Controvérsias nucleares

A imposição de sanções contra o Irã por conta de seu programa internacional gera inconvenientes. Com a dificuldade de importação, preços de alimentos, combustível e bens de consumo têm subido muito. Dados divulgados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) chegam a citar deflação entre 2009 e o começo de 2011. (A agência oficial iraniana coloca o nível atual da inflação em cerca de 17% ao ano.)

Qualquer pessoa que tenha estado no país nos últimos anos sabe que o nível inflacionário no país é bem maior. “Atualmente é praticamente impossível fazer uma refeição simples em um restaurante ou café de Teerã por menos de US$10”, conta a estudante de turismo Bahamin Amiri, 24 anos. “Há pouco mais de um ano atrás um lanche rápido similar custaria menos da metade disso”, explica.

A moeda nacional, o Rial Iraniano (IRR), tem se desvalorizado continuamente frente às demais moedas internacionais. Pelo câmbio oficial o dólar, que em 2006 valia cerca de IRR 7 mil, vale atualmente IRR 11 mil. No mercado negro, este valor chega facilmente a IRR 15 mil.

Mesmo a gasolina tem atingido valores altos, já que o país, apesar de ser um dos maiores produtores de petróleo, praticamente não refina o produto e tem de reimportá-lo.

Tudo isso torna bastante difícil a vida da população iraniana, que tem visto seu poder de compra reduzido e benefícios públicos cancelados. Os salários mantêm-se congelados e não acompanham a inflação real, já que para o governo interessa a imagem de que as sanções internacionais não têm surtido efeito no país.

Publicamente, os iranianos não discutem o programa nuclear e as decisões do regime por medo de represálias. Mas, a portas fechadas, o debate e a controvérsia é tão grande quanto em outras partes do planeta.

“Por que não deveríamos ter direito a seguir em frente com nosso programa nuclear?”, indaga Reza Javaherian, taxista de 32 anos de Teerã, mas originário de Tabriz, cidade que sedia um dos principais centros de pesquisa nuclear do programa iraniano. “É absurdo que somente alguns países possam dominar esta tecnologia e que queiram nos punir e proibir nosso direito

de acesso a ela”, diz.

O engenheiro eletrônico Navid Zamaani, da cidade de Isfahan, próxima a qual fica uma central de conversão nuclear, tem uma visão diferente. “Por que esconder o programa nuclear e criar tantos empecilhos? Está muito claro para a maioria da população iraniana que o regime tem segundas intenções e busca obter armas nucleares. Muitos de nós veem isto como algo bom, que nos colocaria em pé de igualdade com Israel e os EUA, mas a maioria dos iranianos vê isto como outra loucura de um regime insano e antidemocrático”, diz.

Em Shiraz, a poucas horas de Bushehr, onde um dos principais reatores do complexo nuclear iraniano está sediado, a lojista Ashrafa, que não quis revelar seu sobrenome, é completamente contra qualquer coisa que se relacione ao programa nuclear. “É um grande absurdo persistirmos neste delírio nuclear e continuarmos nos isolando graças a um regime que não tem qualquer consideração pela população. Mal temos dinheiro para qualquer coisa, os preços estão subindo e não há clientes nas lojas. Tudo isso para quê?”, indaga.

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