Mesquitas vazias

O estereótipo iraniano de mulheres cobertas dos pés à cabeça em um xador (típica vestimenta islâmica na qual um véu negro cobre todo o corpo da mulher deixando apenas seu rosto à mostra) torna muito fácil crer que a maioria absoluta da população do país segue à risca os preceitos religiosos da vertente xiita do Islã, que predomina no país.

Realmente há muitas mulheres usando o xador nas ruas do país. Elas vêm principalmente de famílias tradicionais ou de pequenas cidades no interior do país. Símbolos religiosos, mesquitas e pequenos alcorões estão por todas as partes, e é possível ver pinturas e fotografias de Meca, a cidade mais sagrada para os muçulmanos.

No entanto, bastam algumas horas caminhando pelo centro da capital do país para perceber que também é comum ver moças vestindo calças jeans, camisas e até ternos pelas ruas de Teerã – sempre com um véu ou xale cobrindo os cabelos, como mandam a tradição e as leis do país islâmico.

Apesar do Irã ser controlado por um autoritário regime teocrático, ao longo dos últimos anos o governo vem flexibilizando o rigor com que impõe e monitora algumas tradições muçulmanas.

Há poucos anos atrás seria impensável ver homens vestindo camisas de mangas curtas no país, quando a milícia Bashid, ligada à Guarda Revolucionária, fiscalizava com rigor o quão cobertas estavam as mulheres que usavam apenas o véu ao invés do xador.

Ao contrário do que ocorre na Arábia Saudita, no entanto, o governo iraniano não coloca em prática leis que forçam os cidadãos a fecharem lojas e escritórios e dirigirem-se às mesquitas cinco vezes ao dia (ou quatro vezes, na tradição xiita). Isso faz toda a diferença: o fato de o governo iraniano não forçar seus cidadãos a comparecer às mesquitas torna muito fácil perceber quanto da população do país realmente é religiosa.

Se as mesquitas de Teerã ou Isfahan forem tomadas como exemplo, a conclusão óbvia é que a religiosidade do país persa vem declinando exponencialmente nos últimos anos. A mesquita Imam Khomeini, a mais importante de Teerã, na região central da capital, próxima ao bazar, fica praticamente vazia nos horários de prece durante a semana.

Às sextas-feiras, quando geralmente o imã realiza um sermão de cunho político-religioso, ou autoridades comparecem à mesquita, o número de fiéis é exponencialmente maior.

Ainda assim, é um pouco desconcertante perceber que os presentes são bem menos numerosos do que as imagens geralmente transmitidas ao exterior fazem crer.

Mesmo no santuário e mesquita onde o líder da Revolução Islâmica, o Aiatolá Ruhollah Khomeini, está enterrado, a maior parte da movimentação que se verifica é de peregrinos pró-Revolução, que vêm ao local mais para prestar seus tributos ao falecido líder do país que propriamente para rezar. A situação se repete por todo o país – mesquitas importantes na Universidade de Teerã, em Isfahan e em Shiraz veem pouco movimento.

A exceção são mesmo as mesquitas da cidade sagrada de Qom, onde os futuros líderes religiosos do país estudam em madrassas e Universidades Teológicas.

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