer diagnósticos sobre a doença para colocar as pessoas em quarentena o quanto antes. Além disso, é fundamental agilizar os processos para importar as vacinas e o remédio para o tratamento, que não são produzidos no Brasil.

“É importante ter o remédio para ajudar a proteger os mais frágeis. São eles que se beneficiam dessa medicação”, explicou Vecina, ao citar que o Brasil ainda articula a aquisição de doses de vacina e do tecovirimat (remédio para a varíola) com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

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A questão da vacinação no Brasil

Suleiman considera necessário ter estratégia para imunizar a população em camadas, da mesma forma que em outras doenças, identificando os mais vulneráveis, principalmente por não haver no Brasil insumos disponíveis em larga escala.

Sobre a eficácia da vacina que o país aplicou na população até a década de 1980 para o atual surto de varíola, Vecina diz que não é possível ter certeza sobre o tipo de proteção que ela confere para a monkeypox, mas que é bem provável que proteja em algum grau.

“Eu entendo que a probabilidade de a vacina que eu tomei lá na década de 1970 me proteger hoje seja grande. Veja a vacina para o sarampo. É tomada na infância e é perene. Tivemos todo um esforço para vacinar contra a febre amarela de dez em dez anos e hoje sabemos que não são necessárias doses de reforço. São descobertas”, pontua Vecina.

Para Suleiman, é preciso reforçar e orientar a população brasileira sobre a forma de transmissão para evitar a contaminação. “Não temos vacinas nem remédios, sendo importante adotar estratégias não farmacológicas e com isso minimizar os impactos pelas infecções”, conclui.

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Fonte: Redação Byte
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