Desafios ao jornalismo

Realizar reportagens independentes e com integridade jornalística não é tarefa das mais simples no Irã. O primeiro grande obstáculo é enfrentar a burocracia e obter um visto de imprensa para o país – um processo que não só é tedioso como pode facilmente levar mais de 90 dias.

Além do grande volume de documentos normalmente exigidos na obtenção de vistos, os iranianos fazem questão de checar o histórico do jornalista para ter certeza de que o mesmo não representa um risco de “propagação de material contra o regime”. Os iranianos geralmente negam vistos a jornalistas que já estiveram ou reportaram a partir de Israel. Muitas vezes é necessária também a intervenção em Teerã da embaixada do país de cidadania do repórter para solicitar a aprovação do visto ao Ministério da Cultura do Irã.

Após inúmeros trâmites, e caso o visto seja concedido, o jornalista recebe autorização máxima de estada de apenas 10 dias (é praticamente impossível conseguir uma extensão na primeira visita) sob a condição de registrar sua entrada junto ao Ministério da Orientação Islâmica (MOI) logo após o desembarque.

O pequeno detalhe, frequentemente não mencionado pelas embaixadas iranianas, é que o registro junto ao MOI exige que o jornalista seja acompanhado 24 horas por um “intérprete-guia” aprovado pelo governo e fornecido por uma de somente três agências privadas de “serviços à imprensa estrangeira”.

O intérprete é responsável por submeter ao MOI um itinerário completo para cada dia de estada do jornalista, além de uma lista com os nomes das pessoas que o repórter pretende entrevistar. O órgão governamental, por sua vez, decide se aprova ou não os nomes e poder sugerir que certas pessoas sejam entrevistadas. O jornalista não pode movimentar-se sem a presença do intérprete, desviar do roteiro pré-aprovado ou conversar com qualquer pessoa que não conste na lista prévia.

Para piorar, o “serviço” realizado pelas agências terceirizadas tem um alto custo, e o jornalista deve bancar ainda a estadia, transporte e alimentação do intérprete – os valores variam dependendo do roteiro, mas costumam girar entre US$250 a US$1.000 por dia – além de taxas e impostos cobrados como extra. Não respeitar qualquer uma dessas regras torna o jornalista passível de prisão e deportação, além de colocar as pessoas entrevistadas ilegalmente sob severo risco.

Uma alternativa às vezes buscada por alguns profissionais que sabem de antemão que não terão seus vistos de imprensa e planos de trabalho aprovados é entrar no país com visto de turismo, mas esta atitude por vezes tem consequências desastrosas. Em 2010. dois jornalistas alemães que entraram no Irã como turistas foram presos enquanto tentavam entrevistar o advogado e o filho de Sakineh Ashtiani, presa sob acusação de adultério e sentenciada à morte por apedrejamento.

Os alemães passaram quatro meses em uma prisão local e foram soltos e deportados somente após o governo alemão concordar em pagar uma multa de US$50 mil para cada um dos repórteres. O filho de Sakineh também passou meses na prisão e só foi solto depois do pagamento de fiança de valor não revelado.

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